1495 – O MITO DA CAVERNA
A mais famosa alegoria de Platão, sob título acima, se encontra exposta no Livro VII de A REPÚBLICA, o mais citado dos diálogos de Platão, recentemente editada no Brasil pela Editora Principis, 2021, 640 p, edição comentada por Benjamin Jowett, PhD nas Universidades de xford e Leiden.
Para quem deseja somente ler a alegoria famosa, basta adquirir O MITO DA CAVERNA, Platão, São Paulo, Edipro, 2015, 78 p.
Para os fubânicos pensantes, apresento, abaixo, o que revela Platão através da boca de Sócrates:
Imaginemos homens que vivam numa caverna cuja entrada se abre para a luz em toda a sua largura, com um amplo saguão de acesso. Imaginemos que esta caverna seja habitada, e seus habitantes tenham as pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não possam mudar de posição e tenham de olhar apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede. Imaginemos ainda que, bem em frente da entrada da caverna, exista um pequeno muro da altura de um homem e que, por trás desse muro, se movam homens carregando sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por lá, no alto, brilhe o sol. Finalmente, imaginemos que a caverna produza ecos e que os homens que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna. Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras. Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se frequentemente tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmeras hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou limitado. Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro. Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E, então, eles o desprezaram….
Somente através de uma criticidade adquirida através de uma caminhada enxergante e muito pensante, poderemos sair das situações cavernosas, para bem assimilar duas orientações deixadas pelo notável Sêneca:
“Ao longo da vida, continue sempre aprendendo a viver.”
“Não é porque as coisas são difíceis que não arriscamos. É porque não arriscamos que as coisas são difíceis.”
Estudar, ler, meditar e criar são verbos indispensáveis em todas as civilizações contemporâneas. O mais é saber só dar coices e ruminar, balançando o rabo.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social