1346 – AMPLIANDO ENXERGÂNCIAS


Diante das pandemias reais ou fabricadas, deixando os sectários disputando nacos transitórios de mando, às vésperas de mais uma Semana Santa, relembremos uma inesquecível advertência do inolvidável Dom Hélder Câmara, sempre amado ex-arcebispo emérito de Olinda e Recife: “O Cristianismo que difundimos no Continente, atribuindo tudo a Deus e quase não apelando para a iniciativa e a responsabilidade do homem chamado, pelo Criador, a dominar a natureza, a completar a Criação, a conduzir a História, alimentou nas Massas latino-americanas um sentimento passivo, fatalista e mágico”.
Está na hora de todos, cristãos e não-cristãos, sem firulas egolátricas nem fricotes vitimistas, perseguirem uma auto avaliação corajosa, descobrindo seus pontos fracos, suas comunicações eletrônicas caluniosas e nada construtivas, suas agressividades para com os desvalidos e suas posturas midiáticas apenas marqueteiras, oferecendo sugestões que resultem em maiores aspirações para um desenvolvimento mais humano e solidário de todos os povos, capazes de convencer a maioria sem enganações nem protelações demagógicas.
Sempre se deve acreditar firmemente, na evolução da caminhada terrestre, embasando-se na orientação dada por Lucas 14,28: “Quem dentre vós, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro para completá-la?”. O que talvez o apóstolo não avaliou na devida conta, os tempos eram bem outros, foi o agigantamento da cobiça delinquente na construção desses empreendimentos, hoje também captadores de muitos milhões de dólares ilegais por debaixo dos panos, iludindo idiotizados e desesperançados, que sempre imaginam soluções mágicas para velhos e cruciantes problemas mundiais, solucionáveis todos, se forem assimilados efetivamente as mensagens do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.
Juntemos as sadias mentes dos cidadanizados do planeta, antes que vírus ainda mais destruidores emerjam nos amanhãs terrestres, sendo tarde demais. Saibamos compartilhar a criatividade empreendedora dos jovens de mentes sadias, compreendendo que os amanhãs já chegados serão muitíssimo diferenciados de um hoje que já se está indo embora, incentivado pela atual pandemia.
Uma crise só se torna saudável quando não se contenta em ser apenas um amontoado de críticas aos outros, mas quando se torna, oportunamente, um julgamento de si mesma. E isso somente advirá com mais efetividade através de uma promissora Educação Brasileira, favorecendo um PCC – Pensar Criativo Cidadão, erradicando os sinais da nossa atual desconstrução nacional: o racismo, a subserviência da nossa elite econômica aos mecanismos globais de dominação imperialista, o fundamentalismo religioso e o autoritarismo latente em todas as nossas classes sociais, todos sempre atentos para uma advertência famosa do educador Paulo Freire: “Todo cuidado para que o oprimido não se torne opressor”.
Para quem deseja ampliar mais sua enxergância futura, dois textos podem muito favorecer um caminhar brasileiro mais resoluto e consequente:
O primeiro é A GUERRA CONTRA O BRASIL, Jessé Souza, Rio de Janeiro, Estação Brasil, 2020, 208p. O autor é graduado em Direito, Mestre em Sociologia pela USP e também PhD em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, Alemanha. E ainda Pós-Doutor em Psicanálise e Filosofia pela The New School for Social Research, New York.
O livro analisa o a união do poderia norte-americano com o crime organizado no Brasil para destruir a sociedade e o Estado brasileiros, tudo integrando um projeto mundial de poder planejado em mínimos detalhes. Diz a primeira orelha do livro: “Esta é uma leitura para quem acredita que os fatos do mundo não são obra do acaso, como quer nos fazer crer uma imprensa que isola os fatos e fragmenta a realidade para torná-la incompreensível. … Este mundo tem donos que efetivamente conspiram, todos os dias, para reproduzir seus privilégios e explorar os que foram feitos de tolos. Geralmente, tolos são os que acreditam no acaso e na coincidência.”
Um texto analítico que ressalta as precondições históricas que ensejaram as dominações pretendidas pelos portentosos do momento. Ele é composto de três partes, além de uma Introdução: A construção da ideologia do imperialismo informal americano; A elite colonizada brasileira e sua estratégia: a transformação do racismo em moralismo; e As metamorfoses do neoliberalismo.
Um livro que desnuda fingidos cinismos executivos travestido de combatividade à corrupção.
O segundo livro é A TIRANIA DOS ESPECIALISTAS: DESDE A REVOLTA DAS ELITES DO PT ATÉ A REVOLTA DO SUBSOLO DE OLAVO DE CARVALHO, Martin Vasques da Cunha, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2019, 192 p. O autor é PhD em Filosofia Política pela Universidade de São Paulo.
O livro é composto de oito ensaios: 1. Os testamentos traídos; 2. A abolição da vergonha; 3. A tirania dos especialistas; 4. Em busca do eros perdido; 5. A tragédia da política; 6. O impasse da esquerda; 7. As ruínas circulares; 8. As máscaras do exílio.
No primeiro ensaio, um último parágrafo: “Portanto, pouco importa o que aconteça no futuro. Mesmo com o lento desaparecimento do ‘marxismo ocidental’, conforme a expectativa dos atuais céticos, chegará a hora em que a política da fé, como sempre, cumprirá seu papel efetivo para que uma administração faça o que tem de fazer – a saber: governar para o Bem Comum.”
Ensaios que ressaltam o quietismo político dos alienados, a tirania dos especialistas, a ilusão tecnocrática e a política do cretinismo cênico.
Leituras deveras contundentes, mas que consolidam enxergâncias muitos pontos acima das palhaçais bananas dos que se imaginam eternos no poder.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social