1579 – SOBRE AS PASSAGENS


Recebemos com imenso pesar, Rejane e eu, o falecimento de uma amiga querida, parente direta de minha filha Ana Carolina. Uma profissional ouro de lei, ex-professora da FCAP, da Universidade de Pernambuco, companheira de trabalho docente e pessoa muito estimada na comunidade acadêmica.

Diante das perplexidades causadas pela repentina partida de uma pessoa de nossa relação, resolvi reler um livro que muito esclarece e fortalece mentes e corações, tornando-se indispensável: A MORTE NA VISÃO DO ESPIRITISMO, Alexandre Caldini Neto, Rio de Janeiro, Editora Sextante, 2017, 224 p. Páginas que acalentam, sempre orientando.

Segundo Caldini, todos os espiritistas acreditam que são seres essencialmente espíritos, cada um com inteligência, entendimento, discernimento e caráter próprios, conjunturalmente inseridos em invólucros materiais, a percorrerem caminhos evolucionários, se aprimorando intelectual e moralmente, sempre direcionados para um futuro de Luz Infinita.

Para entender a passagem de um ser humano, urge ver a vida como algo muito maior que apenas um período que vai desde o nascimento até a partida para outros mundos, sempre aprimorando-se para novas etapas de incorporação existencial.

Explicando melhor: quando cria seus Espíritos, o Criador os dota simples e sem qualquer conhecimento, a cada um proporcionando um corpo como abrigo, onde se iniciará uma vivência de novos aprendizados, onde erros e acertos são praticados, os primeiros corrigidos com o tempo e os segundos potencializados. Finda cada vigência no corpo material, o Espírito continua existindo em outra dimensão, preparando-se para novas atividades em outro contexto corporal, sempre otimizando sua caminhada, aprendendo mais a cada existência, acertando e errando como se um novo recomeço fosse, embora numa fase mais evolutiva, acumulando conhecimentos, até que, plenamente isento de correções, possa integrar em definitivo na Mansão Divina, ao lado do Criador e demais também emancipados, não mais necessitando de qualquer retorno. Tudo sendo balizado por uma reflexão do geógrafo alemão naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859) que proclamava: “A morte não é um período que termina uma existência, mas um interlúdio somente, uma passagem de uma forma para outra do ser infinito.”

Claro que a passagem de um ser querido para o outro lado da Vida muito entristece e deixa saudades mil. O brasileiro notável Rui Barbosa também já pontificava: “A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima.”

Desejamos a todos os amados familiares de nossa amiga quase-parente, muito conforto. E a certeza de que toda passagem, ainda que dolorosa, proporciona um complemento d’alma para todos nós que permanecemos no mundo terrestre,

E que nossa amiga querida, que sempre assimilou bem os ensinamentos da Sabedoria Divina, saiba, após sua última passagem, ingressar na Casa do Pai com a missão de orientar o os que por aqui muito a amaram, bem como seus derredores sociais, que dela obtiveram as mais irrestritas manifestações de afeto.

Como cristão espiritista, expresso aos familiares e amigos da querida amiga quase-parente, que já nos contempla às portas da Mansão do Pai, o desejo de breve recebimento de múltiplas novas orientações, todas balizadas numa reflexão famosa do notável Martin Luther King (1929-1968): “Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos mais quem nós éramos.”


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social