1417 – POR UM INSTITUTO HERCULANO PIRES DE CAPACITAÇÃO ESPÍRITA


Na última semana, enquanto aguardava o retorno da Sissa, minha companheira, das suas compras semanais para nossa casa, principiei a ler um livro que um amigo me tinha presenteado há alguns anos: Ciência Espírita, J. Herculano Pires, 6ª. ed., São Paulo, Editora Paideia, 2005, 113 p. Reflexões que, de pronto, me deixaram muito mais espiritualmente orientado.

Logo no prefácio da sua filha Heloísa, ela declara com toda ênfase: “José Herculano clama pela criação de uma Universidade Espírita que permitiria a apresentação correta da Doutrina libertadora da ignorância, das sombras interiores. Mas essa universidade necessita de  indivíduos lúcidos, humildes e estudiosos que compreendessem a Doutrina Espírita e a praticassem.”

Confesso que o que mais me impressionou foi a intuição premonitória do Pires, logo no primeiro parágrafo do capítulo primeiro do livro: “A inquietação do mundo atual, na busca de novas soluções para os problemas humanos, abrange todos os setores de nossas atividades e teria necessariamente de afetar o meio espírita, Mas a nossa Doutrina não é uma realidade entranhada nas estruturas atuais. É um arquivo carregado de futuro, um vir-a-ser que se projeta precisamente no que ainda não é, na rota das aspirações em demanda. Confundi-la com as estruturas peremptas deste momento de transição e querer sujeitá-la às normas  e modelos do que já foi, é tentar prendê-la no círculo vicioso dos abortos culturais. O Espiritismo, rejeitado pelo mundo agora agonizante, não é cúmplice nem herdeiro, mas vítima inocente desse mundo como Jesus e o Cristianismo o foram no seu tempo.”

Tenho sido um leitor entusiasta dos escritos do José Herculano Pires (1914-1979), um autêntico apóstolo de Kardec. Ele foi considerado um dos analistas mais críticos dentro do movimento espírita, dada sua linha de pensamento fortemente racional, sempre combatente dos desvios, deturpações e mistificações das orientações basilares do Allan Kardec, mormente aquelas que emergiram no seio do movimento espírita brasileiro no século passado.

A tradução fiel feita por Herculano dos livros do Allan Kardec tem sido editada por várias editoras, a exemplo da Livraria Allan Kardec Editora (LAKE), da Paidéia e da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP). Ele também escreveu vários livros em parceria com o médium Chico Xavier (1910-2002).  Emmanuel, pela mediunidade de Chico, chamou José Herculano Pires de “o metro que melhor mediu Kardec“.

Faz-se indispensável, após a atual pandemia, a criação, no Brasil, quiçá no Recife, de uma instituição que se dedique à difusão da Doutrina Espírita, assestada na formação de evangelizadores herculanistas capacitados, multiplicando os ensinamentos transmitidos pelo Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador. À minha mente, sempre ajudado pelos amigos do Além, uma sugestão: IHPCESP – Instituto Herculano Pires De Capacitação Espírita. Uma instituição sem quaisquer fins lucrativos, composta de associados espíritas comprometidos com a disseminação do Pentateuco Kardecista  e outras páginas de Luz, favorecendo o desenvolvimento de um ambiente de mais solidariedade nos nossos meios sociais, cristão e não-cristãos, em prol de amanhãs mais ajustados aos ensinamentos de Jesus.

O apelo é do próprio Herculano: “O tempo voa, as exigências de uma reformulação dos conceitos humanos sobre a vida e a morte são simplesmente olvidados. Temos de criar a Universidade Espírita, onde a Ciência Espírita poderá desenvolver-se suficientemente para termos e ampliarmos os benefícios da Cultura Espírita no mundo. Só a Cultura Espírita efetivada nas instituições culturais superiores poderá nos franquear os portais da Era Cósmica.

No IHPCESP, poder-se-ia efetivar com dinamismo consistente as dez tendências pelo Jaime Ribeiro, na RIE – Revista Internacional de Espiritismo, maio de 2021: 1. Transmissões de reuniões públicas; 2. Novos formatos de cursos e estudos; 3. Novos modelos de salas de aula; 4. Melhor experiência do espírita; 5. Instituições abertas por mais tempo; 6. Maior divulgação da Doutrina Espírita; 7. Atendimento fraterno on-line; 8. Gestão digitalizada; 9. Soluções digitais e congressos; 10. Maior movimento federativo. Acrescentaria com fervor: uma fornida biblioteca digital, para espíritas e não espíritas se aprofundarem em suas pesquisas, estudos, escritos e análises.

Como eu gostaria de ver algumas amigas e amigos espíritas queridos botando para moer uma iniciativa que muito engrandeceria o cenário doutrinário nacional.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social