1330 – PRESENTES NATALINOS


Nas proximidades de final de ano, muitos se atordoam sobre as lembranças que irão presentear os amigos e parentes mais chegados. Para tais irmãos, exponho, abaixo, algumas notas de livros que muito poderão balizar suas encomendas natalinas, textos escritos por qualificados especialistas.

1. “Escrevam e lembrem”, estas foram as últimas palavras do famoso historiador judaico Simon Dubnow, assassinado a tiros pelos nazistas quando tinha 81 anos. O apelo de Dubnow, juntamente com o de muitos milhares de sobreviventes, era o de que o maior assassinato da humanidade não ficasse olvidado pelas gerações futuras. Os fatos históricos da ignominiosa tragédia deveriam ser continuadamente relembrados. Assim sendo, inúmeros historiadores assumiram o compromisso de revelar os tenebrosos acontecimentos, tomando-o como uma missão sagrada, a de servir de alerta para o desenvolvimento futuro da História do Mundo.
Um professor de História da Universidade de Toronto, também da Universidade Hebraica de Jerusalém, publicou um livro ressaltando a singularidade e a especificidade próprias do Holocausto: A ASSUSTADORA HISTÓRIA DO HOLOCAUSTO, Michael R. Marrus, Rio de Janeiro, Ediouro, 2003, 432 p. No prefácio da edição brasileira, Fábio Koifman ressalta: “Num tempo em que a ignorância dos fatos ajuda a banalizar e a relativizar o Holocausto, a publicação de obras como a de Michael Marrus constitui um benefício fundamental para aqueles que pretendem compreender o maior crime do século XX.” Nunca é tarde para ressaltar que ESCREVER É LEMBRAR !!

2. Uma leitura torna-se indispensável para quem emite com frequência comentários sobre a evolução política do mundo contemporâneo: A GRANDE REGRESSÃO: UM DEBATE INTERNACIONAL SOBRE OS NOVOS POPULISMOS E COMO ENFRENTÁ-LOS, Heinrich Geiselberg (organizador), São Paulo, Estação Liberdade, 2019, 352 p.
Os acontecimentos mundiais recentes deixaram a impressão de que o planeta voltou-se socialmente para ontens, depois de níveis bravamente conquistados. Os sintomas identificados por especialistas mundialmente reconhecidos foram organizados no livro acima, destinado a fortalecer/esclarecer uma cidadania consciente. O Sumário está assim desenvolvido: Prefácio; Fadiga da democracia; Sintomas à procura de um objeto e um nome; Política progressista e regressiva no neoliberalismo tardio; Neoliberalismo progressista versus populismo reacionário: a escolha de Hobson; Populismo ou a crise das elites liberais: o caso de Israel; Futuros majoritários; A Europa como refúgio; Vencendo o medo da liberdade; A política na era do ressentimento: o tenebroso legado do Iluminismo; Coragem para ousadia; Descivilização – Sobre tendências regressivas nas sociedades ocidentais; Do retrocesso global aos contramovimentos pós-capitalistas; O retorno dos reprimidos como início do fim do capitalismo neoliberal; Caro presidente Juncker; A tentação populista; O Brasil voltou cinquenta anos em três.
As questões básicas estão postas com meridiana clareza: Como chegamos a esta situação?, Onde estaremos daqui a cinco, dez ou vinte anos? e Como deter a regressão global e invertê-la?.

3. Diz a orelha primeira do livro editado: “Duas décadas depois do best-seller O ócio criativo, Domenico de Masi, mais uma vez em diálogo com Maria Serena Palieri, apresenta em seu novo livro um retrato do nosso tempo, um quadro realista e carregado de esperança.” Qual livro? O MUNDO AINDA É JOVEM – CONVERSAS SOBRE O FUTURO PRÓXIMO, Domenico de Masi, São Paulo, Vestígio, 2019, 284 p. E um sumário pra lá de cidadanizador: Apresentação; Introdução; Desorientação e projeto; Longevidade e velhice; Androginia e gêneros; Digitais e analógicos; Trabalho e ócio; Medo e coragem; Engajamento e egoísmo; Classe e indivíduos; Inteligência e sentimentos; Felicidade e leveza; Advertência. Na Apresentação, autoria de Roberto D’Avila, este cita um testemunho de Oscar Niemeyer, um dos grandes amigos do notável pensador italiano: “O De Masi é o homem mais feliz que eu conheci”.
A leitura do livro nos faz compreender melhor o mundo atual, vivendo nele com mais alegria, ainda que embalados pelos seus múltiplos mistérios e contradições. Domenico de Masi, um sempre à frente do seu tempo, ressalta ainda os riscos que corre a democracia que conhecemos, bem como questiona os benefícios causados pela tecnologia, uma complexidade manipulada por inúmeros, com poucos grupos dominantes, a política aceleradamente dando vez às finanças.

4. Para melhor visão das últimas descobertas da biologia e da neurociência, possibilitando uma compreensão maior das relações sociais, um texto muito oportuno: INTELIGÊNCIA SOCIAL: A CIÊNCIA REVOLUCIOÁRIA DAS RELAÇÕES HUMANAS, Daniel Goleman, Rio de Janeiro, Objetiva, 2019, 471 p. Autor de outro notável texto, Inteligência Emocional, Goleman em seu novo livro explica como são precisas nossas primeiras impressões. E ele fala ainda sobre carisma, atração sexual, narcisismos, maquiavelismos e psicopatias, respondendo às questões que mais preocupam pais e executivos públicos e empresariais: Existe uma maneira de educar nossos filhos?; O que torna um psicopata perigosamente manipulador?; Qual a base de um casamento feliz?; Como líderes e docentes podem inspirar?; Como grupos conflitantes podem conviver em paz? Para responder a tais indagações, Goleman lança mão dos princípios basilares da Neurosociologia, uma nova ciência que aponta para formas atitudinais que pode fazer do mundo um espaço mais sedutor. O livro é composto de um Prólogo – Desvendando uma nova ciência -, seis Partes – Programados para nos conectar, Vínculos rompidos, Criação e natureza, As variedades do amor, Conexões saudáveis e Consequências sociais -, além de um Epílogo – O que realmente importa – e três apêndices – A estrada principal e o atalho: uma nota, O cérebro social e Repensando a inteligência social.
O livro do Goleman ressalta a influência da biologia para a compreensão das relações sociais estabelecidas entre seres humanos e civilizações. E ainda aponta como qualidades nossas a predisposição civilizatória para a empatia, a cooperação e o altruísmo, todas à disposição da inteligência social.

5. Um livro fortaleceu bastante o meu interior, ainda em fase contínua de aprendizado, diante de situações críticas de uma sociedade que possui uma das piores distribuições de renda do planeta., ainda combatendo as discriminações múltiplas advindas de um longo período de escravidão. Um livro de memórias de uma consagrada psicóloga, PhD aplaudida nos quatro rincões do Ocidente, outrora bailarina e ginasta até os 16 anos, quando foi enviada a Auschwitz juntamente com seus familiares, sofrendo brutal estresse após o término da Segunda Guerra Mundial até os 50 anos, quando iniciou um longo processo de cura.
Segundo ela, portadora de extraordinárias força e coragem, “menosprezar sua dor ou se punir porque se sente perdido, isolado ou assustado com os desafios da vida – por mais insignificantes que esses desafios pareçam para os outros – também é escolher bancar a vítima. Ao fazer isso, não estamos vendo nossas opções. Estamos nos julgando.”
O livro escrito pela Dra. Edith Eva Eger – A Bailarina de Auschwitz, Rio de Janeiro, Sextante, 2019, 304 p. – é um verdadeiro presente para toda a humanidade, uma história que nos transformará para frente. Sua vida revela uma imensa capacidade de transcender os maiores horrores, fazendo-nos encontrar o perdão e a verdadeira liberdade, tornando-os um dom maravilhoso na ajuda dos que também necessitam de cura.
Composto de quatro partes – Prisão, Fuga, Liberdade e Cura -, o livro revela como, aos 90 anos, a autora continua atendendo jovens e veteranos de guerra, em sua clínica, na Califórnia.
A Dra. Edith é um tipo de heroína num mundo repleto de brabosos dirigentes, autoritários por índole e formação, que não conseguem transmitir comandos saudáveis, salvo pelos medos impostos.
A Dra. Edith Eva Eger soube assimilar a lição do Humberto de Campos, Irmão X, psicografada pelo inesquecível Chico Xavier: “A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência.”

6. Para não ficar apenas nos ontens, um livro merece ser presenteado aos mais antenados: O FUTURO DA HUMANIDADE: MARTE, VIAGENS INTERPLANETÁRIAS, IMORTALIDADE E NOSSO DESTINO PARA ALÉM DA TERRA, Michio Kaku, São Paulo, Planeta, 2019, 368 p. O autor é um dos cientistas mais populares dos Estados Unidos, famoso por desenvolver uma linguagem científica compreensível para gregos e troianos.
No instante em que o planeta vive uma nova conjuntura da exploração espacial, com o aperfeiçoamento da astrofísica, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia e biotecnologia, o autor analisa quais as ideias da ficção científica valem a pena ser aprofundadas. O The New York Times declarou: “O livro destina-se a introduzir os leitores não familiarizados com a ciência aos vastos horizontes já descobertos e para onde nossas jornadas rumo a essas fronteiras podem levar.”
O autor tem plena consciência das leis da física que comprovam que, mais cedo ou mais tarde, enfrentaremos crises globais que ameaçarão nossa existência. Urge um Plano B planetário!

7. Ensaios sobre o Brasil de hoje não poderiam faltar como lembrança de um bom presente natalino: DEMOCRACIA EM RISCO?: 22 ENSAIOS SOBRE O BRASIL HOJE, vv.aa., São Paulo, Companhia das Letras, 2019, 371 p. Alguns das mais consagrados intelectuais brasileiros interpretam os novos desafios que se colocam para o Brasil, após as eleições brasileiras de 2018, com o seguinte Sumário: Polarização radicalizada e ruptura eleitoral; Deus acima de tudo; A comunidade moral bolsonarista; Uma história de dois azares e um impeachment; Em nome do quê? A política econômica; Democracia e autoritarismo: entre o racismo e o antirracismo; Psicologia das massas digitais e análise do sujeito democrático; A queda do foguete; Depois do temporal; Savonarolas oficiais; A política brasileira em tempos de cólera; Diante da realidade, seis ficções epistemológicas; A marcha brasileira para a insensatez; A política do pânico e circo; Uma guinada equivocada na agenda da educação; Desafios para a comunidade e o movimento LGTB no governo Bolsonaro; As armadilhas da memória e a reconstrução democrática; El Salvador: a propósito da força e da fragilidade; A bolsonarização do Brasil; Diplomacia da ruptura; O passado que não passou; Sismografia de um terremoto eleitoral. Ensaios ideais para quem sabe pensar politicamente com ampla cidadania, de mente abertas para os debates e as soluções mais justas e democráticas, construtoras de amanhãs mais civilizados para todo pátrio. Entendendo por que da eleição de 2018 ter sido disruptiva. Ensaios que buscam orientar como devem ser erradicadas as soluções autoritárias de todos os vieses.

8. Para os que desejam consolidar um pensar embasado em argumentos fecundantes, um livro dialogante por derradeiro, próprio para todas as faixas etárias de gregos e troianos: FILOSOFIA CONSTRUINDO O PENSAR (volume único), Dora Incontri & Alessandro Cesar Bigheto, São Paulo, Escala Educacional, 2008, 448 p. Com 12 capítulos temáticos, uma pequena história da Filosofia ocidental e um Dicionário de filósofos, com breves informações de 133 filósofos, o propósito do livro é o estabelecimento de mecanismos dialogais que favoreçam a ampliação de uma “enxergância” existencial mais compatível com a dignidade comportamental do ser humano e dos seus derredores. Um texto excelente para os que irão se tornar acadêmicos brevemente e para s que desejam expor seus argumentos com mais efetividade.
FELIZ LEITURA PARA TODOS !!


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social