1375 – BIOGRAFIAS DO HOMÃO


Aproveitando a quarentena com a Sissa, inspiração maior a cada amanhecer, consultei algumas das biografias que mais me impressionaram do homem que exerce uma influência revolucionária mundial há mais de vinte séculos. Eis os textos consultados:
1. JESUS, O MAIOR HOMEM DO MUNDO, A. N. Wilson, São Paulo, Prestígio,2007, 297 p.
O autor, nascido em 1950, em seus escritos biográficos costuma mesclar os gêneros jornalismo, biografia, história e ficção, sempre animados pelos olhos de um romancista, tudo amplamente subordinado pela vertente da História. Seus escritos tendem a ser bastante aceitos entre o público em geral, sempre franco e muitas vezes conservador em seus pontos de vista. No prefácio, ele declara que “o Jesus da História e o Cristo da Fé são dois seres distintos, com histórias muito diferentes. É difícil reconstruir o primeiro e, na tentativa de fazê-lo, é provável que pratiquemos dano irreparável contra o segundo”.
Como a religião é um dos seus assuntos prediletos, Wilson foi treinado para o sacerdócio após a Universidade, tendo posteriormente renunciado à sua fé no final dos anos 80 do século passado, retornado ao rebanho vinte anos depois, embora argumente em alguns dos seus trabalhos que “a religião inspirou muito dos piores males do homem: guerra, preconceito, intolerância, ódio racial e medo”.
No livro acima, uma das preocupações temáticas de Wilson, está baseada no exame de inúmeros textos da época, inclusive os Evangelhos, onde ele inclusive contesta certas passagens da vida do Nazareno, apresentando outras interpretações mais vívidas.
SUMÁRIO: Prefácio; 1. Jesus, o judeu; 2. Paulo; 3. O peixe cozido, ou como ler um Evangelho; 4. A assombrosa infância de Jesus; 5. O precursor; 6. Galileia; 7. Paz: a multiplicação dos pães; 8. O homem montado num jumento; 9. O homem do cântaro e o jovem nu; 10. O julgamento; 11. Jesus Cristo; Bibliografia.
Uma leitura que amplia o conhecimento sobre o ser humano mais revolucionário da história da Humanidade, favorecendo uma aproximação amorosa para com Sua Mensagem, que só pregou a fraternidade entre todos seres humanos, jamais instituindo qualquer instituição religiosa.

2. JESUS – A VERDADEIRA HISTÓRIA, Jacques Duquesne, São Paulo, Geração Editorial, 2005, 306 p.
Em 15 textos sedutores, é narrada a caminhada de um revolucionário de mesmo, que mudou a história do mundo. Sem que o autor lance mão de falsa erudição nem de intermináveis citações documentais. O autor analisa as hipóteses até hoje amplamente debatidas sobre quem era Jesus: um idealista utópico inconsciente dos riscos e ameaças que se expunha, um maluco adorável que entristecia a mãe com a história de ser filho de Deus, ou um embusteiro que curava cegos com a própria saliva, sempre arrastando uma multidão de seguidores e ouvintes? O autor é um historiador francês nascido em 1940, de renome internacional.

3. DIÁLOGO SOBRE JESUS: QUEM FOI O HOMEM QUE MUDOU O MUNDO?, Corrado Augias & Mauro Pesce, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2011, 322 p.
Uma questão ainda é muito considerada nas comunidades cristãs do planeta: “Quem foi, na realidade, no seu aspecto físico – carne, sangue, músculo – o homem que, há mais de dois mil anos, percorreu a terra de Israel, falou às multidões, curou os enfermos, transmitiu uma extraordinária mensagem de esperança e acabou torturado num patíbulo infame? De que crime foi acusado para merecer aquele suplício atroz? Que papel desempenharam, no seu ‘processo’, o povo de Jerusalém, a hierarquia religiosa judaica e as autoridades romanas com suas tropas de ocupação?”
No Prefácio intitulado Muitas perguntas, algumas respostas, o Corrado Augias, escritor, jornalista e político, além de apresentador de televisão e autor de vários livros aplaudidos, afirma: “Nunca saberemos com certeza qual era sua aparência, o som de sua voz ou o brilho do seu olhar, mas podemos tentar vislumbrar o homem na sua historicidade, naquelas terras e naquela época. Podemos aproximar-nos da sua figura grandiosa e buscar conhecê-lo assim como ele era, antes que desaparecesse atrás da espessa cortina da teologia.”
Com o apoio de Mauro Pesce, um biblista renomado e professor titular de História do Cristianismo da Universidade de Bolonha, Augias, mediante a construção de diálogos amplamente elucidativos, ampliou o conhecimento sobre Jesus, ou Yehoshua ben Joseph em hebraico. Um diálogo, onde o biblista fez o seguinte esclarecimento prévio: “Estou convencido de que a pesquisa historiográfica não prejudica a fé, tampouco o obriga à crença. É claro que, às vezes, ela pode levar a questionar alguns aspectos da imagem confessional de Jesus, mas isso leva a uma reformulação da fé, e não à sua negação. Por outro lado, algumas afirmações grosseiramente antieclesiásticas também sofrem os efeitos dos questionamentos da pesquisa. Nesse caso, porém, temos as condições para uma atitude laica mais madura, e não a obrigação de abraçar a fé.”
Na orelha do livro, uma informação preciosa: “Ao longo dos séculos multiplicaram-se sobre Jesus diversas fábulas e lendas, fruto da curiosidade – mas, talvez, se poderia dizer da ânsia – de se conhecer quem ele foi realmente, antes que o manto da teologia o cobrisse, escondendo sua figura histórica.” O livro revela um Jesus judeu, fiel à Lei de Moisés, amante do seu povo e das suas tradições, sendo crítico a aspectos que julgava “ultrapassados” ou “secundários”, portador de um projeto de renovação centrado no resgaste dos marginalizados. Detentor de uma personalidade complexa, nunca integralmente revelada, Jesus era uma figura solitária, sempre coerente com seus princípios até a morte na cruz.

4. A ÚLTIMA SEMANA: UM RELATO DETALHADO DOS DIAS FINAIS DE JESUS, Marcus J. Borges & John Dominic Crossan, Rio de Janeiro, Pocket Ouro, 2010, 264 p.
Os autores, especialistas em história do cristianismo, fazem um relato detalhado dos oito últimos dias da vida do Cristo entre nós, condenado por propagar uma condenação incisiva sobre as injustiças sociais da época, num ato de profunda e fundamental significação política. Uma reportagem amplamente embasada no contexto social e histórico-cultural de uma época de dominação romana. Sem pieguices nem vitimismos e dolorismos, um relato para todos aqueles que buscam conhecer melhor a mensagem do homem mais arretado de ótimo da história da humanidade. Que muito amo acima de tudo.
Os livros acima são textos que ampliam a enxergância e consolidam a fé dos cristãos de todos os matizes, que não apreciam edulcorações que muito fabricam, se distanciando dos fatos realmente vivenciados.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social