1367 – REFLEXÕES ENXERGANTES DA PÓS COVID-19


Para quem deseja analisar os futuros pós pandêmicos do Brasil, erradicando múltiplas merdalhadas analíticas explicitadas nos últimos meses por ansiosos por um minutinho das redes sociais e televisivas, a Editora Nova Fronteira lançou recentemente uma coletânea de reflexões de analistas brasileiros reconhecidos pelos talentos comprovados. Análises feitas por 50 brasileiros, das mais variadas áreas do conhecimento, entre os quais podemos ressaltar, aqui, numa amostra significativa em ordem alfabética: Felipe Santa Cruz, Fernanda Torres, Fernando Gabeira, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, Joaquim Falcão, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Marcelo Adnet, Marcos Azambuja, Mary Del Priori, Merval Pereira, Paulo Niemeyer Filho, Pedro Bial, Roberto Medina, Sérgio Etchegoyen e Vinicius Lummertz.
Na orelha primeira do livro: “Mudar o mundo significa mudar o homem, e assim também todas as suas instituições. Se o mundo se transformar por si, por sua força natural e vital, obriga-nos a questionar (ou talvez recuperar) nossa essência humana, em busca de um equilíbrio que, da maneira mais cruel e evidente, de impõe como necessidade.”
O nome do livro recém editado: O Mundo Pós-Pandemia; Reflexões Sobre Uma Nova Vida, José Roberto de Castro Neves (org.), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2020, 416 p. Ouso, abaixo. extrair linhas gerais de vários dos temas analisados pelos especialistas, não citando os autores para desfavorecer ideologizações idióticas dos que apenas seguem orientações partidárias, religiosas, nostálgicas e outras influências advindas de um não-pensar contaminado por uma incultura planetária recheada de tecnologicismos que apenas impossibilitam as evoluções intuitivas dos seres humanos, robotizando-os, submetendo-os a outras formas de escravidão tão vexatórias quanto às de um passado vivenciado por gente irmã vinda das nações africanas.
Abaixo, uma amostra dos assuntos tratados, sem desmerecer os demais, todos ótimos. Poucas linhas para induzir reflexões balizadoras para uma evolucional nova caminhada planetária:
MEDICINA – “Tudo que estamos vivendo nesta epidemia do coronavírus já aconteceu anteriormente. Com a diferença, até o momento, de não ser uma crise com a dimensão das relatadas nos séculos passados. Em todas elas, as mudanças que se seguiram foram decorrentes do aniquilamento demográfico, que modificou o panorama econômico. Estamos longe disso.”
HUMANISMO NA MEDICINA – “Essa medicina, sobre fundamentalmente olhar o outro, só evoluirá sobre esse marco se permanecer fiel à grandeza das descobertas dos dois últimos séculos: o rigor metodológico, o espírito crítico permanente, a recusa de dogmas e ideias preconcebidas, a consideração do demonstrado pelo experimento científico. Hoje, como ontem, essa exigência permanece.”
ECONOMIA – “Considerando que o fenômeno é global, o prognóstico é ruim para os políticos no poder, de modo que, provavelmente, vamos ter o encerramento desses populismos de quinta categoria ocorrendo em vários países, incluindo este aqui onde estamos.”
COMUNICAÇÃO – “Sabemos que em nenhuma área haverá mais espaço para enganações, trabalhos meia-boca; de uma consulta médica a uma aula na universidade, de uma ação de comunicação à escolha de uma ação para investir na bolsa de valores. É o inverso disso. Teremos a necessidade de fazer melhor e de cada vez compreender as consequências de nossas ações sobre os fatos.”
JORNALISMO – “Na disputa por corações e mentalidades, a pandemia deu ao jornalismo uma dianteira ainda que não reconhecida pelos seus detratores. E nem poderia o ser, já que esse é o sustentáculo de suas convicções extremadas.”
POLÍTICA – “A peste escancarou também a extrema pobreza e, sobretudo, a desigualdade com que convivemos cotidianamente como se fossem as coisas de vida. Milhões de ‘invisíveis’ surgiram do nada para assombrar os governantes, que não os detectavam nem mesmo nos programas sociais.”
URBANISMO – “Desenha-se um futuro menos obscuro e mais esclarecido, de mais ciência e menos religião. Neste futuro, mais próspero e pacífico, é preciso assegurar a igualdade de gêneros, os direitos humanos, a liberdade religiosa, a segurança de ir e vir. O respeito à água deverá ter um lugar de destaque no novo normal.”
INDÚSTRIA – “O mundo pós-pandemia será, de todos, o mais dependente da inteligência e da tecnologia. O comércio eletrônico se expandiu fortemente após a ocorrência do Sars-CoV-2. É de se esperar que volte a crescer numa escala sem precedentes.”
LIVROS – “Os canais e processos da indústria editorial vão evoluir no mundo pós COVID-19, mas o livro continuará sendo uma ferramenta única, com o poder de alargar nossa mente e restaurar nosso ânimo.”
EDUCAÇÃO – “Será uma oportunidade única para mapear as melhores soluções encontradas por professores e sistemas educacionais do mundo no momento que se viram obrigados a fornecer aos pais, de todas as classes sociais, orientações sobre como melhor ajudar no desenvolvimento acadêmico de seus filhos.”
PROJETOS SOCIAIS – “Diante dessa pandemia sem precedentes, em que o risco não respeita classe social, poder e dinheiro, nunca esteve tão claro que somos todos iguais. O momento é de muita reflexão para melhorarmos como seres humanos e, juntos, construirmos um mundo melhor. Sempre com o olhar para o outro.”
MEIO AMBIENTE – “Ainda estamos no século XIX quando se trata de saneamento básico. Esse é um fator de insegurança biológica. Se a pandemia de coronavirus nos impulsionar a resolver esse problema num prazo mais curto, já teremos dado um passo fundamental.”
COMPORTAMENTO SOCIAL – “O isolamento social, outro nome do confinamento em casa, impôs uma mudança radical no uso temporal, fazendo sobrar um tempo que antes não existia, impondo uma nova invenção dos dias e a reorganização da vida doméstica.”
UNIVERSIDADES – “Na era da economia do conhecimento serão mais difíceis ensino de massa, intercâmbios locais e globais, complexas redes de pesquisa e o livre fluxo do conhecimento sem as veias tecnológicas abertas pelo vírus. O acaso de isolamento social foi grande mobilizador. Digo acaso de propósito, lembrando Jaques Monod, Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, e epistemólogo. Defendia a tese de que o acaso faz a necessidade. O vírus está fazendo.”
EMPREENDEDORISMO – “O principal conselho que deixo a todos os empreendedores é que sejam obstinados pelas suas empresas. E se vocês quiserem construir algo grande de verdade, aprendam rápido. A vida empresarial definitivamente não é uma linha reta, mas um grande zigue-zague em que precisamos, com velocidade, aprender a mudar de opinião e reconhecer nossos erros.”
PARTIDOS POLÍTICOS – “Já virou, no popular, carne de vaca falar mal dos partidos políticos. Pois não é que o ambiente geral propício à ressignificação de tudo o que envolve seres humanos, nossa relações e nossa vida no planeta acaba criando uma janela para que os partidos também façam não uma cirurgia plástica, mas uma reengenharia completa, quebrando de vez a lógica que conecta atraso e fossilização?”
Para os que acreditam na reencarnação como eu, recomendo ainda algumas rabiscadas meditativas nos seguintes textos:
– O capítulo XVIII do livro A Gênese, do Allan Kardec, São Paulo, LAKE, 24ª. ed., 2013, 360 p.:
– O texto A Dupla Vista – Conhecimento do Futuro – Previsões, no livro Obras Póstumas, Allan Kardec, São Paulo, LAKE, 15ª. ed., 2013, 320 p.;
Vidas Vazias, do Divaldo Franco (Pelo Espírito Joanna de ngelis), Salvador, LEAL, 2020, 211 p, principalmente o capítulo 30.
– O Cap. 24 do Evangelho de Mateus.
A binoculização dos sinais dos novos tempos compete a todos nós. Somente os obtusos, os nostálgicos, os alienados e os mantenedores das suas gaiolinhas de ouro não assimilarão as diretrizes já estabelecidas há muitos anos pelos filhos da Criação, os antecipadores dos amanhãs cósmicos.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social