1533 – PARA SABER PENSAR E BEM AGIR
Nos últimos 30 anos, a capacidade de saber pensar tem se reduzido drasticamente na grande maioria das regiões do mundo, talvez causada por alguns sinais pós-modernos: os televisionamentos noticiosos, o incremento da analfabetização, a execrável má distribuição de renda, a fragilidade do saber ensinar as primeiras letras, a internet, o fundamentalismo e as alienações sociais. E o não-pensar está contaminando até o ensino superior de vários países, inclusive o Brasil, urgindo um voltar a ensinar a pensar estribado numa base mínima de conteúdo filosófico.
Recentemente, um grupo de amigos(as) espiritualistas do Recife, profissionais de alguns anos de atividade, ciente da atual carência de uma melhor binoculização analítica, resolveu estruturar leituras, reuniões e debates periódicos, objetivando adquirir procedimentos atualizados de como aprimorar suas análises pessoais, profissionais, familiares e comunitárias.
Quais deveriam ser, para o grupo, as características de uma PP – Pessoa Pensante, diante das mutabilidades contínuas que estão se verificando no mundo inteiro? Explicitadas foram, na primeira reunião, as dez mais visíveis, todas elas interdependentes e intercomplementares, sempre apostando, sem titubeios ingênuos, na viabilidade otimizada de uma caminhada bem efetivada, recheada de empreendimentos vitoriosos. Ei-las:
- Nunca esmorecer a capacidade de ser permanentemente um curioso, um perguntador, desenvolvendo novas habilidades de demanda, sempre despertando novos interesses.
- Encarar a Vida como uma missão, jamais a entendendo como uma carreira. Conhecer bem as fontes nutrientes e as energias geradoras do saber, preservando a individualidade, sem resvalar para atitudes individualistas, suicidas sob todos os vieses existenciais.
- Desenvolver um savoir-faire que cultive um bom humor, permanecendo racionalmente otimista, sem reagir, compulsivamente, diante de atitudes negativas ou extemporâneas. E sem jamais tripudiar sobre as fraquezas dos outros, consciente da capacidade de perdoar e/ou esquecer as ofensas, por mais duras que elas tenham sido.
- Manter-se constantemente atualizado em relação a assuntos e cenários emergentes, sendo socialmente ativo, possuindo muitos conhecidos e poucos confidentes.
- Sabe rir de si mesmo, dimensionando, sem exageros positivos ou negativos, o seu próprio valor. E perceber as similaridades e as diferenças em cada uma das situações enfrentadas. Aceitar elogios e culpas de forma equilibrada, sem reações agressivas. Enxergar a saída no fracasso, por mais penoso que ele tenha sido.
- Saber contemplar rostos e cenários antigos de maneira nova, como se fosse a primeira vez. Redescobrir as pessoas a cada encontro, interessando-se por elas, jamais rotulando-as com base em sucessos ou fracassos passados.
- Saber fazer uso da força conjunta, acreditando nas capacidades alheias, nunca se sentindo ameaçado pelo fato de os outros serem melhores. Aprender a separar as pessoas dos problemas, não disputando posições, a liderança lhe sendo conferida por natural delegação da maioria.
- Exercitar regularmente as quatro dimensões da personalidade humana: a física, a mental, a emocional e a espiritual, orientando-se para as soluções criativas, sem resvalar para atividades doidivanas, fundamentalistas ou politicamente sectárias.
- Jamais se esconder sob o manto da resignação, consciente de que ele é o hospedeiro maior da mediocridade.
- Renunciar às alternativas perfeccionistas, reconhecendo todas elas como estratégias de protelação.
No mais, aprender a pensar, sempre com muita curiosidade, sem jamais, nas vielas da vida, se estraçalhar. E se puder, ler atentamente: CRER E SABER; PENSAR O POLÍTICO, O MORAL E A RELIGIÃO, Raymond Boudon, São Paulo, Editora Unesp, 2017, 297 p. Para diferenciar era de mudanças de mudança de era, segundo o Papa Francisco prognosticou com sapiência oportuna.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social