1402 – UMA SAGA INESQUECÍVEL
Passada a pandemia, vale historicamente muito uma visita não apressada à Sinagoga Kahal Zen Israel, a primeira sinagoga fundada no Brasil, sediada na Rua do Bom Jesus, no bairro do Recife, na capital pernambucana. Lá se iniciou uma gigantesca epopeia, quando em 1654, 23 judeus, homens, mulheres e crianças, deixaram o Recife, em busca de uma nova terra, dada a expulsão dos holandeses e judeus que lá haviam se estabelecido.
O grupo foi o primeiro formar uma comunidade judaica na América do Norte. Passados os primeiros anos de adaptação, eles colaboraram com o desenvolvimento, então incipiente, do comércio, com a organização inicial do mercado financeiro, a construção de modernos hospitais, a luta pela emancipação política, a formação de renomadas universidades e centros culturais. Os judeus do Brasil contribuíram muito para que Nova York fosse hoje a capital do mundo.
Para quem se interessar por essa saga extraordinária, a Companhia Das Letras acaba de lançar o livro Arrancados da terra: Perseguidos pela Inquisição na Península Ibérica, refugiaram-se na Holanda, ocuparam o Brasil e fizeram Nova York, Lira Neto, 1ª. ed., São Paulo, Companhia das Letras, 2021, 399 p. Um livro que recebeu o seguinte elogio do historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, também notável ensaísta e diplomata, um dos maiores pesquisadores do domínio holandês em Pernambuco, no século XVII: “Uma narrativa fluente e erudita que resgata da ignorância de quase todos e do esquecimento de uns poucos a saga seiscentista do grupo de judeus de origem portuguesa que singrou de Amsterdam ao Recife e de já à futura Nova York, abraçando os dois Atlânticos.”
O autor é um cearense de Fortaleza, nascido em 1963, jornalista e escritor, ganhador por quatro vezes do Prêmio Jabuti. Com excepcional senso analítico, ele mapeia as vidas errantes dos pioneiros que formaram, no Recife, a primeira comunidade judaica das Américas, daqui partindo para ajudarem a construir Nova York.
Páginas de muita bravura, criatividade empreendedora e muito amor ao Pai de todos nós.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social