1468 – NOVAS FORMAS DE SER PROFESSOR


A binoculização dos amanhãs do planeta foi o mote principal do último final de ano, muitos metendo a colher no caldo das profecias e estimativas, algumas até de razoável bom senso. Diferentes da grande maioria, recheada de baboseiras e/ou puxasaquismos, a prestarem gigantescos desserviços às necessidades das nações que urgem não mais ser massa de manobra dos que se encarapitam nos imperiais poderes de mando.

Muitas análises são contundentes para com os daqui e os do exterior. Do ex-presidente da Andes: “O MEC parece perdido entre projetos específicos e a busca infrutífera de recursos. O abandono financeiro não só continua, mas se agrava.” E a proposta para 2023 é ainda pior. Do César Benjamin, autor de A Opção Brasileira, Contraponto, nona edição: “Lula atuou metodicamente para demolir a capacidade de organização e mobilização das forças sociais que podem ajudar a mudar o Brasil, que paradoxalmente são as forças que o conduziram à presidência da República. Pregou a paralisia, difundiu o conformismo, infantilizou o povo.” Do José Arbex, jornalista de nomeada: “O Partido dos Trabalhadores é a versão taxidérmica ou mumificada do PT de 1979. Nada há nele que lembre o vibrante espírito do partido criado no calor das manifestações sindicais do ABC, responsável pelo aceleramento da queda da ditadura. O PT é hoje uma couraça ressequida, controlado por burocratas engravatados.” E de Frei Betto, autor de Gosto de Uva, lançado há alguns anos: “Neste ano, faça-se também o novo. Para nascer de novo não é preciso retornar ao ventre materno. Basta dar ouvidos à própria intuição, agir com humildade e sintonizar-se com o Transcendente. Na radical disposição de, daqui para frente, não se deixar consumir como um mingau comido pelas bordas.”

Para os desabiscoitados, ainda uma minoria abraâmica que pode dar novos rumos à existencialidade humana, recomendo um livro magrinho, 120 páginas, de autoria de um especialista em assuntar alternativas históricas para a atual ordem mundial, que se encontra em vias de desintegração multissetorial. UTOPÍSTICA, nome do livro, é “uma avaliação profunda das alternativas históricas, o exercício de nosso juízo para examinar a racionalidade substantiva de possíveis sistemas históricos alternativos”. Seu autor, Immanuel Wallerstein, é ex-diretor do Centro Ferdinand Braudel, Universidade de Binghamton. UTOPÍSTICA tem tudo a ver com uma conciliação entre ciência, moralidade e política, na direção de um fim que preserve os valores pilastras da civilização planetária, posto que, no final das contas, a maior tragédia contemporânea é a da perda da legitimidade sistêmica, acarretando a torredebabelização do todo.

Proponho também um exercício. Convide pessoas, idades diferenciadas e não mais que oito. Releiam as opiniões acima transcritas e debatam sob as seguintes questões:

Por que perdemos de vista as grandes questões que vão definir o que o Brasil será no século XXI?

– Por que, hoje, se somos bem mais fortes que nos anos 50, os setores públicos que se dizem socialmente responsáveis só vivem de cortar, vender, desnacionalizar, fatiar, desmontar, desfazer, negar, contingenciar e demonizar os seus projetos e funcionários?

– Por que tanto marketing, slogans, anúncios, demagogias, fingimentos e jogo de poder diante de uma sociedade civil que se tornou aquedada?

Após ampla discussão peça a todos que cuidem carinhosamente dos seus títulos de eleitor. Para começar também a comer pelas beiradas. Que nem a recomendação do Frei Betto. E para defenestrar para bem longe as motocicletadas de um mandatário gigantescamente inculto, nada binoculizador, para o bem de todos e felicidade geral de um povo muito sofrido, sempre enganado pelos populismos dos escrotocratas.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social