1492 – FULANIZAÇÕES DIVERSAS


Os últimos acontecimentos terroristas praticados na Capital Federal, preparados e financiados por gente desqualificada democraticamente, fascista e fingidamente brasileira, em oportuna conjuntura farão diferenciar os eleitores que votaram conscientemente no ex-presidente dos marginais manés fascistóides que tentaram promover um golpe de estado, reprimido em muito boa hora pelas forças sociais – civis e militares – que buscam a estruturar um Brasil cada vez mais efetivamente justo e progressista.

Por uma coincidência gigantesca, reli GIGANTES E ANÕES, do pensador Allan Bloom, um dos mais controvertidos ensaístas norte-americanos, também autor do muito polêmico O DECLÍNIO DA CULTURA OCIDENTAL, um best-seller que vendeu, até hoje, mais de um milhão e meio de exemplares. Seus ensaios sobre professores, livros e educação, escritos entre 1960-1990, ele os concentrou num instigante volume.

Segundo Bloom, “a essência da educação é a experiência da grandeza“. Ele ressalta a perfeição da fórmula de Pascal – “Sabemos muito pouco para sermos dogmáticos e muito para sermos céticos” – defendendo a vida dos acanalhamentos de um tempo que despreza a filosofia, que asfixia estratégias existenciais evolucionárias em detrimento de táticas imediatistas, sectárias, nunca democráticas, todas oportunistas, algumas até intencionalmente criminosas.

Em determinados momentos, o Bloom parece “estar enxergando” o atual quadro social brasileiro: “A filosofia, a inimiga das ilusões e das falsas esperanças, nunca é realmente popular, sendo sempre suspeita aos olhos dos que apoiam qualquer dos extremos que estejam no poder“. E a saída por ele apontada deveria ser merecedora de respeitosa atenção: a descoberta de novos programas comunitários de Educação Cidadã.

Do livro se depreende lúcidas lições sobre a atual ambiência nacional. Algumas das lições de Bloom merecem registro público, explicitados através de mandamentos, contrapondo-se aos marasmos e às inércias de passados nada sedutores. Eis os principais:

  1. Participamos de um único cosmo, cada alma sendo reflexo desse mesmo cosmo, nele também refletindo esperanças, conquistas e humilhações;
  2. Os acidentes da vida obrigam os seres humanos a adotar costumes que os levam, inúmeras vezes, a esquecer a parte total e imortal deles próprios;
  3. Quem diz “eu prometo“, sem ter base para cumprir a promessa, é um mentiroso;
  4. Se aprendemos o que significa viver com livros, somos forçados a torná-los parte de nossa experiência e de nossa vida;
  5. Política significa o governo do ser humano e isso só pode ser feito em posições de poder legítimo;
  6. Se a democracia não pode tolerar a presença dos mais altos padrões de aprendizagem, então a própria democracia se torna questionável;
  7. Cultura não deve ser usada para superar as preocupações instintivas com o país, colocando em seu lugar uma lealdade falsa e alimentando uma perigosa falta de sensibilidade para com a política real;
  8. Quem só possuir apenas visão “econômica” não poderá, de forma consistente, acreditar na dignidade do ser humano ou no status especial da arte e da ciência;
  9. Quando a suave luz dos grandes livros estiver para sempre obscurecida pelas chamas ardentes da interpretação sectária, nossa janela para o mundo estará irremediavelmente fechada;
  10. Todos os talentos não passam de recursos para a felicidade maior de todos.

Diante das depredações vergonhosas que aconteceram na Capital Federal, onde uma premeditada agressão parecia asfixiar a honradez e a dignidade de milhões de brasileiros, tenho certeza que o Congresso Nacional saberá defenestrar os canalhas sectários, sempre embasado numas orientações contidas num livrinho de um lusitano de boa têmpera cidadã. Com sucessivas edições italianas , brasileiras, castelhanas e catalãs, francesas e belgas, o  Discurso Sobre o Filho-da-Puta, do lusitano Alberto Pimenta, em primorosa tiragem da Fenda Edições, está aliviando  sobremaneira as angústias individuais e coletivas dos que ainda estão envergonhados com as destruições acontecidas em Brasília.

A edição do livro do Pimenta por mim compulsada retrata,  com refinada ironia, comportamentos criminosos, públicos e privados. Segundo ele, sobre o FDP múltiplas lendas são contadas.  O autor do Discurso estabeleceu, para iniciação dos ainda leigos no assunto, algumas linhas que servem para identificar a presença de um deles.

Torno públicos alguns dos parâmetros do Alberto Pimenta, para possibilitar uma melhor identificação dos que estão merecendo levar umas cipoadas cidadãs, não mais fazendo de besta os eleitores de uma Nação já muito politicamente sofrida:

  1. O FDP existe e está em todas as partes.  Nunca se define à primeira vista. Não usa sinais explícitos, nem distintivos, sempre dizendo o que pretendia dizer o maioral seu chefe.
  2. O FDP não consente na despreocupação. Pretende chegar a todos os lugares sem chegar a sair para lugar algum, vocacionado para não deixar fazer.
  3. Os FDP conhecem-se bem. Sabem comunicar-se muitíssimo eficazmente uns com os outros. E têm sempre um bom motivo coletivo para os seus atos particulares e um excelente motivo particular para seus atos públicos.
  4. Todo FDP detesta o sucesso das investigações dos outros e se preocupa obsessivamente com a ascensão profissional dos companheiros de trabalho, jamais se aperfeiçoando porque nunca se desligou das caminhadas bem sucedidas dos seus colegas, de infância, de trabalho ou de comunidade.

O livro do Pimenta oferece esplêndido embasamento ao que disse, um dia, o notável George Bernard Shaw:  “Alguns homens vêm as coisas como são e perguntam: POR QUE? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto: POR QUE NÃO?”


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social