1340 – JORNADAS DE RESGATES


Recebi da Sissa, minha inspiração diária, antecipando a estadia no Portal de Gravatá no Carnaval, o romance mediúnico Nas Trilhas do Umbral – Eulália, Mônica Aguieiras Cortat, Capivari-SP, Editora EME, 2019, 200 p., com uma dedicatória que muito me sensibilizou, significando uma postura comportamental equilibrada sem fricotes nem exageros. A autora do livro, médium natural de Vitória, ES, é formada em administração de empresas, pós-graduada em contabilidade. Autora premiada, escreve desde os 13 anos, também sendo autora de dois CDs bastante aplaudidos nos quatro cantos do Brasil.
Na Introdução, Ariel, o mentor espiritual da autora, explica o que é um umbral: “transposição entre o mundo dos vivos e a espiritualidade, vão da porta entre essas duas realidades, que parecem tão diferentes, mas não passam de uma continuação eterna do caminho na imortalidade para o espírito. É o lugar para onde vão aqueles que se sentem perdidos, deslocados, culpados ou infelizes de alguma forma”. E esclarece: “Como espíritas, não podemos aceitar a eternidade das penas, se acreditamos num Deus infinitamente superior, expressão de bondade e amor absolutos. Nosso Pai amoroso quer que o filho aprenda e evolua. Por isso, a dádiva da reencarnação”.
Para quem não está familiarizado com o linguajar kardecista, sugerimos um suporte valioso: o dicionário O Espiritismo de A a Z, 4ª. edição, coordenado pelo Geraldo Campetti Sobrinho, Brasília, Federação Espírita Brasileira, 2013, 964 p., onde encontramos os seguintes esclarecimentos do que seja umbral: “dolorosa região de sombras, erguida e cultivada pela mente humana, em geral rebelde e ociosa, desvairada e enfermiça”. E mais: “É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos”. Ou ainda: “Funciona como região destinada a esgotamento de resíduos mentais, uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezado o sublime ensejo de uma existência terrena”.
Na trama desenvolvida no livro Nas Trilhas do Umbral, Fabrício, um suicida, é procurado por pessoas solidárias, que o buscam, atendendo solicitações aflitivas de sua mãe. Um romance que norteia, balizando, os desorientados e potencialmente adeptos da morte voluntária. Uma leitura que favorece meditações múltiplas sobre a capacidade de favorecer “enxergâncias” mais consistentes sobre atos impensados, que retardam caminhadas na direção da Luz.
Para os que buscam também aprofundar o conhecimento sobre mortes voluntárias, recomendaria também a leitura do estudo História do Suicídio: a sociedade ocidental diante da morte voluntária, de George Minois, editado pela Editora Unesp, 2018, 414 p., onde o autor analisa a grande ausência, nos estudos historiográficos dos anos 1970 e 1980, da chamada morte voluntária. Uma lacuna que é explicada por causas documentais: as fontes que fazem referência às mortes voluntárias são diferentes das que relatam as mortes naturais, pois os suicidas não tinham direito ao sepultamento religioso, os obituários paroquiais não possuindo qualquer registro. Além da morte voluntária ser um tipo de óbito cujo significado não é de ordem demográfica, mas filosófica, religiosa, moral, cultural, instaurando um clima de mal-estar em torno dela. Pois Albert Camus já escrevia: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio”. E mais: “É preciso seguir e compreender esse jogo mortal que leva da lucidez diante da existência à fuga para longe da luz”.
O livro de Georges Minois possui o seguinte sumário: Introdução; 1. As nuances do suicídio na Idade Média; 2. A herança medieval: entre loucura e desespero; 3. A herança antiga: saber se retirar a tempo; 4. Primeiro renascimento: uma questão formulada, depois abafada; 5. Ser ou não ser? A primeira crise da consciência europeia (1580-1620); 6. A resposta das autoridades no século XVII: a repressão do suicídio; 7. Persistência do problema e substitutos do suicídio no século XVII; 8. A origem da “doença inglesa” (1680-1720); 9. O debate sobre o suicídio no século das luzes: da moral à medicina; 10. A elite: do suicídio filosófico ao suicídio romântico; 11. A persistência do suicídio entre o povo; Epílogo: Da revolução ao século XX, ou do livre debate ao silêncio.
No livro Nas Trilhas do Umbral, a autora reproduz a informação recebida do Espírito Ariel, de que no umbral, o egoísmo é intenso, suplanta a razão, enevoa o raciocínio, e a solidão é dura e intransponível. E conclui que quanto mais perverso é o ser, mais vazio ele é, e mais orgulhoso ele se torna.
Que vacina eficaz pode-se tomar para combater efetivamente os egoísmos que ampliam o orgulho e se revestem de infelicidade fatídica? O Emmanuel, também Espírito, nos dá a Oração do Socorro, para mim um verdadeiro bálsamo. Ei-la para todos os que estão lendo esta crônica:
Nas horas serenas,
Agradecer a Deus.
Nos momentos de crise,
Confiar em Deus.
Nos problemas da vida,
Soluções em Deus.
Ante injúrias e golpes,
Silêncio e fé em Deus.
Nos erros e nas falhas,
Recomeçar em Deus.
No mais, seguir adiante, sempre confiante no Jesus que se encontra em nosso interior de seres humanos incompletos direcionados para a Luz.
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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social