1441 – QUEM ANVISA, AMIGO É


Diante de mais uma inoportuna atitude de um presidente inculto e negativista, complexado por natureza e sempre ansioso em denegrir a seriedade das instituições científicas brasileiras, o presidente da ANVISA, Antônio Barra Torres, médico e alta patente da Marinha Brasileira, lhe enviou uma correspondência, elegante nos termos e amplamente contundente na cobrança de uma imediata retratação pública. Ei-la na íntegra:
“Senhor Presidente:
Como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiu que eu tivesse acesso à melhor educação possível para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente. Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas.
Nunca levantei falso testemunho. Vou morrer sem conhecer riqueza, Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”.
Como portador da Medalha de Amigo da Marinha, concedida em dezembro de 1990 pelo Comando do Terceiro Distrito Naval, tenho uma profunda admiração por aquela corporação, muito me sensibilizando a cobrança feita por um oficial superior médico a um mandatário sem qualquer apreço pela dignidade pessoal de quem quer que seja. Um tresloucado que pediu para deixar a corporação antes que por ela fosse expulso por atos injusticáveis.
Acredito piamente que as atuais Forças Armadas, em sua grande maioria, é composta de oficiais comprometidos com os amanhãs brasileiros, que sabem honrar a farda e que desprezam a arrogância dos incompetentes, a insolência dos truculentos e as leviandades dos ignorantes, além das injúrias dos pérfidos e das caras de pau dos aduladores, as grosserias dos deseducados e os fingimentos dos que nada entendem de organização e comando em matéria de prevenção sanitária.
A sociedade brasileira, Dr. Barra Torres, confia plenamente no trabalho da ANVISA, uma instituição que exerce suas funções com seriedade e plena responsabilidade social, jamais permitindo que asneirentos brabosos metam seu bedelho e desmontem uma imensa contribuição científica que a instituição edificou em prol da gente brasileira. Sua bravura cívica honra o lema Ordem e Progresso do nosso símbolo pátrio. E sua vida honrada jamais será ultrajada pelos que desejam construir um reino voltado para si mesmos.
Continue defendendo a vigilância sanitária do Brasil, Dr. Barra Torres! Muitas barreiras ainda terão que ser ultrapassada, embora a da mediocridade gerencial mandatária seja a mais perversa na atual crise mundial pandêmica, no Brasil também, às vésperas de uma nova eleição majoritária.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social