1382 – SOBRE A EXISTÊNCIA DIVINA


Religião e política são assuntos que somente devem ser enfrentados com ampla serenidade analítica, sem prevaricações cavilosas ou fundamentalistas, seja por ignorância cultural ou posturas ideológicas sectárias.
Outro dia, preso à residência por causa da atual pandemia, manuseie um livro que despertou muitíssimo a minha intenção, proporcionando-me momentos duradouros de leituras repetitivas de inúmeros parágrafos e incontáveis sublinhadas.
O livro é de autoria de um físico quântico indiano, PhD pela Universidade de Calcutá e Professor Emérito da Universidade de Oregon, Estados Unidos, atualmente com 83 anos, referência mundial nos estudos que buscam convergência entre ciência e espiritualidade a partir do ativismo quântico. Pesquisa por mim feita, no Google, revela que “sua teoria baseia-se na ideia de transformação pessoal e das sociedades por meio da apropriação de soluções trazidas por uma nova compreensão da vida, fundamentada na primazia da consciência.” Seu livro:
Deus não está morto: evidências científicas da existência divina, Amit Goswami, São Paulo, Aleph, 2009, 299 p.
O testemunho de Deepak Chopra, médico indiano especializado em Filosofia Oriental, aplaudido mundialmente pelos seus debates de alto nível com o físico Leonard Mlodinow, autor consagrado de O andar do bêbado, é definitivo:
Ciência e religião não se dão bem porque são ambas sistemas nos quais há muitos preconceitos limitadores que se chamam dogmas. O materialismo científico é tão dogmático quanto a religião. Um diz: “A matéria é todo o deus de que precisamos”. O outro diz: ”Ou o meu Deus ou nenhum”. Essas coisas são preconceitos. Por isso, eu pergunto: por que aceitar esses dogmas? A física quântica se inicia com a ideia de que há uma unicidade potencial. A espiritualidade se inicia com a mesma ideia.
Como as suas teorias são aceitas no Brasil?
Os brasileiros, em geral, são muito expressivos em suas emoções. Por isso, são muito receptivos a mudanças, à criatividade, à expansão da consciência, que vocês adquirem por hábito muito rapidamente.
O senhor uma vez afirmou: “Se você deseja algo que não esteja em consonância com o movimento da consciência, você terá um obstáculo”. O que é essa consciência?
A consciência é a habilidade de conexão ‘não localizada’ que nós temos, essa interconectividade. O que não é algo que a matéria pode encontrar. Uma vez que você reconheça isso, poderá entender que há algo do qual a matéria mesma emana, algo de que essa própria matéria é criada. A matéria se torna o hardware para expor, expressar e explorar a consciência. Portanto, nós somos essa consciência, que não tem uma definição particular. Quem somos? Somos fundamentalmente consciência. E essa consciência ‘não localizada’ é a base do ser que conecta todas as coisas.
Como, num mundo cada vez mais materialista, podemos nos abster do pensamento lógico e entender a conexão universal entre as almas?
Esse entendimento nos é dado através da física quântica, na qual temos como base o conceito de ‘não localidade’, que é experimentável e verificável. Dessa forma, não nos resta dúvida sobre ele.
E como podemos alcançar esse entendimento?
É justamente por isso que temos de aprender as coisas. E é por isso que eu tenho dado palestras em todo canto a fim de ensinar as pessoas. Já progredimos bastante até aqui, não apenas com os workshops, mas agora há cursos de mestrado e PhD nos quais podemos instruir as pessoas em como construir relacionamentos e fazer do mundo um lugar melhor.
E o que é a alma?
A alma é um aspecto verificável de nós mesmos. Quando exploramos esses arquétipos aos quais eu frequentemente me refiro, como verdade, amor, beleza, justiça, quando nós os exploramos, o fazemos com o pensamento e as emoções, os quais não são pensamentos e emoções comuns, que não elevam, que não expandem nossa consciência. Pensar nesses arquétipos e senti-los expande nossa consciência. Se pegar, por exemplo, o arquétipo da justiça e for justo com outra pessoa, então você sentirá que incluiu o outro em sua consciência – a inclusão é expansão.
Um dos exercícios no workshop foi justamente a busca interior pelo arquétipo de cada um, o qual teria sido escolhido numa vida passada. Algumas pessoas disseram ter conseguido acessar esse arquétipo. Como podemos ter certeza de que as respostas encontradas vieram de uma vida anterior e não simplesmente do pensamento presente?
Não podemos ter certeza absoluta. Mas há alguns indícios, como o fato de podermos lembrar de algo com surpresa, de termos lembranças descontínuas. Outro bom indício é quando repentinamente nos tornamos muito seguros de que este (arquétipo) é o certo, sem que haja nenhuma dúvida. Esses são sinais que nos conectam à consciência suprema. Se a minha consciência se expandir, essa expansão virá como surpresa, pois é um movimento descontínuo. E eu terei certeza disso, porque vem do fundamento do ser.
Como as almas continuariam a viver após a morte do corpo?
Certas memórias que nós acumulamos, especialmente as advindas de algum novo aprendizado, como quando aprendo a cantar ou a resolver cálculos matemáticos, existem no princípio da ‘não localidade’, o qual torna possível que, além de mim, outras pessoas de diferentes épocas e lugares também as usem. Por isso, dizemos que existe uma lei da consciência pela qual cada pessoa estaria ligada a uma série de outras pessoas através do tempo e espaço e que elas estariam ligadas como pérolas num colar.
Como a física quântica pode transformar o cenário caótico em que o mundo está mergulhando em termos político-econômicos, de relações humanas e do aparente colapso de instituições tradicionais, como a família?
Porque a física quântica é baseada nesses princípios fundamentais que nos permitem ver o mundo como uma família, eu não faço as coisas de forma egoísta, mas para o bem de todos. Essa atitude de consciência comunitária é de extrema importância porque passamos a perceber o todo. O lugar onde me insiro é tão importante quanto eu mesmo. Quando nós nos conectamos, entendemos que uma porta foi aberta e que podemos resolver todos os problemas.
Esse seria o caminho para a felicidade plena?
Não existe apenas um caminho. Mas a primeira coisa que devemos ter em mente é a criatividade. Por isso, todo o indivíduo tem de encontrar seu próprio caminho, usando de alguma individualidade, mas sem excluir os outros. Nós podemos ser cooperativos, nos movendo em nosso próprio caminho criativo, com o total entendimento de que amamos e que o amor nos dá toda força positiva e aumenta nossas chances de obter sucesso e de manifestar o que somos.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social