1410 – UMA VELA NO ESCURO
Alguns estudiosos do Primeiro Mundo demonstram, na atual crise pandêmica, uma crescente preocupação com os espertíssimos embromadores que estão vitimando uma imensa maioria populacional, nos diferenciados níveis de escolaridade. Os fundamentalismos religiosos se expandem pelos modernos meios de comunicação, enquanto muitos outros sabidos ganham fortunas com anjos, ETs, tarôs, cristais, satanismos, continentes perdidos, copos de água milagrosa, horóscopos, aparições, cristais pelos olhos, baralhos, fitinhas e penduricalhos que dão sorte, acuando, para terrenos movediços, os salutares valores da racionalidade, de decrescente valorização entre os incultos e incautos.
As novas crendices e superstições estão substituindo, nos centros urbanos metropolitanos, as mulas sem cabeça, as pernas cabeludas, a comadre Fulôzinha, o boi da cara preta e os demais enganabestas que povoavam a imaginação dos nossos ingênuos, em passados não muito distantes e em alguns momentos atuais. Inclusive mandatários.
Num livro não muito recente, O Mundo Assombrado Pelos Demônios, editado no Brasil pela Companhia das Letras, magistralmente escrito para todos, Carl Sagan divulgou dados percentuais assustadores: 95% dos americanos são “cientificamente analfabetos”, prevalecendo, nas terras do Tio Sam, uma lei similar à de Gresham, segundo a qual “a ciência ruim expulsa a boa”. Sagan alerta com muita acuidade: “As consequências do analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em qualquer outro período anterior”. E acrescenta sem disfarce: “Dos 535 membros do Congresso dos Estados Unidos, raramente 1% chegou a ter alguma formação científica significativa no século XX”.
No seu livro, Carl Sagan também revelou que, recentemente, a diretoria de uma grande companhia de produtos eletrônicos inquietou-se com o seu derredor social, ao constatar que 80% dos inscritos numa seleção simplória não conseguiram aprovação num teste de matemática elementar. E ele ainda denunciou: os colegiais norte-americanos não estão estudando o suficiente, apesar do desempenho extraordinário de uma reduzida minoria. E mais disse: enquanto o ano padrão dos Estados Unidos tem 180 dias letivos, a Coréia do Sul tem 220 dias, a Alemanha tem 230 e o Japão lidera com 243 dias.
Com dados recentes à época, Sagan fez comparações: enquanto o aluno norte-americano médio, de escola secundária, utiliza 3,5 horas por semana nos deveres de casa, o aluno japonês da quinta série estuda, em média, 33 horas semanais. E aponta a consequência: com metade da população dos Estados Unidos, o Japão forma anualmente duas vezes mais cientistas e engenheiros com diplomas de nível superior! No Brasil em isolamento social, quantos ainda estão engatinhando desgovernados pelas letras primeiras, incontáveis ainda de estômagos vazios e pais desempregados, com um Governo Federal postado de inculto e negativistas, fascistoide por derradeiro.
Somente uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional poderá alavancar a Educação Brasileira, se levada competentemente a sério pela nossa sociedade. Por todos os setores, inclusive por uma classe média que anda mais preocupada em malhar o corpo e empinar peitos e bundas para aparecer em zapzaps que com reciclagens mentais paradigmáticas, mais consistentes e menos autofágicas.
Um presidente norte-americano, George Washington, já dizia em 1790: “Nada é mais digno de nosso patrocínio que o fomento da ciência e da literatura. O conhecimento é, em todo e qualquer país, a base mais segura da felicidade pública”.
E o presidente George Washington nem curso superior de Sociologia possuía. E nem era ex-capitão ….
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social