1394 – SÍSIFOS MODERNOS
No mundo de agora, século 21 agitado e complexo, mas nem por isso pior do que os do passado, exceto por uma pandemia que alerta gregos e troianos para a construção de futuros menos cretinos e egolátricos, encontramos diferentes espécies de Sísifo, aquele personagem que não consegue integralizar suas propostas porque busca sempre soluções paliativas, ajeitadoras, que terminam por complicar ainda mais a situação dele, gerando toneladas de críticas e protestos. Muda de posicionamentos como muda de cueca, na vã ilusão de estar efetivando sua verdadeira vocação, quando na realidade não está concretizando “necas de pitibiriba”, como dizia minha saudosa avó Zefinha, também madrinha, preservando apenas seu fundo já em plena liquidação nas avaliações dos cidadãos ativos.
Li, anos atrás, um livro muito porreta do médico psicoterapeuta Roberto Shinyashiki, que mostra como se é possível alcançar vários objetivos a partir do respeito para com a capacidade interior de cada um. Intitulando suas páginas de Sem Medo de Vencer, Shinyashiki explicita os comportamentos daqueles que, pobres de amor, pobres de cultura e pobres de estratégias políticas, provocam fracassos, procuram sempre mentir cinicamente, ampliando dificuldades e acercando-se de mil limitações, inclusive de auxiliares nada competentes, encontrando sempre esfarrapadas desculpas pelos seus insucessos e tropeções estratégicos.
Os que se auto classificam vaidosamente de ótimos, geralmente descuidam-se das suas habilidades, desamam-se, destroem estratégias recomendadas e sempre estão vivenciando situações complicadas, transformando lagartixas em baitas jacarés. Mesmo sem vacina, fingindo não se desesperar ao se defrontar com um jacaré de mesmo, ainda que bem pequenininho, preferindo passear de motoca acenando para idiotas. Sem conseguir colocar a pedra no topo da montanha, tal e qual Sísifo, eles estão mais preocupados com o aparecer do que com o êxito. Não terminam nada que iniciam, estão sempre reiniciando, planejam quase nunca, não cumprem o estabelecido, sendo destituídos de ritmo, vivendo à cata de geniais soluções, procurando sempre sobreviver no quase, não se comprometem com nada, olvidando-se de detalhes fundamentais, desrespeitando os compromissos, por menores que eles sejam. Inclusive com os auxiliares mais próximos.
Shinyashiki, no trabalho editado pela Editora Gente, aponta as três montanhas que devem ser escaladas pelos que postulam uma existência consciente, repleta de boas ultrapassagens, recheada de realizações pessoais criativas, aureoladas por uma autoestima essencialmente comburente: a profissional, a afetiva e a da transcendência. A primeira desenvolve no ser humano as condições necessárias para sua subsistência, ele também contribuindo para que os do seu derredor tornem-se menos infelizes. A segunda, a afetiva, relaciona-se com um convívio social estável, sem quaisquer outras intenções, salvo a de promover um ambiente harmônico o menos agressivo possível. A terceira, relacionada com a necessidade de se sentir parte integrante do Todo, evoluindo do animal para o ser humano, percebendo a lição maior do filósofo: “só existe uma coisa pior do que achar que seu caminho é o único: é pensar que o seu caminho é o melhor”.
Em isolamento social, mais velho e um pouco mais experiente, carrego apenas a absoluta certeza de que não sei nada, diante de inúmeros manuéis que jamais folhearam um manual. E minhas recentes leituras ratificam tudo, consolidando uma certeza, a de que não se deve ter medo de ser feliz, apesar de todos os pesares causados por uma COVID-19 pra lá de filha da puta. E dos descuecados incultos e incompetentes, negativistas de cabo a rabo, chefes de generais metidos a sanitaristas.
Quando será que a Educação Brasileira vai se tornar de excelente qualidade?
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social