1442 – PARA FERA LIGADÃO


Passada a euforia do ENEM e dos diversos vestibulares públicos e particulares, ultrapassada a fase pandêmica, onde certamente quase todo mundo cumpriu as recomendações sanitárias, sem dar sequer um abraço forte em vestibulando(a) aprovado(a), chegou uma nova fase. A de se preparar para um ingresso no mundo universitário com um conhecimento mais taludo sobre o Brasil, Nordeste, nossa história, nossos feitos, frutos e amanhãs. Além de buscar possuir uma maior densidade cultural, fortalecendo uma mentalidade  humanística por demais exigida nos futuros bem próximos. Para melhor compreendendo os ontens, os aquis e agoras, os aléns futuros. Sem nunca perder a ternura jamais. Tampouco a solidariedade fraterna e a capacidade de se reinventar, sempre se portando como um aprendiz de tudo.

Para ficar mais ligadão, recomendaria aos novos universitários alguns livros desabestalhadores, desasnadores como dizia Monteiro Lobato, que um dia se referiu a Gilberto Freyre como o grande desasnador, para orgulho de todos os brasileiros, nordestino em especial.

Todo fera 2022, independentemente de sua posição classificatória e do curso escolhido, deveria desde já perceber-se integrado numa missão coletiva, a de contribuir para um projeto alternativo, que abra caminho para a construção de um futuro brasileiro sem exploração e sem preconceitos, politicamente de bom conteúdo ético. E de ser sempre capaz de ampliar o leque de alianças contra este modelo atual, mobilizando forças populares e assegurando a sustentação das políticas transformadoras, conforme ideário dos economistas desguediados e não teleguiados por mentalidades sectárias.

Para isso, nada como umas leituras descomplicadas, posto que estou de pleno acordo com o sonho definido por Juan de Mairena: “a finalidade de nossa escola é ensinar a repensar o pensamento, a ‘des-saber’ o sabido e a duvidar de sua própria dúvida, por ser esta a única maneira de começar a acreditar em alguma coisa”. Eis as que mais recomento no momento presente:

  1. QUEM SOU EU? E, SE SOU, QUANTOS SOU? UMA AVENTURA NA FILOSOFIA, Richard David Precht, SP, Ediouro, 2009, 336 p. Um livro diferente de Filosofia, um modo abrangente e competente de conhecer a ciências e as grandes questões filosóficas, tudo de forma prazerosa e lúdica, sem pedantices eruditas.
  2. Para ótimos relacionamentos com todos os seus derredores acadêmicos, comunitários e profissionais, uma biografia vivaz e singular de quem sabia pensar sem fingimentos nem salamaleques: COMO VIVER ou UMA BIOGRAFIA DE MONTAIGNE EM UMA PERGUNTA E VINTE TENTATIVAS DE RESPOSTA, Sarah Bakewell, Rio de Janeiro, Objetiva, 2012, 399 p. Para semear caminhadas existenciais, familiares e profissioais, sempre de olhos nunca nostálgicos, tampouco alienados. Nunca negativistas. Jamais sectários.
  3. Para um descanso sem percalços fóbicos, ignorando raivas, frustrações, tristezas, complexos, ansiedades e medos pós-vestibulares: ESPIRITUALIDADE EMOCIONALMENTE SAUDÁVEL: DESENCANDEIE UMA REVOLUÇÃO EM SUA VIDA COM CRISTO, Peter Scazzero, SP, Hagnos, 2013, 284 p. Uma leitura que favorece uma reestruturação interior, catapultando o Eu de cada um para objetivos integrados ao trinômio emocionalidade x espiritualidade x contemporaneidade.
  4. Para não tomar muito seus programas comemorativos, apresento-lhe um guia que muito o favorecerá na ampliação técnico-cultural de seus conhecimentos: A ARTE DA LEITURA: DIÁLOGO SOBRE LIVROS, Mortimer J. Adler e Charles Van Doren, São Paulo, É Ralizações, 2017, 128 p. Eis a primeira resposta dada por um dos autores sobre o termo leitura: “É uma palavra extremamente ambiciosa, pode ter uma infinidade de significados: ler para obter informações; simplesmente para se divertir e relaxar; ou para entender, uma leitura por meio da qual elevo minha mente de uma compreensão menor para outra maior.”
  5. Para não perder seu nível humanístico, mesmo com uma tecnologia de ponta pela frente, recomendo-lhe: NARRATIVAS DO HUMANISMO, Michel Serres, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2015, 304 p. Páginas que o farão sempre gente, jamais robô, boi de presépio ou parte de manada.

Parabéns procê, fera 2022! Perceba-se sempre inconcluso, aprendiz de tudo, sentindo-se um caminhante  evolucionário em direção à Luz!

Para todos, aprovados ou não, a mensagem de um ex-docente nunca desesperançado, parodiando duas letras de música popular brasileira: sejam sempre metaformoses ambulantes, para sabermos fazer a hora, nunca esperando para ver o que vai acontecer.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social