1364 – VAMPIROS EMOCIONAIS NA COVID-19


Lamentavelmente, num contexto planetário contemporâneo agravado por uma pandemia a servir de mil e tantas desculpas muito esfarrapadas, inúmeros humanos, dos mais diferenciados setores públicos e empresariais, estão se comportando quilômetros afastados de um mínimo ético exigido. Exemplos mil de bandalheiras, superfaturamentos, noticiários amedrontadores, fake news e fingidas solidariedades estão pululando nos quatro cantos do mundo, principalmente num país como o Brasil, de seculares tradições vigarísticas das classes privilegiadas.
Podem ser classificados de vampiros aqueles que cinicamente sugam, sem nada retribuir. Sugam energia emocional através de atrações múltiplas. Normalmente se postam com mil e um encantos embromadores, quando não oferecendo vantagens de milhões através de promoções hipnóticas.
Os vampiros do século XXI não se levantam do túmulo à noite. Moram onde a gente mora, muitos fazem parte da família, outros são colegas de trabalho ou de faculdade, inúmeros integram o corpo de fiéis de igrejas, uns ocupam altos postos executivos e outros, mais artistas que os demais, são filiados a clubes de serviço, partidos políticos, sindicatos, associações de moradores, corporações militares, associações profissionais e canais eletrônicos de apoio aos coitadinhos. Sem falar dos parceiros sexuais e de jornadas esportivas, os primeiros exigentes ou indolentes, os demais predadores do ideário olímpico, hoje aviltado pela supremacia das comercializações criadas pelas necessidades de combater a pandemia.
Os vampiros modernos são portadores de características chamadas pelos especialistas de distúrbios da personalidade. Levam os outros à loucura, diferentemente dos portadores de neuroses ou psicoses, que enlouquecem a si próprios, com fantasiosas imaginações e contagiantes obsessões.
Na literatura empresarial atual, existe até uma tipologia em contínua expansão. Os mais conhecidos tipos de vampiros são:
Vampiro anti-social: viciado em agitação; pouco se importando com as normas sociais, adora farra e tudo o mais que seja estimulante, mesmo que ilegítimo. Não tem nada a retribuir.
Vampiro histriônico: vive para receber atenção e aprovação. Fazer bonito sempre, mesmo de fingimento, tudo o mais sendo apenas detalhes. Perito em guardar para si suas motivações. O comportamento dele se destina quase sempre a enganar a si mesmo mais que aos outros.
Vampiro narcisista: de ego enorme, costuma ser pequeno em todo o resto. Nunca pensa nas outras pessoas.
Vampiro obsessivo-compulsivo: viciado em segurança. Não se alegra em magoar os outros, mas não deixará de fazer se ameaçado seu instinto controlador.
Vampiro paranoico: tem por meta saber a Verdade, banindo toda ambiguidade de sua vida. Vive de acordo com normas concretas que acredita gravadas em pedra. Está sempre alerta para os indícios de desvios dos outros, menos dos seus parentes próximos, filhos inclusive.
Algumas características vampirescas observadas no atual mundo pandêmico:
– Os VE se veem sempre como vítimas inocentes de forças que estão além do seus controles.
– Os VE não são maus. São mental e culturalmente imaturos.
– Os VE podem ter mais de uma das tipologias acima descritas. Ninguém tem todas.
Para efetivar um bom combate às ações predatórias dos vampiros emocionais, basta adotar algumas das seguintes estratégias de combate:
1. Identifique-os, conheça o passado deles e conheça as suas metas.
2. Faça investigações externas sobre o que dizem e o que disseram nos ontens e anteontens.
3. Faça o que eles não fazem, seja coerente.
4. Preste atenção em seus atos, e não em suas palavras.
5. Identifique as estratégias hipnóticas utilizadas, pelas redes sociais e propagandas televisivas.
6. Observe suas batalhas de combate, evitando as improvisações.
7. Deixe os fatos falarem por si.
8. Meça muito bem suas palavras ao escolher um bom combate.
9. Ignore os seus acessos de raiva, se se esquecer de criticar ou de elogiar.
10. Conheça os seus limites.
11. Conhecimento é uma virtude; o vício se instala na superficialidade adotada.
Balize-se por algumas reflexões notáveis:
1. “Um tronco de árvores pode boiar por 20 anos nas águas de um rio, mas não se transformará nunca em crocodilo” (Ditado da África Central)
2. “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”. (Galileu Galilei)
3. “Aperfeiçoar é pensar sem restrições. Pensar sem restrições é pensar criativamente”. (Russell L. Ackoff)
4. “Aqueles que não sabem, mas pensam que sabem, são conselheiros mais perigosos do que aqueles que não sabem, mas sabem que não sabem”. (Russell L. Ackoff)
5. “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; é melhor tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final; preferível na chuva caminhar, que em dias tristes em casa se esconder; prefira ser feliz, embora louco, que em conformidade viver”. (Martin Luther King)
6. “Quem exagera o argumento, prejudica a causa” (Hegel)
7. “Em relação ao meio termo, o homem inteligente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém”. (Rubem Alves)
8. “As coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão” (Carlos Drummond de Andrade, Memória)
E siga sempre bem cumprindo o dodecágono das organizações bem sucedidas:
1. Ter líderes autênticos, ao invés de apenas “chefes”, cuja autoridade é legitimada.
2. Decidir em tempo hábil, através de assessores eficazes.
3. Criar espaços para o desenvolvimento de lideranças.
4. Servir sempre, o poder de servir sendo o único poder legítimo na atividade.
5. Pôr o presente a serviço do futuro.
6. Planejar lentamente e executar rapidamente.
7. Zelar para que tudo ocorra no momento certo, poupando tempo e recursos.
8. Enfocar o trabalho na contribuição, nas oportunidades e nos resultados.
9. Criar e aprimorar auxiliares capazes.
10. Priorizar os líderes, de forma clara e transparente.
11. Viver num clima de emulação permanente, abominando rivalidades ou competições afobadas.
12. Estimular o conhecimento para produzir riquezas, os músculos cedendo lugar a cérebros.
E perceber-se sempre uma metamorfose ambulante, como dizia um famoso menestrel brasileiro, hoje da eternidade nos inspirando sempre.
Em tempos de pandemia, caminhar sempre precavido dos vomiteiros de ódio, dos MM – Messias Merdálicos, dos mentalmente abobados e dos incultos de carteirinha, sempre se sentindo acuados.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social