1527 – PARA UMA AMPLA REESTRUTURAÇÃO DOCENTE


Certa feita, li numa página internética a seguinte reflexão: “O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira.” E a reflexão foi mais além: “A frase do educador e escritor norte-americano William Arthur Ward representa bem a importância e a responsabilidade de professoras e professores, que precisam inspirar no aluno a confiança, o desejo de aprender e, fundamentalmente, a cidadania e os bons valores humanos. Mas é necessário que esses profissionais descubram seus verdadeiros valores e reconheçam a importância que lhes é atribuída. As mais belas ideias sobre educação, os mais sinceros e comoventes elogios ao papel do ensino no desenvolvimento de um país e os sonhos mais generosos em que a escola aparece como espaço de verdadeiro aprendizado e crescimento humano não resolvem o problema da educação se as professoras e os professores não forem e não se sentirem valorizados.”

A afirmativa, recheada de veracidade crudelíssima, é do estudioso Gabriel Perissé, um pós-doutorado em Filosofia e História da Educação: “No Brasil, um dos maiores desafios da educação no século XXI está em formar e atualizar nossos professores, especialmente no que diz respeito à sua formação continuada. Além da formação inicial e da experiência própria, é necessário que todo docente reflita com frequência sobre a sua prática cotidiana e que entre em contato com leituras que o ajudem a se aperfeiçoar como ser humano, cidadão e profissional.

Nos tempos de agora, após um período de pandemia, onde as irresponsabilidades governamentais federais vitimaram centenas de milhares de brasileiros, para se tornar um docente situado e datado, como recomendava o educador pernambucano Paulo Freire, é preciso ir bem mais além de apenas uma sala de aula, possuindo uma visão social consequente, assimilando na mais alta conta uma reflexão emitida por James Champy, contida no seu livro Gestão de Pessoas e Subjetividade, editado pela Atlas: “A mudança irá além da técnica. Não trata apenas do que os gerentes fazem, mas de quem são. Não aborda apenas sua noção de tarefa, mas sua noção de si mesmos. Não enfoca apenas o que eles sabem, mas como pensam. Não considera apenas a forma como veem o mundo, mas também a forma como vivem no mundo.”

Na atual etapa do século XXI, no Brasil, que os responsáveis pelo Sistema Educacional Brasileiro, provoquem um sadio “despertamento” das estruturas curriculares dos Curso de Pedagogia, favorecendo o surgimento de uma classe docente possuidora dos seguintes balizamentos:

– O bem-querer terá prevalência sobre todas as lógicas destrutivas.

– Os méritos devem ser sempre coletivos e jamais fingidos, nunca individualizados.

– As amizades conquistadas são o maior patrimônio de todo ser humano em sua contínua mutação evolutiva.

– Esmagar potencialidades é crime de lesa-convivialidade.

– Jamais abandonar um aprender-desaprender-reaprender que ressalta as diferenças entre permanência e mutação.

– Tornar-se águia sem mentalidade de galinha, por mais emplumada que esta seja.

– Entender que mente saudável, além de saber fazer, faz também acontecer.

– Saudades bem sentidas, nostalgias contidas.

– Umbrais ultrapassados, sonhos recuperados.

– Para se ver no futuro, saber enxergar-se nos demais tempos.

– Jamais pôr remendo novo em roupa velha.

– Nunca atirar pérolas aos porcos.

– Sempre distinguir postura orgulhosa e arrogante de dignidade cautelosa.

– Diferenciar sempre tentativa de corrupção e o empenho legítimo em aproveitar as oportunidades para obter informações.

– Nasce-se com inteligência, jamais com o manual de instrução da sua utilização.

– Ter sempre muito cuidado com o efeito Ramsés II, aquele faraó useiro e vezeiro em apagar o nome dos seus antecessores dos monumentos edificados, para colocar o dele próptio.

E que os nossos professores futuros saibam bem diferenciar tecnologia de tecnocracia, moderno de modernoso, serenidade de passividade, objetividade de descortesia, persistindo em continuar a servir ao Brasil para todos os brasileiros, posto que tem muita gente a necessitar da inteligência e da criatividade dos nossos docentes.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social