1540 – FATO REAL SEMENTEIRO
Na chegança ultra veloz da IA – Inteligência Artificial, com suas intenções diversas, para o bem e para o mal, o momento histórico que estamos vivenciando não permite apenas contemplações ingênuas, algumas até dotadas de alto índice de fingimentos para lá de cretinos, quando inúmeros estão se passando por especialistas, mal passando de reles bundas mentais murchas.
Quando na atual conjuntura mundial prepondera um brutal individualismo autofágico, com mínimos eventos solidários convincentes, lembrei-me de um caso acontecido há alguns anos, quando eu ainda lecionava na muito amada Faculdade de Administração da Universidade de Pernambuco, atualmente Faculdade de Administração e Direito.
Aconteceu numa sala de aula da então FCAP e não virou manchete, mas deixou para todos, e para sempre, uma lição inesquecível: de como não se deve esmorecer diante de obstáculos aparentemente intransponíveis. E o caso eu conto como o caso aconteceu, recordando Paulo Cavalcanti, um homem admiravelmente coerente que conheci, um dos patronos da minha caminhada existencial.
Nas aulas do Sotero, simpático professor de Matemática Financeira, dos melhores da praça, ibope ótimo perante seus alunos, uma calculadora financeira era mais que necessária, facilitando operações para deixar os miolos discentes disponíveis para os raciocínios metodológico-estratégicos mais densos.
Um determinado aluno, de aparência muito simples, manifestou desejo de usar, nos seus cálculos e provas, a sua maquininha, uma daquelas que apenas fazem as quatro operações, apelidada logo pelos colegas de “máquina usada na feira pelos verdureiros mais brocoiós.” E o aluno-verdureiro, pouco se lixando para o “apelido” da sua calculadora chinfrim, realizou todas as provas, saindo-se espetacularmente bem de algumas operações mais cabeludas, para isso usando os seus conhecimentos de Aritmética e a inteligência que Deus lhe deu.
A lição deixada pelo aluno-verdureiro fez a cabeça de muitos, propagando-se pelos corredores e salas de aula daquela e de outras universidades: sem vitimismos, nem dolorismos, nem coitadismos, características próprias dos que se acostumaram a conviver numa cultura essencialmente paternalista, é possível ultrapassar as dificuldades do cotidiano, agigantando-se para novos combates, fortalecendo o ego para empreendimentos desafiadores.
Entregar-se à leituras bolorentas, proclamava Montaigne, é amais fácil e característica dos corações pouco enérgicos, que apenas buscam raciocinar bundolatricamente da cintura para baixo. E um provérbio mexicano adapta-se como uma luva à lição deixada pelo aluno-verdureiro: “O caminho sobe ou desce conforme se vai ou se vem. Para o que vai, sobe; para o que vem, desce.” E o nível mental do aluno-verdureiro não era de quem apenas sabia realizar as quatro operações, enfiando os dedos num quadradinho movido a pilhas baratas. Era para lá de muito alto, de quem muito bem sabia binoculizar amanhãs empreendedores rentáveis.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social