1566 – POR UM NOVO EFEITO PERSPECTIVA


Quando o astronauta Edgar Dean Mitchel (1931-2016) voltou à Terra, depois de ser o sexto norte-americano a pisar em solo lunar, em 1971, pilotando o Módulo Antares da Apolo 14, ele declarou sem qualquer titubeio: “Lá de cima, da Lua, a política internacional parece tão insignificante. Você tem vontade de pegar um político pelo cangote e arrastá-lo pelos 400 mil quilômetros até lá e dizer ‘Olhe para isso, seu filho da puta.’” A declaração está no oferecimento do livro MENSAGEIRO DAS ESTRELAS: PERSPECTIVAS CÓSMICAS SOBRE A CIVILIZAÇÃO, Neil Degrasse Tyson, Rio de Janeiro, Record, 2023, 347 p. Declaração que foi antecipada por uma outra constatação do próprio astronauta: “Você desenvolve uma consciência global instantânea, um foco nas pessoas, uma profunda insatisfação com a situação do mundo e uma compulsão para fazer algo a respeito.”

Tais declarações foram feitas em 1971, há CINQUENTA E TRÊS ANOS!!!! De lá para cá, apesar de muitos avanços científicos e tecnológicos, ultimamente com a emersão ultra revolucionária da IA – Inteligência Artificial, inúmeros FDPs ainda tentam destruir os atuais níveis civilizatórios, provocando uma gigantesca onda deseducativa nos quatro cantos do mundo, numa ânsia psicopática de poder, num individualismo de nula solidariedade, além de tentar implantar um pensamento único, que menospreza ideias novas, rejeitando crenças e opiniões divergentes dos dogmas por eles fixados.

Creio que o momento conjuntural atual do planeta está a exigir uma serenidade comportamental evolucionária das lideranças mundiais, favorecendo uma vida plena e abundante para todos, sem distinção de etnia, gênero, classe social, crença religiosa, escolaridade, região e conta bancária. Sem fingimentos, hipocrisias, sectarismos e fake news. O sábio Epicteto já proclamava na Antigiodade: “Não peça para que as coisas aconteçam da maneira como você quer. Deseje que aconteçam da maneira como elas precisam acontecer e você será feliz.”

Constata-se, através das mídias, que o planeta está repleto de pangarés e faroleiros, gente de muito pouco saber e muito arroto, sempre desejando ser “as pregas de Odete”, como dizia minha avó-madrinha Zefinha, quase analfabeta, mas de uma intuição portentosa, costureira de mão cheia. Que sempre orientava os netos para as escolhas que faziam em suas amizades e caminhadas.

Diante das recomendações da avó-madrinha, ainda hoje, vez por outra, me deparo com dois tipos de gente. De um lado, observo os muito gentis, que são serenos e de bom coração, ainda que não consigam canalizar suas qualidades na construção de realizações consistentes e duradouras. E ainda constato, no palco da Vida, a presença dos promotores, que são agressivamente vocacionados para o empreendedorismo, embora nunca levem na devida conta as potencialidades dos que integram seus derredores. Os dois tipos – os muito piedosos e os promotores – são, frequentemente, egoístas e autocentrados, como se todo o resto dependesse exclusivamente deles e das suas ações.

Desde os tempos de universidade, tenho admiração por aqueles que sabem conjugar talento, coragem e ética, na efetivação de empreendimentos que marcam cenários, transformando-os ou catapultando-os para novos índicesd civilizacionais. E os “mandamentos” deixados por um filho de samurai, o Miyamoto Musashi, nascido em 1584, oferecidos em sala de aula pelo professor Germano Coelho, que foi paraninfo da nossa turma, ainda balizam o meu cotidiano existencial. Regras comportamentais plenamente válidas para muitos séculos do porvir: 1. Nunca pense desonestamente; 2. O caminho está na treinamento (capacitação); 3. Trave contato com todas as artes; 4. Conheça o caminho de todas as profissões; 5. Aprenda a distinguir ganho de perda nos assuntos materiais; 6. Desenvolva o julgamento intuitivo e a compreensão de tudo; 7. Perceba as coisas que não podem ser vistas; 8. Preste atenção até ao que não tem importância; 9. Não faça nada que de nada sirva.

Em tempos complexos como os atuais, onde tudo é para ontem, lembremo-nos sempre de um provérbio chinês: “Um ser humano apressado não realiza nada de bom, um gato apressado não caçará nenhum rato.”


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social