1505 – AULAS MEMORÁVEIS


Um teste histórico para todos os que militam como docentes no Ensino Fundamental do Brasil: você tinha conhecimento de que “o conceito de razão vital” é o principal fundamento das ideias de José Ortega y Gasset no campo da Educação, fortalecendo o psiquismo infantil como um objetivo prioritário que deveria ocupar todo o Ensino Fundamental ou pelo menos as primeiras séries? Já leu alguma coisa escrita pelo filósofo espanhol, considerado por muitos como uma dos mais notáveis pensadores do século XX, autor do notável A Rebelião das Massas, que no próximo dia 9 de maio completaria 140 de nascimento?
Para aqueles que se postam como docentes do Sistema Educacional Brasileiro, de todos os níveis de ensino, deveriam ler O QUE É FILOSOFIA? de José Ortega y Gasset, Campinas SP, Vide Editorial, 2016, 291 p. Um livro composto de minuciosas transcrições de aulas conferidas pelo filósofo espanhol (1883-1955), iniciadas em fevereiro de 1929 na Universidade de Madrid, obrigando-o, após a sua demissão e fechamento da Universidade por causas políticas, a termina-las em forma de duas conferências, num teatro, em Buenos Aires, capital da Argentina, perante uma notável assistência. 
O livro acima citado traz um posfácio que merece ser lido antes de se ler a primeira aula do curso. De autoria da pensante Maria Zambrano (1904-1991), discípula de Ortega y Gasset. E ela faz uma definição luminosa do curso O que é Filosofia? para que todos possam se situar e datar: “A filosofia de Ortega é a da Razão Vital, Histórica ou Vivente. Ou seja, como todas as filosofias, consiste num pensamento que se estende entre uma fé e uma crítica, no sentido mais amplo do termo. Os objetivos de ambas, da fé e da crítica, foram, creio, sempre os mesmos, mas ocupando alternativamente o lugar da fé e o da crítica. São a razão e a vida. A filosofia grega nasceu da fé na razão estendida até a crítica, em sua forma mais extrema, a conversão da vida. A de Ortega parte da fé na vida, dispõe-se à arriscada operação de criticar a razão, ou seja, de criticar-se a si mesma. Mas nenhuma delas seria possível se não encerrassem em seu fundo último a certeza de encontrar, na razão, a vida, ou na vida, a razão. Sem essa certeza, atrevo-me a dizer que não seria possível nenhum gênero de filosofia, e a desgraça de algumas é simplesmente tê-la ignorado e, em consequência, ter padecido, e feito padecer os homens , dessa falta de lucidez originária, que engendra tantas sombras.” 
Um questionamento para lá de oportuno: em quantos Cursos de Pedagogia, no Ensino Superior Brasileiro, se estudou a filosofia de José Ortega y Gasset, para quem “o problema filosófico é ilimitado em extensão, posto que abarca tudo e não tem confins, senão que o é também em intensidade problemática.” E disse mais, parecendo direciona-se para os que estudam Pedagogia: “Quando se fala da nossa atividade cognitiva ou teorética, definem-na muito justamente como a operação mental que vai desde a consciência de um problema até o êxito de sua solução. A falha está na tendência de considerar como importante nessa operação só sua última parte: o tratamento e a solução do problema.”
Muito apreciaria ver, na área das Ciências Humanas, aqui Pedagogia inclusa, amplos debates sobre a filosofia de Ortega  y Gasset, aprimorando um saber pensar filosofal que será sobrevivencial para os nossos amanhãs nacionais, hoje intensamente encharcado por um pensar BBB – Babaquara, Bacante, Bruaca crescente.
Como seria oportuno que a docência mundial percebesse a densidade da reflexão da educadora Maria Montessori: “As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educamos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia, estaremos a educar para a paz.”        

Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social