1456 – ACONTECEU NO RECIFE


Há alguns anos, um jovem homossexual, já bastante enxovalhado pela sua condição gay, resolveu suicidar-se, saltando de um alto edifício do centro da capital pernambucana. Encontrando um amigo, este o convidou para assistir a palestra de um padre na Universidade Católica de Pernambuco. Quando sua decisão de se matar esvaiu-se e sua vida se tornou radicalmente sadia, permanecendo ele gay sem mais humilhar-se. Eis seu testemunho escrito:

Eu fui criado na Igreja. A minha mãe é ministra da Eucaristia. O lugar onde eu mais gosto de estar é na Igreja. Por eu ser gay, o padre da minha paróquia fez um duro sermão em uma missa. Olhando para mim, ele disse que as pessoas homossexuais têm um demônio. Quanto mais elas vivem, mais pecam. É melhor que não vivam muito. E os outros fiéis balançavam a cabeça concordando. De tanto ouvir isto, e de tanto ver os outros concordando, tomei uma decisão: ‘este demônio aqui não mais viver’. Eu decidi que no dia 17 de setembro de 2011 iria a um prédio público de dezoito andares, e me atiraria do topo. Escrevi uma carta à minha família e coloquei na mochila. Quando esse dia amanheceu, peguei o ônibus rumo ao local. Porém, encontrei no ônibus um amigo que me disse: ‘vamos ao simpósio da Universidade Católica’. Eu não queria ir, mas o meu amigo insistiu. Eu aceitei porque a Universidade ficava no caminho. De lá, eu seguiria para o prédio a fim de fazer o que tinha decidido. Ao chegar à universidade, vi na programação que à tarde um padre ia falar. Decidi ficar para ouvi-lo. Padre, quando o senhor fala, não imagina o que se passa na cabeça das pessoas que lhe ouvem. Suas palavras salvam vidas! Pelo amor de Deus, não pare!!

A palestra da tarde, na UNICAP, fez o jovem erradicar a ideia de suicídio, superando a depressão em que se encontrava.

O nome do padre? Pe. Luís Corrêa Lima, jesuíta, do Departamento de Teologia da PUC-Rio de Janeiro, que desenvolve pesquisas e estudos sobre história da Igreja, Modernidade, diversidade sexual e de gênero, tendo editado pela Vozes, um livro para todos aqueles que possuem sensibilidade ara com os possuidores de comportamentos diferenciados: TEOLOGIA E OS LGBT+: PERSPECTIVA HISTÓRICA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS, Luís Corrêa Lima, Petrópolis RJ, Vozes, 2021, 181 p. 

No prefácio de título Quem nos separará? do professor João Décio Passos, PhD em Ciências Sociais pela PUC-SP, ele esclarece: “Os grupos LGBTs denunciam com suas próprias existências uma sociedade e uma Igreja que ainda criam zonas de maldade irrecuperáveis, pecado sem perdão,   mecanismos  legítimos de exclusão. A reflexão que ora vem a público não pode temer o fato de que sua autêntica profecia evangélica provocará reações previsíveis dos ortodoxos profissionais.”

Segundo o próprio autor do livro que esclarece com argumentações sólidas, “o tema da teologia e os LGBT+ está longe de ser uma questão meramente abstrata, mas tem uma incidência visceral e decisiva na vida de muitas pessoas.”  

Sejamos cristãos adultos, como bem proclama o teólogo Karl Rahner, sem hipocrisias, moralismos e fingimentos. Que a parábola do bom samaritano seja amplamente estendida para todos os cristãos e não cristãos que ainda não sabem contemplar bem os reais problemas de uma sociedade que deveria melhor oombater a fome, o desemprego, as injustiças sociais, inclusive os despropósitos cometidos nas própias instituições religiosas. Rejeitando os negativismos, os preconceitos e as discriminações que apenas “extravacam o pogreço”, como dizia uma inteligência popular.     


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social