1560 – LEITURAS PARA MUDAR


Aprecio leituras que cutuquem minha imaginação de cristão não acomodado, fazendo-me abandonar ortodoxias e dogmas superados, que, na maioria das vezes, asfixiam e não libertam. Algumas últimas, com a devida licença dos fundamentalistas e dos demais nada convencidos, explicitarei abaixo, ensejando uma oportunidade de novas binoculizações existenciais. Apenas se trata de uma relação e comentários sobre o que me adensou a espiritualidade nos últimos tempos, sem qualquer intenção de promover proselitismo. A ordem dos livros citados não possui qualquer nível de significância.

1. Em 1945, nos arredores de Nag-Hammadh, Alto Egito, num campo como qualquer outro, ao acaso descobriu-se um tesouro: uma biblioteca gnóstica conservada em cânforas de vinho, constituída de 53 pergaminhos escritos na língua copta saídica, escrita muito próxima dos antigos hieroglifos egípcios. E entre tais pergaminhos, um Evangelho de Tomé, uma coleção de 114 logias (palavras originais) atribuídas ao Mestre Jesus. Este Evangelho, atualmente, está sendo considerado complemento dos canônicos Mateus, Marcos, Lucas e João. E dois livros sobre o assunto muito me esclareceram. O primeiro: O EVANGELHO DE TOMÉ, traduzido e comentado por Jean-Yves Leloup, 12ª. edição, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2023, 220 p. O segundo: O EVANGELHO DE TOMÉ – O ELO PERDIDO, José Lázaro Boberg, 3ª. edição, Santa Luzia MG, Editora Cristo Consolador, 2011, 288 p. Dois livros escritos para quem tem coragem de mudar.

2. Como professor universitário, hoje aposentado, sempre tive uma admiração bastante acentuada por Paulo Freire e por Rubem Alves, este um excepcional contador de histórias, teólogo e ensaísta, falecido em 2014. Um dos seus livros por mim lido, tocou-me profundamente: O DEUS QUE CONHEÇO, Rubem Alves, 2ª. edição, São Paulo, Planeta, 2019, 192 p. Com um prefácio do aplaudido filósofo Leandro Karnal. Uma teologia muito peculiar, de olhar sincero e surpreendente sobre o Eterno.

3. Não escondo de ninguém, embora seja um cristão não mais integrante da crença romana, a minha profunda admiração pelo Papa Francisco. Um dos seus livros já reli três vezes, a cada vez ficando mais admirador da sua análise futurológica: DEUS E O MUNDO QUE VIRÁ: UMA CONVERSA COM DOMENICO AGASSO, Papa Francisco, São Paulo Planet, 2021, 144 p. infelizmente, uma mente brilhante a comandar uma instituição que urge de uma Reforma e novas 95 Teses, espiritualistas e nunca apenas burocráticas.

4. Para quem já leu a frase “Deus está morto” e deseja conhecer as significações e consequências históricas dela, páginas que bem definem os amanhãs: PÓS-DEUS, Peter Sloterdijk, Petrópolis RJ, Editora Vozes,2019, 321 p. Na contracapa, a hipótese da análise: “As áreas da teologia e da filosofia contemporâneas entram em jogo, bem como a política assassina do presente e os desenvolvimentos culturais e técnico-científicos imediatos.” O autor classifica Deus como “a maior fonte de cobertura de seguro”. Páginas esclarecedoras para mentes abertas e libertárias, nunca fundamentalistas.

As indicações acima nos fazem aprender a voltar da beira do abismo, percebendo-se sempre uma metamorfose ambulante militante da reconstrução do mundo contemporâneo, direcionando-o otimamente para a Luz.

Uma escolha pessoal minha e o desejo de uma leitura para lá de muito arretada de ótima para todos.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social