1601 – O LEGADO DE FRANCISCO
O Colégio Cardinalício elegeu o sucessor do Papa Francisco para o comando da Igreja Católica, o Papa Leão XIV. Embora não mais católico, agora cristão espiritista, desejo ao novo pontífice uma atenção bem redobrada nos balizamentos deixados pelo primeiro Papa jesuíta, também latino-americano, que seguramente alicerçou um novo Cristianismo para os próximos futuros. Encareceria com toda sinceridade fraterna ao eleito uma leitura serena dos ensinamentos deixados por Francisco em sua autobiografia intitulada ESPERANÇA, lançada este ano pela Editora Fontanar. Ela contém uma famosa advertência do Apóstolo Paulo, feita na primeira carta endereçada aos Coríntios 1,13. Sintetizando: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como o bronze que soa, posto que sem amor nada serei, pois nada disso valerá.”
Da autobiografia de Francisco explicito, abaixo, algumas orientações deixadas pelo saudoso Papa, pedindo ao eleito que assimile-as convincentemente, favorecendo o caminhar de uma instituição cristã que necessitar voltar a encantar os quatro cantos do mundo, abominando pedofilias, celibatos compulsórios, preconceitos contra as mulheres, intolerâncias contra alguns gêneros, fundamentalismos superados, evangelizando com mais sinodalidade (termo usado pelo sucessor de Francisco) através de pontes e diálogos interinstitucionais, respeitadas todas as crenças praticadas por todos os seres humanos, posto que todos são legítimos filhos de um mesmo Pai. Eis as mais significativas, na minha opinião de simples caminhante:
a. “Confundir unidade e uniformidade é uma tentação diabólica. A unidade não é um simulacro de integração forçada nem de marginalização harmonizada: é uma diversidade reconciliada.”
b. “Construir pontes, não muros. Toda atividade social genuina combate o obscurantismo da separação e do preconceito e favorece a cultura do encontro, que corresponde à qualidade mais íntima e profunda do nosso ser, orientando naturalmente para a relação, a interação, a descoberta do outro.”
c. “Se tenho ainda hoje uma preocupação é o de ser infiel. Porque sei que o Senhor me ofereceu muitas oportunidades de fazer o bem e receio não ter conseguido fazê-lo sempre. Mas é um sentimento sereno, não angustiante”
d. “Ao longo da existência também tive momentos de crise, de vazio, de pecado, períodos de mundanidade. E o Senhor conseguiu me livrar deles. Sobrevivi e continuei a caminhar.”
e. “O diálogo entre judeus e cristãos deve ser mais que um diálogo inter-religioso; é um diálogo familiar. Estamos ligados uns aos outros perante o único Deus, e somos chamados a testemunhar com nossa conduta Seu amor e Sua paz.”
f. “A esperança é também uma menina espirituosa. Sabe que o humor e o sorriso são os fermentos da existência e os melhores instrumentos para enfrentar as dificuldades, até mesmo as cruzes com resiliência.”
g. “Há uma nostalgia positiva, que nada tem de lamuriosa nem de resignada; ao contrário, que caminha, olha para a frente, enfrenta as dificuldades e avança, mantendo vivo um vínculo visceral com sua própria raiz.”
Que o Papa Leão XIV, agostiniano de formação, leia, assimile com fé no Pai Eterno as reflexões do saudoso Papa Francisco, em sua autobiografia acima citada, potencializando-se para uma nova era de Evangelização Inclusiva, onde todos possam seguir racionalmente em frente, todos podendo ter vida plena e abundante, conforme promessa específicas d’ELE.
Fernando Antônio Gonçalves é professor universitário e pesquisador social