1506 – SUBDESENVOLVIMENTOS BRASILEIROS
O famoso economista sueco, Gunnar Myrdal (1898-1987), autor de um livro que muito impressionou nossa turma de estudantes de Economia da Universidade Católica de Pernambuco, Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas, costumava dizer, em suas palestras internacionais, que “o pior subdesenvolvimento é o mental.” E ele estava coberto de razão. O pensante Brett McCracken, autor de livros lidos, relidos e aplaudidos, ressaltou ultimamente que “nosso mundo tem cada vez mais informação, porém cada vez menos sabedoria.” E identificou os sintomas: “Mais dados, menos clareza; mais estímulo, menos síntese; mais distração, menos quietude; mais sabe-tudo, menos ponderação; mais opinião, menos pesquisas; mais palavras, menos atenção; mais julgamentos, menos observações; mais diversões, menos alegria.” E ainda classificou a nossa contemporaneidade como “uma era insensata”, fazendo-me recordar uma advertência contida no Antigo Testamento (Provérbios 1, 22-27)
Encareceria aos que se postam como defensores de um amanhã brasileiro desenvolvido, onde todos possam ter vida plena e vida em abundância, segundo o Evangelho de João 10,10, uma leitura do Brett que muito me plenificou de esperanças: A PIRÂMIDE DA SABEDORIA: ALIMENTANDO SUA ALMA EM UM MUNDO DE PÓS-VERDADE, Brett McCracken, Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2023, 208 p. Páginas que instruem como adquirir melhores hábitos de informações.
A recente pandemia da Covid-19, em 2020, explicitou ainda mais a gravidade da nossa atual crise epistemológica na era digital contemporânea.
O Dicionário de Oxford definiu, em 2916, “pós-verdade” ao que é “relacionada a ou que denota circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais.”
Em 2017, a editora LTC lançou, no Brasil, mais uma edição de uma obra que deveria ser lida, relida e debatida por todos aqueles que buscam uma reestruturação brasileira que recolocasse o Brasil entre as nações mais cidadãs do planeta: TER OU SER, Erich Fromm, 4ª. edição, Rio de Janeiro, LTC, 2017, 204 p. No livro, o notável psicanalista, filósofo humanista e sociólogo alemão (1900-1980) faz uma quase profética advertência:
“Pela primeira vez, na História, a sobrevivência física da espécie humana depende de uma radical mudança do coração humano. Todavia, uma transformação do coração humano só é possível na medida em que ocorram drásticas transformações econômicas e sociais que deem ao coração humano a oportunidade para mudanças, coragem e visão para consegui-la.”
Para todo profissional, que não se considera divinizado nem divinizante, que busca possuir um juízo crítico, é necessário aprender a fazer uma sadia ultrapassagem das apreensões espontâneas de uma realidade que se encontra numa contínua e, hoje, velocíssima mutabilidade histórica.
Uma conscientização é uma utopia que exige profundo conhecimento acerca do derredor e das maneiras de superá-lo. O processo não é instantâneo. Exige diálogo, e diálogo sem subterfúgios nem embromações. E diálogo com muita humildade (sem humildes), revestido sempre de uma maciça dose de esperança, edificada a partir de comprometimentos recíprocos, essências maiores de toda cidadania que postula ser empreendedora.
Na atual conjuntura brasileira, repleta de múltiplos subdesenvolvimentos não-econômicos (sociais, educacionais, midiáticos, científicos, políticos, militares e religiosos), saibamos assimilar e transmitir balizamentos cidadanizadores, que muito poderão redundar em empreendimentos solidários não populistas, tampouco ambiciosos, sectários e alucinógenos, onde uma nova Ciência do Homem favoreceria a edificação de uma exemplar sociedade mundial, onde todos, pacificamente e sem autoritarismos, teriam vida plena e abundante. Ei-los:
– Saber administrar sonhos: visão mobilizadora.
– Acolher o erro: errar não é o crime, não ter uma grande meta é.
– Estimular o diálogo reflexivo: Nunca sei o que digo até ouvir a resposta.
– Estimular a discordância: Uma das tragédias da maioria das organizações é que as pessoas deixam que os líderes cometam erros, mesmo sabendo que haveria alternativas melhores.
– Possuir o Trinômio Nobel Otimismo-Fé-Esperança: Que os pássaros da preocupação voem sobre sua cabeça você não pode impedir, mas que eles façam ninho em seu cabelo, isso, sim, você pode evitar.
– Entender o efeito Pigmaleão: A diferença entre uma florista e uma dama não está no comportamento, mas no tratamento que recebem.
– Considerar onde pode chegar, reconhecendo pontos fortes e pontos fracos.
– Enxergar longe: utilização de bússolas.
– Entender a simetria entre os interesses de diversos grupos.
– Criar alianças e parcerias estratégicas.
Alguns outros pensamentos também poderiam nortear o profissional que se predispõe a ser uma metamorfose ambulante, expressão famosa de um roqueiro já tornado eternidade, Raul Seixas. Que cada um descubra suas próprias vulnerabilidades e alicerces nos posicionamentos especificados abaixo:
– Só o ser humano é o arquiteto de seu próprio destino. A maior revolução em nossa geração é que seres humanos, modificando as atitudes mais íntimas de sua mente, podem modificar os aspectos exteriores de sua vida. (William James)
– A velocidade é útil somente se você estiver correndo na direção certa. (Tom Chung)
– O mais importante é não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria razão de ser. Não podemos fazer nada senão contemplar extasiados os mistérios da eternidade, da vida, da maravilhosa estrutura da realidade. É mais que suficiente tentarmos simplesmente compreender um pouco desse mistério a cada dia. Nunca perca a sagrada curiosidade. (Albert Einstein)
– Um gênio é uma pessoa de talento que faz toda a lição de casa. (Thomas Edison)
O resto é muita pensação crítico-construtiva e fazimentos restauradores históricos.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social