1570 – RESIGNAÇÃO E RESILIÊNCIA
Tenho uma impressão nada edificante de pessoas que desistem de caminhar bem na primeira topada que sofrem na vida e que ficam murmurando para os seus derredores que “Deus quis assim”, ao invés de se levantarem, sacudirem a poeira e darem as voltas por cima, continuando firmes e fortes. Sempre resilientes e repletas de força de vontade, buscando criar objetivos novos.
Nas Olimpíadas de Paris 2024, a Rebeca Andrade, medalha de ouro reverenciada publicamente por outros talentos, merece servir de balizamento, depois de cinco cirurgias sofridas no joelho. Uma jovem que soube explicitar seu potencial inexplorado, defenestrando vitimizações, abandonos e conselhos de desistência, perseguindo seus ideais e conquistando os aplausos do mundo inteiro, tornando-se orgulho de sua etnia e de toda a Gente Brasileira.
Outro dia, li uma experiência feita, em 1950, pelo cientista Carl Richter. Ele reuniu dezenas de ratos, jogando-os em cilindros de vidro de 75 centímetros de profundidade e cheios de água. Um dos ratos permaneceu na superfície por um tempo, depois nadou para o fundo, procurando uma saída, morrendo dentro de dois minutos. Vários outros tiveram comportamentos idênticos. Alguns duraram até por 15 minutos mas todos desistiram. E o cientista ficou surpreso porque ratos nadam muito bem. Ele então mudou o teste.
Depois de colocar outros ratos no cilindro de água, tirou-os da água quando eles estavam prestes a desistir. Secou-os e deixou-os em segurança para que o coração e a respiração deles voltassem ao normal, por tempo suficiente para que “compreendessem” que tinham sido salvos. Retornados ao cilindro, os animais não mais desistiram facilmente, a grande maioria deles lutou por mais 60 horas, sem comer nem descansar. Um deles chegou a ficar nadando por 81 horas! A conclusão de Richter: na segunda vez que estavam no cilindro com água, os animais “sabiam ser possível que alguém aparecesse para resolver o problema”. Os ratos tinham “virado” a chave dos seus interiores, tornando visível o poder da esperança. Para Richter, entretanto, não foi a esperança que impulsionou os ratos. Foi uma resiliência adquirida pelos ratos que fizera eles permanecerem mais tempo lutando pela sobrevivência!
Na atual pós-modernidade, inúmeros sentem que algo está faltando em sua caminhada terrestre. Algo que o dinheiro não elimina o motivo da sua infelicidade. E inúmeros tentam preencher seus vazios com bens materiais, embora tais bens nada resolvam. Sem saberem como resolver seus “algos faltantes”, tais pessoas não providenciam os “meios de solução”, continuando presas a emoções conflituosas e às emoções dos derredores sociais e dos instrumentos eletrônicos, nunca alcançando os meios necessários para um evoluir saudável e interiormente convincente, tornando-se sempre reféns de uma conjuntura tornada insuportável.
Recomendo para as pessoas que estão se sentindo “incompletas existencialmente”, um livro que não é de autoajuda, mas que pode lhe acarretar uma resiliência existencial evolucionária capaz de erradicar seus obscuros interiores, explicitando suas potencialidades mentais ainda indefinidas. Um livro para se ler sem pressa, sem complexos e sem nostalgias de passados não devidamente vivenciados. Ei-lo: NUNCA É HORA DE PARAR, David Goggins, Rio de Janeiro, Sextante, 2023, 272 p. O autor é militar americano reformado, único integrante das Forças Armadas dos EEUU a concluir o treinamento das três principais tropas de elite. Sua especialidade atual é explicitar, em conferências de muito público, como alcançar posições de destaque através de uma resiliência postural sistemática, a la Rebeca Andrade, jamais seguindo o Davi Brito, um classificado BBB – Brasileiro Besta Bundão.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social