1577 – ELEIÇÃO DESPERTAÇÃO


Os resultados do primeiro turno das eleições 2024 estão a merecer múltiplas análises criteriosas e independentes, identificando um baita puxão de orelhas do eleitorado brasileiro, que anseia por um país mais próspero para todos, defenestrando candidatos nada criativos, populistas e sectários, nunca comprometidos com um salutar desenvolvimento social, apenas buscando interesses voltados para seus próprios bolsos e ânsias de poder.

E uma questão, formulada por sociólogo especializado, está subentendida em todos os debates: “Por que uma parcela significativa dos pobres – conhecidos como ‘pobres de direita’ -, os quais teriam muito a perder com Bolsonaro, representante das piores elites nacionais, votaram nele duas vezes de forma maciça?” Uma questão esplendidamente bem esclarecida por um brasileiro do Rio Grande do Norte, PhD em Sociologia pela Universidade de Heidelberg e ex-presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Seu livro merece ser lido, analisado, entendido e debatido: O POBRE DE DIREITA: A VINGANÇA DOS BASTARDOS, Jessé Souza, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2024, 220 p.

Um grupo de pesquisadores sociais brasileiros está se preparando para, após leitura do livro do Jessé, “um sociólogo que não se esconde atrás das palavras”, debater amplamente algumas questões significativas, entre as quais:

– Por que o PT, antes evolucionário, transformou-se numa agremiação partidária voltada para ontens nostálgicos, atualmente nada mais sendo que um pequeno grupo dirigente de poucos lúcidos, que sobrevivendo está ao messianismo em declínio de um famoso ex-líder sindical do ABC paulista?

– Por que o PSDB, um partido que deveria comandar a liderança social-democrata brasileira, não tem uma ressonância mais cativante do eleitorado, sempre apresentando candidatos tíbios, nada criativos, sempre voltados para o centro-sul político do país?

– Por que a Igreja Católica se acomodou socialmente, com raras exceções, desligando-se de iniciativas sementeiras que muito poderiam concretizar as reinvindicações populares?

– Por que a pregação da extrema direita encontra tanta ressonância positiva nos empobrecidos, quando a elite e a classe média real não representam sequer 20% do todo populacional?

– Quais são as razões fundantes pelas quais um percentual significativo da população mais despossuída do país sistematicamente sufraga representantes de uma elite que somente deseja manter a dominação sobre ela?

– Será que o dilema esquerda x direita está sendo substituído por outros ideários mais libertadores socialmente, um deles relacionado ao fortalecimento de uma Espiritualidade independente das instituições religiosas dogmáticas nada empreendedoras socialmente?

– Será que o eleitorado brasileiro principia a perceber que ideologia não mata fome e o que vale são gestões que favoreçam uma crescente melhoria da vida comunitária?

– Será que o atual presidente da República fará o sucessor em 2026, a partir de um dinâmica reforma ministerial, onde prevaleça os 5C de uma governabilidade sadia: Capacidade, Criatividade, Coragem, Compromisso e Credibilidade?

– Ao PT não deveria ser atribuído um sinal de DP – Declínio Partidário, por ter elegido apenas 248 prefeitos nos 5.570 munícios brasileiros, menos de 5% do total?

– Será que a sagacidade dos conservadores pensantes está socialmente se direcionando para uma social-democracia, enquanto as ditas forças progressistas apenas continuam teimando em posturas não agradáveis para a maioria despossuída do eleitorado?

– Será que a ineficiência burocratizante dos Serviços Públicos Brasileiros, com as NSC – Nomeações Sem Competência, não estariam sendo politicamente julgadas nas urnas pelos eleitores?

– O Fundo Partidário não estaria apenas satisfazendo obsessivos interesses eleitoreiros, se distanciando de uma CCPE – Capacitação Contemporânea Política Efetiva, que favorecesse o nível cultural e o potencial propositivo dos candidatos?

– Será que as atuais crenças religiosas estariam alienando ainda mais o eleitorado brasileiro?

O recado dado nas urnas, entretanto, não deverá ser mais uma vez entendido pela maioria fingidamente progressista, posto que ela se julga sempre vencedora, no frigir dos ovos. Mesmo que as sementes colhidas se tornem cada vez mais acanhadas.

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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social