1419 – COMO APRENDER


O João Silvino da Conceição, irmão caminheiro, me surpreende vez por outra, apesar dos muitos anos de nossa amizade. Agora, pelo e-mail, a surpresa chega em formato de mensagem de filho, universitário de Medicina, em São Paulo, terceiranista.

O filho querido do Silvino, através de algumas linhas, estruturou um modo de aprender a se situar acima dos compêndios escolares. Uma maneira de agigantar-se como ser humano, brasileiro acima de tudo, nordestino pra valer, pernambucano de boa têmpera, a la Frei Caneca, um carmelita sem qualquer frescura, de valentia ímpar, fecundo que só.

Eis o texto enviado pelo garotão do Silvino, ontem, no Dia dos Pais:

Eu aprendi, pai… Aprendi que não se pode fazer alguém amar a gente, posto que o que deve ser feito é ser um alguém que possa ser amado, o resto sendo da escolha dos outros.

Aprendi, velho, que se demora anos para se edificar uma confiança, alguns segundos sendo necessários para destruí-la. 

Aprendi, meu amigo maior, que o que vale não é “o quê” você tem na sua vida, mas sim “com quem” você está nela, somente isso valendo a pena.  

Aprendi, coroa, que eu posso ficar encantado por alguém durante quinze minutos, sendo imprescindível, para ampliar a minha corte, saber um pouco mais do comportamento social e da estatura moral da cortejada. 

Aprendi, companheiro de Vida, que melhor do que comparar-se ao muito bom que os outros fazem, vale a pena procurar fazer o melhor que se pode.  

Aprendi ainda, amigão, que o que importa não é o que acontece com as outras pessoas, mas sim o que elas fazem para que isso possa acontecer, pouco importando quão fino seja o pedaço que lhe cabe, pois sempre haverá dois lados. 

Aprendi, pai, que sempre se deve despedir de pessoas amadas com palavras amáveis e carinhosas, posto que pode ser a última despedida. 

Aprendi, velho amigo, que se deve continuar andando até achar que não dá mais, definindo por heróis aquelas pessoas que fazem o que deve ser feito  no momento que deve ser feito, sem levar em conta as consequências nem as ameaças. 

Aprendi, professor, que há pessoas que amam demais, não sabendo demonstrar seu sentimentos através de gestos concretos. E também aprendi que quando estou com raiva tenho o direito de estar aborrecido, embora isso não me dê o direito de ser cruel em momento algum. 

Aprendi na própria carne que uma amizade verdadeira continua a crescer mesmo na mais longa distância, o mesmo acontecendo com um amor eivado de muita sinceridade. 

Aprendi, pai, que não importam as conseqüências, desde que os princípios sejam preservados nos caminhos do viver. E também aprendi que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e verem algo totalmente diferente. 

Aprendi, velho, que mais importante que ser esquecido pelos outros é saber aprender a esquecer de si mesmo, na luta por um mundo menos desigual.

Aprendi que mesmo quando se pensa que não se tem nada a dar, quando um amigo chora precisando de seu apoio, tem-se ainda muito fôlego para ajudar. Como aprendi que escrever, assim como falar, pode amenizar inúmeras dores e sofrimentos.

Valeu, Silvino, ter um filho arretado como esse! Fiquei feliz em vê-lo entendendo perfeitamente que meio e circunstância podem influenciar quem somos nós, embora sejamos nós os responsáveis por quem nos tornamos. Como aprendi que nossas vidas podem ser mudadas para melhor em questão de horas por pessoas que nem sabem quem somos nós. Graças a elas aprendi a amar. E a ser amado. E como aprendi…