1413 – Humor Judaíco


Confesso meu orgulho felicidade em ter um montão de amigos judeus pelos quatro cantos do Brasil, alguns do outro lado do Atlântico e uma meia dúzia nos Estados Unidos. Todos sempre enviando notas e análises sobre as trumpalhadas de incultos dirigentes que almejam reeleições presidenciais, mesmo desprezando uma digna etnia, a negra, que se prepara para não decepcionar o ideário deixado pelo inesquecível Martin Luther King, aquele que pronunciou o muitas vezes por mim lido Eu Tive um Sonho.

De todos os amigos hebraicos, sem exceção guardo uma característica, a de possuírem um humor inteligente, muitas vezes até voltado para si mesmos. De um deles sinto uma saudade da gota serena: o Jacozinho. Folião que nem eu do carnavalesco Bloco da Saudade,quando tínhamos resistências musculares para os desfiles momescos, tudo se iniciando na calçada da Livro 7, do nunca esquecido Tarcísio Pereira.

O Jacozinha sempre costumava repetir o que tinha lido num livro que me presenteou no ano primeiro do atual século: “Se alguém te diz ‘és um burro’, não dês importância. Mas se duas pessoas te disserem a mesma coisa, atrela-te a uma carroça”.

Profissional altamente qualificado na área tecnológica, Jacozinho possuía uma efetivação de leituras de textos humanísticos nacionais e estrangeiros, possuindo um sólido nível cultural, que o fazia indispensável em todas as reuniões sociais que participava.

Nós detestávamos hipócritas, fingidos, babaovistas, boçais, farofeiros e merdálicos, aqueles que não se imaginam nunca inseridos nos interiores penicais do mundo.

O livro que foi presenteado pelo Jacozinho – Do Éden ao Divã: Humor Judaico, Companhia Das Letras, organizado por Moacyr Scliar, Patrícia Finzi e Eliahu Toker – contém deliciosas historietas pejadas de humor inteligente.

Numa das últimas eleições de Israel, conta-me Jacozinho, um chassid – um acendedor de lampiões que sabia que a chama não lhe pertencia – foi conversar com seu rabino. E logo foi dizendo:- Rabi, sonhei que liderava trezentos chassidim. Logo ouvindo do rabino uma recomendação pra lá de definitiva: – Volta quando trezentos chassidim sonharem que és o líder dele.

O que eu mais apreciava, quando desfilava no Galo da Madrugada com Jacozinho, era ouvir, durante o desfile, suas historietas, pra lá de cáusticas algumas, que ele desfiava sem parar, não deixando quieto ou extenuado quem estivesse nos seus derredores. Lebro-me de algumas delas até hoje, que me deixam com uma saudade danada dos papos daquele amigo, hoje sediado na capital paulista, CEO de uma grande empresa tecnológica.

Enumero algumas historietas do Jacozinho, homenageando toda a gente hebraica, de quem sou irmão desde Salomão, Isaac e Jacob. Servem para a obtenção de um sorriso-aperitivo, nesta época onde trocentos policiais ainda não encontram um sádico assassino:

1- Dois judeus estão sentados em silêncio num banco de praça há mais de duas horas. Finalmente, um deles dá um lomngo suspiro seguido de um oi saído do fundo do coração.

O outro logo responde: – Para mim, você vai ter que contar.

2- O Morris encontra-se com o Meyer de cara trombuda, logo lhe perguntando:

– Por que essa cara, Meyer?

– Eu vou te dizer a causa, meu caro. Na semana retrasada, minha tia Rozete morreu e me deixou duzentos mil dólares de herança. Na semana passada, meu tio Chaim morreu e me deixou trezentos mil dólares de herança. Mas nesta semana ninguém morreu! Não é horrível?

3- Um turista americano desembarca no aeroporto Ben-Gurion e toma um taxi, encarecendo ao motorista: – Leve-me para onde os judeus se desfazem em lágrimas.

Imediatamente o chofer atravessou toda Jerusalém, indo diretamente para o Ministério das Finanças…

Israel sempre foi um país por mim muito amado, terra natal de um Irmão Libertador de todos nós que muito amo, sempre me cobrindo ELE de múltiplas Graças.

Para a minha amada gente hebraica, palavras de Coélet ben: “Os olhos do sábio conseguem enxergar, enquanto os dos tolos perambulam na escuridão. Entretanto, o mesmo destino os aguarda.” (Eclesiastes 2,14, IN: TANAH, São Paulo, Livraria Sêfer, 2018. 2431 p.)


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social