1608 – SOBRE PAULO APÓSTOLO
Confesso minha gigantesca admiração pelo apóstolo Paulo, o consagrado Bandeirante dos Gentios. Para mim, a segunda pessoa mais importante dos primeiros tempos da Era Cristã, depois do Senhor Jesus, Nosso Irmão Libertador, o maior revolucionário de todos os tempos.
Com o nome de Saulo, dedicou-se jovem à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus, na região de Jerusalém. De acordo com o relato da Bíblia, durante uma viagem entre Jerusalém e Damasco, numa missão para prender mais cristãos, teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficando de pronto cego. Com a visão recuperada, após três dias, por Ananias, que também o batizou, principiou a pregar o Cristianismo. Juntamente com Simão Pedro e Tiago, o Justo, ele foi um dos mais proeminentes líderes do nascente cristianismo. Era também cidadão romano, o que lhe conferia uma situação muito privilegiada.
A questão de sua cidadania romana gera certa curiosidade até hoje, embora Paulo afirme. em Atos 22,28 ser romano “de nascimento“. Tal declaração parece indicar que o apóstolo herdou essa posição de seu pai.
Treze epístolas no Novo Testamento são atribuídas a Paulo, mas a sua autoria em sete delas é contestada por estudiosos modernos. A interpretação de Martinho Lutero das obras de Paulo influenciou fortemente o Reformador em sua doutrina sola fide.
Com suas atividades missionárias e obras, Paulo acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo. Sua liderança, influência e legado levaram à formação de comunidades dominadas por grupos gentios que adoravam o Deus de Israel, aderiam ao código moral judaico, mas abandonavam o ritual e as obrigações alimentares da Lei Mosaica.
A principal fonte para informações históricas sobre a vida de Paulo são as pistas encontradas em suas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Os Atos recontam a carreira de Paulo, mas deixam de fora diversas partes de sua vida, como a sua alegada execução em Roma.
Em “Atos dos Apóstolos”, Paulo afirma ter nascido em Tarso, na província de Mersin, parte meridional da Turquia central, e faz breves menções à sua família. É ali também que o apóstolo confessa que «assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.» (Atos 8:3).
Nos versículos iniciais da Epístola aos Romanos, Paulo nos dá uma litania de sua própria alegação apostólica e de suas convicções pós-conversão sobre a ressurreição de Cristo.
A teologia de Paulo sobre o evangelho acelerou a separação da seita messiânica dos cristãos do judaísmo, algo que Paulo não desejava. Ele escreveu que somente a fé em Cristo (como Messias) era suficiente e decisiva para a salvação, tanto de judeus quanto de gentios, tornando o cisma entre os cristãos e os judeus não só inevitável, mas permanente. Ele argumentava que os gentios convertidos não precisavam se tornar judeus nem serem circuncidados, nem tampouco seguirem as leis alimentares, embora em Romanos ele insistisse numa visão positiva do valor da Lei Mosaica como um guia moral.
A influência de Paulo no pensamento cristão é possivelmente a mais importante dentre todos os outros autores do Novo Testamento. Paulo declarava que sua fé em Cristo tornava a Torá desnecessária para a salvação, exaltando a igreja cristã como sendo o corpo de Cristo e mostrando que o mundo fora da igreja, estava sob julgamento.
No Oriente, os padres da Igreja reduziram a eleição divina presente em Romanos 9 à onisciência de Deus e o tema da predestinação presente na teologia ocidental não aparece na oriental.
As obras fundamentais de Agostinho sobre a “boa nova” como um presente (graça), tanto sobre a moralidade quanto a vida no Espírito, sobre a predestinação e sobre o pecado original se baseiam todas em Paulo, especialmente na Epístola aos Romanos.
Aprimoam-se muito, atualmente, as análises das Cartas Paulinas.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social