1454 – LER E ENTENDER PARA EDUCAR A MENTE


Serei eternamente grato às pessoas que me incentivaram a ler desde os primeiros anos de juventudade. Duas delas: meu saudoso pai, que tinha uma razoável biblioteca, contendo os livros principais do sociólogo-antropólogo Gilberto Freyre, do Alceu Amoroso Lima (que também escrevia sob o pseudônimo de Tristão de Ataíde, Humberto de Campos, Érico Veríssimo e de outros notáveis da sua época. A segunda pessoa que muito me incentivou a ler foi a professora Myriam Didier do Rego Maciel, diretora de escola pública estadual que morava defronte da nossa casa, no Recife,, cujo marido, Lauro, era proprietário de tipografia famosa. Na casa do casal existia uma portentosa biblioteca, destinada inicialmente para complementar a educação das suas cinco filhas: Adelaide, Heloísa, Bernardete, Dulce e Eneida, amigas nossas para o que desse e viesse, cinema, são joão, assustados, volibol, aulas de inglê e batepapos sem mínimas intenções afetivas.

Do meu saudoso pai, recebia todo ano, final de dezembro, o Almanaque do Tico-Tico, onde muito me divertia com as aventuras do Reco-Rec, Bolão e Azeitona. E mensalente também lia a revista Seleções do Readers Digest, da qual ele era assinante de muitos anos.

Um pesquisador economista mineiro, Cláudio de Mora Castro, de quem fui aluno no Mestrado em Planejamento Educacional na PC – Rio de Janeiro, dizia frequentemente que observava em sua visitas sociais as estantes de livros e dicionários da Língus Portuguesa que existiam na residência. Elas definiam o nível cultural do ambiente.

Atualmente, com o desenvolvimento das comunicações internéticas, as estantes se reduziram, reduzindo também os livros que orientam mentes e corações para uma existência crítico-construtiva de sólidas básicas humanísticas, posto que o mundo está mais voltado para máquinas eletrônicas que satisfazem múltiplas necessidades, muito embora mão possuam uma pensação sobrevivencial capaz de uma binoculização existencial mais efetivamente espiritualizada.

Sem menosprezar o desenvolvimento da tecnologia digital, cada vez mais evolucionária, as áreas humanísticas das principais universidades mundiais estão desenvolvendo pesquisas que favoreçam a evolução pensante de jovens e adultos do mundo todo.

Dois livros recentemente lançados muito contribuirão para o aprimoamente das pesquisas que muito alavancarão as Humanidades contemporâneas, na pós-pandemia que, embora perversa, muito favorecerá a emersão de novos pensares civilizatórios, proporcionando evoluções mentais capazes de dignificar mais o todo mundial.

O primeiro livro eu o destinaria para todos os candidatos a cargos eletivos, nas próximas eleições. Que essem rabiscativamente, a edição brasileira recente, que oferece, com erudição, lucidez, graça e dados fascinantes, múltiplas ferramentas para o desenvolvimento de mentes criativas e portentosas, desabestalhantes e amplamente desalienadas:  RACIONALIDAD: O QUE É, POR QUE PARECE ESTAR EM FALTA, POR QUE É IMPORTANTE, Steven Pinker, Rio de Janeiro, Editora Intrínseca,  2022, 464 p.  Uma leitura apaixonante, essencialmente analítica, que muito favorecerá nossa potencialidade mental, para atingimento de novos patamares de uma compreensão científica amplamente investigativa. O autor Pinker é professo de Psicologia na Universidade de Harvard, finalista por duas vezes do Prêmio Pulitzer e autor aplaudido mundialmente. Um livro que ilumina, inspira e emancipa a mente com rapidez, sempre defenestrando os cinismos negativistas dos lugares-comuns. Excelente livro para os pré-vestibulandos de todas as áreas. Páginas incrivelmente desabobalhantes.

O segundo livro é de uma pioneira do home-schooling, tendo sido ela mesma educada em casa pelos seus próprios pais, tornando-se versátil em latim quando tinha apenas dez anos de idade. E hoje integra o corpo docente do College of Wlliam and Mary, também dirigindo uma editora. O livro: COMO EDUCAR SUA MENTE: O GUIA PARA LER E ENTENDER GRANDES AUTORES, Susan Wise Bauer, São Paulo, É Realizações, 2021, 632 p. Um livro que tem um oferecimento singular: “Para a minha mãe, que me ensinou a ler, epara o meu pai que me passou todos os seus livros prediletos.

A autora ensina a como enfrentar as três fases de uma leitura: ler para conhecimento dos fatos, ler para avaliá-los e, finalmente, para a formatação das próprias opiniões. E autora vai alpem: depois de explicar a mecânica de cada fase, apresenta os gêneros, separados por capítulos e relata os principais debates acadêmicos sobre cada um deles, definindo os termos literários com uma clareza didática de muita valia, apresentando dicas valiosas, fazendo o leitor refletir sobre cada gênero literário.

No prefácio, Gabriel Perissé explicita: “Estamos em plena ‘Idade Mídia’. Tempo de velocidade vertiginosa, atualizações frenéticas, medo de ficar obsoleto. Por isso, mais do que nunca, vale a pena aprender a ler e a pensar com calma e profundidade. Conselho bem paradoxal, mas que nada tem de contraditório. A dispersão causada pela  pelo excesso de meios, modas e mudanças requer uma nova concentração de princípios e finalidades.

Como diz Umberto Eco em livro famoso – NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO, Jean-Claude Carrière e Umberto Eco, Rio de Janeiro, Record, 2010, 269 p. -, “o e-book não matará o livro, pois os usos e costumes coexistem e nada nos apetece mais que alargar o leque dos possíveis”.

Leiamos mais para entender melhor e ter uma mente portadora de amplas binoculizações existenciais.”


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social