1552 – SOBRE UM INFINITAMENTE ARRETADO DE ÓTIMO
Muita gente, que se intitula cristã de cabo a rabo, desconhece muitas coisas sobre a caminhada do Nazareno Galileu muito amado por milhões de milhões. Algumas delas: a não existência de hierarquia no emergente Movimento de Jesus, nem Colégio Apostólico, nem ordenações ou poder constituído, prevalecendo o que Max Weber denominava de liderança carismática.
A leitura atual da Bíblia utilizada pelas Igrejas continua seguindo o modelo dos intelectuais cristãos dos primeiros séculos, nunca voltados para investigações criteriosas, por consequência sempre despossuídos de uma criticidade esclarecedora. Tudo começou a ser analisado com a partir de Erasmo de Roterdam, , na Renascença, séculos XIV-XVI. Análises disseminadas mais aceleradamente a partir das 95 Teses de Martinho Lutero, afixadas em 1517.
O teólogo Eduardo Hoornaert, em seu livro EM BUSCA DE JEUS DE NAZARÉ, UMA ANÁLISE LITERÁRIA, São Paulo, Paulus, 2019, 210 p., esclarece: “Nos escritos dos evangelistas, parece não existir nítida distinção entre mito e realidade. É que eles não são positivistas, ou seja, não prestam atenção no significado positivo de fatos e mitos. Os fatos não lhes interessam em si, mas unicamente na medida em que são significantes. Nos Evangelhos, o Jesus do mito convive com o Jesus da história. O que nós, leitores modernos, percebemos como contradição, não é necessariamente percebido como tal pelos primeiros ouvintes.”
Atualmente, pelos quatro cantos do planeta, existem muitos tipos de cristãos: o consciente dos seus direitos e deveres, o desatento às descobertas arqueológicas, o fundamentalista, o nada ecumênico, o mentalmente alienado, o que ainda não saiu do catecismo infantil, o apenas domingueiro, o que vive se benzendo por qualquer besteira, até aquele que tem um medo pavoroso de não acreditar em mais nada, a partir da leitura do questionamento feito pelo Nazareno, narrado em Mc 8,29.
Muitos ainda hoje questionam: Quem foi o homem que mudou o mundo? Para tais CDs – Cristãos Desconfiados, recomendo, além da leitura do livro acima citado, de notáveis diálogos entre um jornalista escritor agnóstico e um renomado biblista, professor titular da Universidade de Bolonha, explicitados num livro oportunamente editado no Brasil: DIÁLOGO SOBRE JESUS QUEM FOI O HOMEM QUE MUDOU O MUNDO? Conrado Augias e Mauro Pesce, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2011, 322 p. Onde, no prefácio do Conrado, o biblista Pesce esclarece: “Estou convencido de que a pesquisa historiográfica não prejudica a fé, tampouco obriga à crença. É claro que, às vezes, ela pode levar a questionar alguns aspectos da imagem confessional de Jesus, mas isso nos leva a uma reformulação da fé, e não à sua negação. Por outro lado, algumas afirmações grosseiramente antieclesiásticas também sofrem os efeitos dos questionamentos da pesquisa. Nesse caso, porém, temos as condições para uma atitude laica mais madura, e não a obrigação de abraçar a fé.”
Lendo atentamente os dois livros acima citados, o leitor pensante não ruminantes seguramente saberá mais nitidamente quem foi Jesus, ou Yehoshua ben Yoseph, em hebraico. E o distinguirá das centenas de pregadores andarilhos que se diziam naquela época possuídos por Deus, como foi o nascido de Maria e José no ano 4 a.C., num vilarejo chamado Belém, conforme explicitado no Antigo Testamento, em Mq 5,2.
Percebendo-se mais historicamente cristão, todos os filhos d’Ele farão seguramente mais pelos seus povos e nações.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social