1381 – OS PORCOS ASSADOS
Os últimos acontecimentos, nacionais e estrangeiros, deixaram inúmeros com as orelhas coçando, os olhos abugalhados e os eggs irritadíssimos. Como a COVID-19 proporcionou a emersão de incontáveis merdalidades mundiais, o reconhecimento da eleição democrática de um, a cientificidade de uma vacina feita em país progressista não-democrático aos nossos olhos, militares metidos a médicos sanitaristas, novelas mediocrizantes, campanhas eleitorais de marqueteiros bostálicos sem criatividade alguma, para aqui apenas citar as mais ressaltadas nos quatro cantos do planeta.
Um amigo de longa data, catarinense dos bons, antenados desde jovens diante das mutações existenciais que estão acontecendo, careca de saber que as searas desta terra de Cabral estão a necessitar de uma baita reestruturação moral, me envia uma fábula interessante. A historieta chama-se A Fábula dos Porcos Assados e lá vai:
“Certa vez, aconteceu um incêndio num estado do norte do Brasil, alguns porcos morrendo assado. Os habitantes da região, experimentaram a carne assada e acharam deliciosa. Desde então, quando queriam comer porco assado, incendiavam uma pedaço da cidade.
Mas como tudo não corria às mil maravilhas, o processo começou a preocupar o SISTEMA, dados os prejuízos que eram imensos, incalculáveis. As queixas se avolumavam, a exigir a reestruturação do SISTEMA. Congressos, seminários e conferências passaram a ser realizadas mensalmente. No XX Congresso, os especialistas atribuíram o problema a fatores vários: a indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam ficar, a inconstante natureza do incêndio, o ambiente excessivamente verde, a umidade da terra e ao serviço de informações meteorológicas local, que não acertava o lugar, nem o momento e a quantidade das chuvas, desfavorecendo bons incêndios.
Um dia, um incendiador AB/SODM-VCH – Acendedor de Bases, Sudoeste Diurno, Matutino, bacharelado em Verão Chuvoso- chamado João Bom-Senso, resolveu proclamar que o problema era muito fácil de ser resolvido: bastava matar o porco, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o numa armação metálica sobre brasas.
Avisado por um xeleleu, desses que vivem de congresso em congresso babando ovos direcionais, o Diretor Geral de Assamento mandou chamar o João ao seu gabinete:
– Tudo o que o senhor disse está bem dito, mas não funciona. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemológicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria?
– Não sei – disse João.
– E os especialistas em sementes e árvores importadas?
– Sei não.
– E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos dos Incêndios?
– Não sei – repetiu João.
– O senhor percebe que a sua ideia não vem de encontro ao que necessitamos? O senhor não vê que, se tudo fôsse simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução? O senhor com certeza compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas sem chamas! O que o senhor espera que eu faça?
– Não sei, balbuciou o João.
– Diga-me se os nossos engenheiros em Porcopirotecnia não são considerados personalidades científicas?
– Sim, parece que são.
– O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso SISTEMA é muito bom. Não é?
– Não sei.
– O senhor tem que trazer soluções para problemas específicos. Temos que melhorar o SISTEMA e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende?
– Realmente, eu estou perplexo! – respondeu João.
– Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Recomendo-lhe que não insista nessa sua ideia, pois lhe seria prejudicial.
João Bom-Senso, coitado, não disse mais nem um “ai”. Sem despedir-se, assustado, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu. Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reforma e Melhoramentos do SISTEMA:
– QUE FALTA ARRETADA FAZ O BOM-SENSO!!
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social