1325 – ESTUDO DE GRUPO DO AT


Tenho uma admiração imensa pelos grupos que se aprimoram em estudos bíblicos, principalmente aqueles que se voltam para uma efetiva evangelização. E um dos projetos mais edificantes em implantação nos últimos tempos data de 2016, quando o Instituto SER, sob a coordenação de Haroldo Dutra, instituiu o “Estudo do Velho Testamento”, sendo o primeiro volume Estudando Gênesis à Luz do Espiritismo, Belo Horizonte, Editora SER, 2018, 176 p. Uma primeira edição, de 5.000 exemplares, lançada em maio de 2018, a segunda tiragem alcançando 10.000 unidades em setembro do mesmo ano.
Na Introdução do volume acima citado logo se dá testemunho de que Gênesis, o primeiro livro do Pentateuco mosaico, é referência, direta ou indiretamente, em todos os demais livros, Antigo e Novo Testemunhos. E nela se diz que “o livro Gênesis é um livro tão poderoso, com imagens, linguagem forte e temas importantes, que acaba inspirando todos os livros subsequentes.” E exemplifica: “Basta lembrarmos, por exemplo, o Evangelho de João, que começa usando a mesma expressão de Gênesis – ‘No princípio’ (Gn,1 – e, a partir daí, vai construindo o seu enredo, sempre dialogando com aquele.” E o Evangelho de João parece refletir um canto em resposta ao ecoar de Gênesis.
Também da Introdução, Dutra ressalta alguns pontos:
a. O livro de Gênesis, em si, é bastante esquemático (praticamente um programa de estudo), o qual está disponível em uma ordem lógica e também poética.
b. A abordagem do estudo será efetivada à luz da Doutrina Espírita, sem qualquer intenção de estabelecer disputas teológicas.
c. Para os espíritas, o Evangelho de Jesus é central. Segundo Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, “O Evangelho é o Sol da Imortalidade que o Espiritismo reflete, com sabedoria, para a atualidade do mundo”.
d. Quando estamos nos referindo ao Evangelho, estamos nos referindo a um coração vivo: ao coração do próprio Cristo.
e. As obras do Antigo Testamento e as da Doutrina Espírita, entre outras, funcionam como “telescópio”, tentativas de ampliar a nossa percepção.
f. Os livros do Novo Testamento funcionam, no estudo do Gênesis, como uma bússola, favorecendo nossa renovação pessoal.
g. Importante ressaltar que Gênesis é um patrimônio cultural do povo hebreu, pois Paulo de Tarso já fazia uma pergunta pra lá de interessante: “Qual é a importância de ser judeu?” (Rom 3, 1-2). E o próprio Cristo chamou a atenção para o patrimônio que os judeus possuíam.
h. Não devemos ser ingênuos de achar que o assunto Gênesis se inicia agora, quando ele foi escrito há mais de 3.000 anos.
i. Gênesis é literatura poética, nunca um tratado científico. É religiosidade no mais alto nível.
j. O propósito de Gênesis é dizer que há um só Deus, que é Criador, que está presente, dirige, acompanha a sua obra e atua muito na criação.
k. Ao longo do estudo do Gênesis, uma série de conceitos será desconstruído, ultrapassando atavismos religiosos, fixações mentais e interpretações sectárias, tão fortes em nós que nos causa desconforto.
O estudo de Haroldo Dutra Dias, além da Introdução, apresenta os seguintes balizamentos: Temática Central: Deus Criador; Estrutura Literária; Um único Deus, uma só Lei; Múltiplas interpretações; Os Cristos e sua união com Deus; A separação das águas: ordenação do fluido cósmico; Fluido cósmico: manifestação do pensamento divino; Diálogo inter-religioso. Além disso, um bônus engrandece um cadinho mais a análise apresentada: A Árvore do Evangelho.
Dentre as várias traduções da Bíblia utilizadas pelo Dutra Dias, a mais significativa é a Bíblia do Peregrino, do espanhol Luís Alonso Schökel , editada no Brasil pela Editora Paulus, 1ª. reimpressão da 3ª. Edição em 2018, 2617 p. Segundo Dutra, Alonso Schökel “é um gigante da teologia e dos estudos bíblicos, escrevia com muita propriedade, e a tradução traz conexões com os demais livros da Bíblia, sobretudo com os do Novo Testamento”.
O livro do Haroldo Dutra, acima citado, estudado sem ansiedades nem fobias analíticas, poderia ser complementado por um livrinho-gigante, A presença ignorada de Deus, Viktor E. Frankl, São Leopoldo RS/Petrópolis RJ, Sinodal/Vozes, 2019, 131 p. No seu livro, Frankl (1905-1997), professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena, também docente de Logoterapia na Universidade Internacional da Califórnia, fundador da Logoterapia, ainda chamada de “terceira escola vienense de psicoterapia”. Onde no capítulo 1 do livrinho-gigante – A essência da análise existencial – é citada as únicas três virtudes existentes, segundo Arthur Schnitzler, um famoso poeta vienense, contemporâneo de Freud: a objetividade, a coragem e o senso de responsabilidade. A primeira encoraja o vencer os sentimentos de inferioridade, a segunda incita-nos à descoberta de nossas próprias deficiências, enquanto a terceira se situa na área de encarar com ampla ética na abordagem do aqui e agora de cada um. Na análise existencial, exige-se a diferenciação entre maturidade decisória e impulsividade desenfreada, onde a responsabilidade do existir será a base de toda caminhada espiritual em direção à Luz!!
Um Grupo de Estudos sempre é muito significativo nos Centros Espíritas mais desenvolvidos, favorecendo uma ampla renovação comportamental, emulando solidariedades grupais responsáveis em iniciativas sementeiras.
Um 2020 repleto de múltiplas meditações para todos os meus irmãos, crentes e não crentes, todos filhos amados da Criação, para onde retornaremos!


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social