1581 – CANALHICES, CORRUÇÕES E COVARDIAS
Fico a imaginar como será o ambiente planetário nos próximos decênios, se persistirem os atuais sinais de degenerescências sociais, climáticas e econômicas. Com elites que apenas contemplam seus próprios umbigos, mandatários nada democráticos, devastações preocupante, péssima redistribuição de renda, conflitos bélicos, fome e desnutrição, além de pandemias e tráfico de drogas, analfabetizações funcionais, tudo distanciado quilômetros de uma IA – Inteligência Artificial adotada apenas por uma minoria. E a função social da Economia sendo arquivada no baú do esquecimento. Para não falar, aqui e agora, de uma espiritualidade cada vez mais voltada para um individualismo eu-e-Ele inconveniente e consumista, com fingimentos mil e inúmeras patetadas nos canais de tv.
Nos quatro cantos do planeta parece inexistir, nos atuais mandatários, um mínimo sentimento de sobrevivência terrestre, onde Humanismo parece um ideário de muitos passados, a pertinência do cristianismo propositadamente camuflada por uma contemporaneidade que apenas finge ser possuidora de crença solidária, com a Torre de Babel sendo história da carochinha contada para boi dormir.
Preocupa-me o não senso crítico de uma juventude, hoje atenta apenas aos seus celulares, desligada dos acontecimentos nada positivos que acontecem pelo mundo afora, lendo pouco, pensando nada e amplamente voltada para interesses exclusivamente imediatistas, sem um mínimo de solidariedade para com os desassistidos do mundo, desconhecendo até sobre os amanhãs autofágicos que vitimarão todos, gregos e troianos, abastados e dependentes.
Muito gostaria de ver, nas escolas, ambientes religiosos, sindicatos, quartéis e organizações não governamentais, um amplo DCS – Debate Cidadania Solidária, após a leitura dos seguintes pequenos notáveis livros:
a. O GRANDE CONFRONTO: COMO A CEGUEIRA E A CORRUPÇÃO DAS ELITES EUROPEIAS PROMOVERAM A GUERRA DE PUTIN CONTRA NOSSAS DEMOCRACIAS, Raphael Glucksmann, São Paulo, Editora Vestígio, 2023, 156 p. O próprio jornal francês Le Figaro revela: “Estamos em uma época de guerra e bipolaridade. Podemos ter desejado um ‘relacionamento estratégico’ com Moscou, mas a Rússia, que invadiu a Polônia em 24 de fevereiro de 2022, está travando uma guerra híbrida contra nós, o Ocidente, cujo fim ela jurou, apostando em nossas fraquezas internas, conforme relatado no livro presente.”
b. RESGATANDO A FUNÇÃO SOCIAL DA ECONOMIA: UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE HUMANA, Ladislau Dowbor, São Paulo, Editora Elefante, 2022, 176 p. E o testemunho é do pesquisador Thomas Piketty, autor do livro Uma breve história da igualdade: “A desigualdade é antes de tudo uma construção social, histórica e política”.
c. O DEUS ESCONDIDO: A PERTINÊNCIA DO CRISTIANISMO NO MUNDO ATUAL, Mario França Miranda, Petrópolis RJ, Vozes, 2023, 97 p. Segundo o autor, “a história da Humanidade nos ensina que noções mais abrangentes para explicar a complexa realidade enfrentada pelo ser humano acabam por dominar e ‘engolir’ outras mais limitadas.” Uma pergunta sempre presente: Pode o Cristianismo se fazer ainda universal?
Findando, desejando bons debates, ressalte-se aqui o pensar do teólogo Leonardo Boff: “Quem tem Deus nos lábios e está longe da sensibilidade humana e da justiça mínima está longe de Deus, e seu deus é, antes, um ídolo, e não o Deus amante da vida e da ternura dos oprimidos.”
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social