1354 – COMO ULTRAPASSAR A VISÃO TECNICISTA DO ESPECIALISTA


Com a pandemia do COVID-19, inúmeros apressadinhos resolveram dar um “stop” em suas caminhadas existenciais egolátricas e hedonistas para encarecer aos mais próximos algumas leituras que lhes proporcionassem uma ampliação das sua enxergâncias de especialistas em quase nada de um todo bastante míope, dada seus frágeis níveis humanístico, distanciados léguas mil de conteúdos mínimos de Ciências Humanas.
Para um amigo fraterno de infância, especializado em química petrolífera de subsolo, atendendo um telefonema seu meio angustiado por não saber conversar sobre assuntos de vida com antenados netos pré-vestibulandos, preparei algumas leituras recentes que muito ampliarão sua convivência dialogal com os parentes jovens, estudiosos todos e que estimam bastante o vovô Ado (nome fictício para não entornar o caldo). São cinco livros pequenos, notavelmente descomplicados, que amplamente elucidam, sem as complexidades dos eruditismos ostentatórios dos nunca didáticos. Ei-los, numa sequência que considero a mais enriquecedora possível:

1. FILOSOFIA PARA OCUPADOS – DOS PRÉ-SOCRÁTICOS AOS TEMPOS MODERNOS EM 208 PÁGINAS
Lesley Levene
Rio de Janeiro, LeYa, 2019, 208m p.
Um livro indispensável para quem busca refletir sobre questões existenciais. Um livro leve, sucinto e divertido, para ser lido em qualquer tempo e lugar. Um livro que analisa questões vitais debatidas ao longo de milhares de anos, que levaram Voltaire a concluir magistralmente:
“A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda.”
Uma leitura que seguramente despertará a vontade de saber cada vez mais sobre inúmeras indagações contemporâneas, aprimorando nosso pensar sempre inconcluso, posto que todos somos meros aprendizes de tudo.

2. DIÁLOGO DE CULTURAS
Leandro Karnal
São Paulo, Contexto, 2018, 192 p.
Um autor de mil e uma entrevistas sedutoras e profundamente didáticas, que sempre externou que “educar não é adestrar, mas ampliar e estimular o repertório para que cada ser faça parte da aventura humana. A educação pela arte é poderosa e pode mudar, para sempre, a vida de alguém.”
Segundo o autor, sempre é fascinante ampliar a binoculização muito além das paredes técnicas dos especialistas. Lendo com atenção, sempre destrinçando parágrafo por parágrafo, é aprimorar o olhar além dos seus derredores, sabendo combater preconceitos e discriminações, imbricando temas diferenciados em busca de novas interpretações, quiçá inovadoras.
Um livro que bem ressalta a diferença entre medíocres fascistas e democratas historicamente determinados.

3. 21 IDEIAS DO FRONTEIRAS PENSAMENTO PARA COMPREENDER O MUNDO ATUAL
Fernando Schüler & Eduardo Wolf (organizadores)
Porto Alegre, Arquipélago Editorial, 2017, 240 p.
O livro retrata ideias de pensadores contemporâneos, vitais para um entendimento do papel de cada um numa sociedade que evolui estonteantemente, desfavorecendo as mentalidades mais arrumadinhas e fundamentalistas. Os diversos temas ressaltam parametricamente: uma ideia é conhecimento, é informação gerada, é um anseio de mudança.
Os textos selecionados são ferramentas indispensáveis para debates esclarecedores sobre questões vitais sobre o mundo atual e os nossos amanhãs.

4. O DILEMA DO PORCO ESPINHO: COMO ENCARAR A SOLIDÃO
Leandro Karnal
São Paulo, Planeta do Brasil, 2020, 192 p.
O autor viaja pela modernidade líquida, expressão cunhada por Zygmunt Bauman, analisando a solidão dos que vivem soterrados nos whatsApps e caixas de e-mails lotadas de informações, muitas bobagens, algumas falácias, rezas invocatórias, mensagens afetivas, produtos exóticos, remédios que levantam muitas coisas mortas, eliminando distâncias e enfrentamentos de uma solidão que se encontra disseminada pelos quatro cantos do mundo, camuflada pelas práticas e posturas da eletrônica moderna.

5. CRENÇA, DÚVIDA E FANATISMO: É ESSENCIAL TER ALGO EM QUE ACREDITAR?
Osho
São Paulo, Planeta, 2015, 254 p.
Se você deseja ler reflexões sobre algumas questões contemporâneas – Qual o motivo da necessidade humana de acreditar em algo?, Como devemos encarar as afirmações feitas pelas religiões?, Como podemos nos afastar das verdades impostas e seguir pelo caminha da dúvida e da descoberta? –, o livro acima contém balizamentos de um dos mestres espirituais mais inspiradores do século XX, reconhecido mundialmente pelas suas contribuições para a ciência da transformação pessoais.
O livro analisa inquietações interiores que estão afetado a caminhada de milhões, mormente agora quando o planeta está sendo abalado por uma pandemia de consequências nada previsíveis. E disseca didaticamente sobre, segundo ele, as sete religiões do mundo: 1. A orientada pela ignorância; 2. A orientada pelo medo; 3. A orientada pela ambição; 4. A religião da lógica, do cálculo.
As outras três são consideradas religiões mais verdadeiras: 5. A religião da inteligência; 6. A religião da meditação; 7. A religião do êxtase, o samadhi.
Um livro que que analisa uma questão basilar no século XXI: É essencial ter algo em que acreditar?
Livros que ampliam a humanização dos especialistas, a grande maioria ainda embatucada diante de uma célebre reflexão feita pelo saudoso economista brasileiro Celso Furtado:
“O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos num triângulo retângulo. Mas será que o triângulo será mesmo retângulo?”
Saibamos ler muito além das tecnicalidades temporárias, para apreender melhor sobre os nossos basilares amanhãs planetários !


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social