1409 – O PROFETA DO JESUS HISTÓRICO


Um artigo do jornalista Giovanni Guaita, relacionado ao livro Jesus de Nazaré: a história que desafiou 2.000 anos, Aleksandr Mien, 15ª. edição, Vargem Grande Paulista SP, Cidade Nova, 2004, 312 p., merece ser reproduzida para conhecimento de todos aqueles que ainda não leram o livro. Reproduzo abaixo partes essenciais:

Em tempo de espiritualidades abstratas, desconectadas de realidades concretas e muitas vezes alienantes, um encontro com o Jesus histórico é fundamental para o estabelecimento de uma transcendentalidade profundamente conectada com a realidade, tendo como ponto de partida o Mistério da Encarnação, por meio do qual o Verbo se fez carne e passou assim a habitar entre nós (cf. João 1:14).” 

É importante ressaltar, segundo Guaita, que o aprofundamento no conhecimento do Jesus histórico não anula de forma alguma ou diminui a sua divindade. Ao contrário, por meio deste livro conheceremos mais de perto a face do Deus que se fez homem, abrindo mão de todas as suas prerrogativas de poder e privilégios reais para viver em uma realidade concreta, com todas as dificuldades comuns aos homens do seu tempo.

Segundo pesquisa feita, o Padre Aleksandr Mien nasceu em Moscou em 1935, sendo filho de um casal de judeus. Sua mãe, desde a infância, sentia-se atraída de forma misteriosa pelo cristianismo, tal atração culminando com o seu batismo e do seu filho. Biólogo de formação, o Padre Aleksandr Mien, logo reuniu em tornou de si um grupo significativo de intelectuais. As Igrejas pelas quais ele passava constituíam-se em espaços plurais e diversos, considerando a composição da assembleia que o ouvia atentamente. Nelas era possível encontrar camponeses de mãos calejadas e intelectuais das mais diversas áreas, como poetas, filósofos e professores universitários.

Segundo ainda o artigo de Guaida, o Padre Aleksandr Mien pode ser identificado como um intelectual, mas também como um pastor que estava atento aos clamores de seu povo e que sabia interpretar os sinais do tempo e como tal fundou grupos destinados à catequese, ao acompanhamento de doentes e idosos, além de grupos de estudos das Sagradas Escrituras. Sobretudo, podemos identifica-lo como um profeta, considerando a sua coragem de buscar formas distintas de apresentar a Boa Nova a uma sociedade marcada pelo ateísmo institucionalizado e por um forte sentimento antirreligioso. Este padre era detentor de uma significativa cultura intelectual que se materializou em uma vasta produção, sendo esta apreciada pelos mais exigentes intelectuais, mas também admirada por pessoas simples. O Padre Aleksandr Mien era um homem do diálogo e grande entusiasta do Concílio Ecumênico Vaticano II, embora fosse membro da Igreja Ortodoxa.

No artigo de Guaida, ele revela que a obra mais celebres do Padre Aleksandr Mien: o seu livro Jesus Mestre de Nazaré, um texto rico em conteúdo histórico e intelectual, tendo inclusive, Flávio Josefo como uma de suas referências. Este livro acabou se  constituindo em um mapa que nos revela quem foi Jesus, qual o contexto que ele esteve inserido e sobretudo ressalta a sua humanidade, tonando-se também um importante manual da espiritualidade encarnada. Em virtude de seu conteúdo extremamente significativo, esta obra logo tornou-se um dos livros mais lidos na URSS e traduzido nas mais diferentes línguas. Assim, o Padre Aleksandr Mien foi responsável por apresentar a figura de Jesus Cristo a milhões de pessoas, muitas das quais nunca tinham ouvido falar sobre o “Mestre de Nazaré”, sendo o padre também responsável por reaproximar muitos que haviam se distanciado e até mesmo abandonado a sua fé.

Ao longo das páginas de Jesus Mestre de Nazaré, o autor, com uma linguagem fluída é responsável por nos mergulhar por completo no seu enredo caracterizando e expondo o contexto no qual Jesus e seus contemporâneos estavam inseridos, apontando inclusive a situação de dominação que estavam submetidos no plano local, nacional e internacional.

Dono de uma vasta produção, o padre Aleksandr Mien foi morto aos 55 anos com um golpe de machado em sua cabeça, o assassino nunca sendo encontrado e as verdadeiras razões para esse crime nunca foram realmente esclarecidas, o que gerou uma serie de especulações. Todavia, a vida e o apostolado deste homem ficam como orientações para uma espiritualidade comprometida, tal como foi Jesus, o Homão da Galileia.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social