1451 – DEMAGOGOS, NEGATIVISTAS E METIDOS A MORALISTAS


Nos últimos tempos, observo alguns profissionais lamentarem não analisar com mais acuidade alguns dos atuais problemas contemporâneos por não possuírem um conhecimento mais apropriado de História, quer mundial, quer nacional, quer da sua região.

Na área da graduação universitária, então, a ausência de conteúdo de História é dose pra elefante. Outro dia, num bate papo descontraído, afirmei que na Grécia antiga, pai da Democracia, existiam os idiotas e os emagogos. Idiotas eram todos aqueles que não se interessavam pelo debate dos assuntos públicos, enquanto por demagogos eram todos aqueles que se destacavam na área pública, habilidosos na conquista do apoio da maioria para suas iniciativas e projetos.

Demagogos, na Grécia antiga, eram os condutores do povo, que lideravam as assembleias, acelerando as decisões, seja por consenso, seja pela maioria dos presentes com direito a voto, posto que estavam de fora as mulheres, os jovens, os escravos, os idosos e os estrangeiros. O significado do termo demagogo modificou-se com o tempo, hoje adquirindo um outro sentido.

Entretanto, os idiotas de ontem estão se multiplicando nos tempos de agora. Em nome de interesses particulares, alguns estão menosprezando os atos e fatos políticos que influenciarão a sua existência. Outros, mais voltados para um ganhar-dinheiro-de-qualquer-maneira, se auto-proclamam “apolíticos”, como se todos nós não fôssemos políticos, embora não-partidários, o que é outra coisa completamente diferente.

Convencido estou que a barbárie se amplia consideravelmente quando os idiotas (no sentido grego e também contemporâneo) se multiplicam, sob o lema do “ter que levar vantagem em tudo”, adeptos que são do “depois do meu, o resto que se floda”.

Recordo-me de alguns idiotas encontrados na minha caminhada profissional. Um deles, adepto fervoroso dos tempos ditatoriais, um dia me perguntou por que eu tinha senso crítico, quando deveria estar remando a favor da maré que acoitava os privilegiados, utilizando meus poucos neurônios para ganhar dinheiro e sustentar melhor a família e ainda ter umas “minas” de acréscimo, pois o que valia mesmo “era ter dinheiro no pé do cipa”.

Fico a imaginar a qualidade de vida do derredor de um idiota desses. Talão (de cheque) em vez de talento. Arroto substituindo o pensar. O passado nunca existindo, a História às vezes apresentada através de conversas de se jogar na lata do lixo.

Para os filhos dos idiotas que pressentem que devem ser diferentes, indo muito mais além da pasmaceira cotidiana dos tempos familiares de agora, também distanciando-se quilômetros das drogas e das eguinhas pocotós, três iniciativas são salutares por excelência: afastar-se da rotina,  enfrentar o desconhecido e motivar-se para adquirir novos saberes fora do seu campo profissional. Sempre percebendo que nenhuma instituição ensina sucesso, conforme a lição imorredoura de Galileu Galilei: “Não se pode ensinar nada a um homem: só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”.

Para os idiotas de todas as idades e contas correntes, religiões e credos hedonistas, o Domenico de Mais, em seu livro A Emoção e a Regra, nos convida para uma nova maneira de enxergar o macro-derredor: “Nessa nova sociedade, que privilegia a produção imaterial, as necessidades do indivíduo são outras: tempo e privacidade, amizade, amor, ócio inteligente e enriquecedor, e a convivialidade. A última coisa que interessa é a ostentação”.

Se eu pudesse, gostaria de enviar a todos os idiotas do planeta uma conclamação, parodiando a feita pelo Karl Marx, nos meados do século XIX. Um alerta que muito beneficiaria uma nova humanidade, depois da erradicação da pandemia e o término da agressão do assassino Putin à Ucrânia: “Idiotas de todo mundo, percebei-vos quão tolos estais sendo, para deleite dos que os querem autômatos de um amanhã sem democracia !!”.

Por um mundo mais humano e menos idioitizável!!


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social