1412 – LIÇÕES DE VIDA
Não sei o que seria de mim se não pudesse contar com o apoio de meu milhão de amigos, parodiando o Roberto Carlos, esse filho de Dona Laura, do calhambeque–bibit dos tempos de minha juventude, quando namoricava como gente grande, sem jamais emborrachar ninguém.
Uma das pessoas mais próximas do meu dia-a-dia lúdico era uma paraibana danadinha por carnaval, com a alegria de um savoir-vivre contagiante, muito bem vacinada contra as pieguices e as cavilosidades de gregos e troianos. De nome Liana e de tamanho padrão, era profissional competente, promotora de justiça da gota serena, muito bem conceituada no cenário regional. E muito querida nos blocos de carnaval nas épocas de Momo.
Dela guardei lições notáveis, todas oportunamente bem endereçadas, daquelas que chegam no momento devido, quando as nuvens tornam-se terrivelmente acinzentadas, atordoando interiores antes nunca devidamente advertidos. Certo dia, ela me enviou o poema Amor com Saudade, extraído do livro Mar, Ilha & Amor, que lhe foi remetido por Carla Cristina Rodrigues Nunes, do Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco: “Vou fazer uma canção de amor / que em nada parece uma canção de amor. / Não vou falar de campos ,/ nem de rosas e cravos, / nem de estrelas, nem de luar, / vou apenas falar de saudade. / Vou cantar um amor com saudade, / com saudade de um amor. / Não repetirei as canções de Castro, / nem vou falar como Bandeira ou Neruda, / cantarei tão somente o amor / com saudades de um amor. / Tudo tem um limite, / menos a saudade do meu amor. / Tudo tem um fim, / menos o meu amor com saudade. / Não é da noite que tiro o verso, / nem é do vento que tiro o som, / retiro da imensa saudade do meu amor. / Sinto a saudade, sinto a dor. / Sinto o amor, sinto saudade.
A Liana, que é prima do Zé Lino, também cobrão da área de Informática, possui uma energia muito acima dos níveis maiores. Trabalhando, brincando e frevando, ela demonstra uma vontade de viver que é própria dos bem nascidos, dos abençoados por Deus. Sua presença de espírito é ímpar. Outro dia, a um amigo que andava meio jururu, ela aconselhou: “Mano, é preciso aceitar que umas vezes somos pombo e outras vezes somos estátua.” Uma tirada de umas boas centenas de metros de profundidade para quem sempre se imagina tampa de foguete, a bala que matou Kennedy, como dizia a Celinha Labanca, outra bem dotada de energia cósmica.
Da Liana também recebi, certa feita, via correio eletrônico, um poema do Dorivaldo Gondim, o pai eternizado da Djanira Gondim, arquiteta que tanto contribuiu para o aperfeiçoamento urbano do Recife, hoje residente em Lisboa. Eis o poema do Dorivaldo, A POESIA TAMBÉM É UMA ARMA: Uma arma poderosa e santa / Que alenta e estimula os bravos / Que os impiedosos aquebranta / E quebra grilhões de escravos. Arma grandiosa, arma pura…/ Que ergue, que eleva e ilumina / Enviada da Altura como uma centelha divina. / Que não se mancha de impureza, / Que não se associa com o mal / Não se embebe em sangue humano / Mas que vence qualquer tirano / Lhe mata de desengano / E faz do Homem um Imortal.
Vale a pena continuar vivendo, para conhecer pessoas como você, Liana, uma paraibana arretada, pra lá de muito ótima. Uma nordestina dezoito quilates!!
Sempre solidário com sua saudade pelo seu pai, amiga, um dos 500.000 vitimados pela COVID-19 no Brasil, apelidada de “simples gripezinha” por quem nunca soube manifestar solidariedade.