1318 – CAMINHADAS FAMILIARES


Com as transformações ultra velozes que a tecnologia e as comunicações estão provocando no mundo inteiro, o desenvolvimento profissional sofrendo exigências desconhecidas algumas décadas passadas, é de se lamentar uma educação de crianças e adolescentes repleta de entupimentos didáticos nada libertadores. E isso tudo se reflete em graves problemas que estão acarretando às famílias do planeta, principalmente às situadas em contextos mentalmente menos evoluídos, ainda vítimas de múltiplas dominações sociais, políticas e religiosas.

Os especialistas numa educação efetivamente contemporânea, sem os moralismos e hipocrisias que ainda maculam as práticas pedagógicas de instituições educacionais públicas e particulares de um Brasil ainda “meninão meio abestado”, expressão utilizada pela meu irmão querido João Silvino da Conceição, estão amplamente preocupados. E induzem um militante ainda vivo e bulindo como o João a implorar cotidianamente por mais respeito e solidariedade entre os povos, sempre apreensivo com os amanhãs advindos de uma educação de primeiro grau capengante, sem eira nem beira, apenas alfabetizando pra inglês ver e capitalismo progredir.

Uma esquerda psicopática também muito ajuda no fomento ao reacionarismo estupidificant de uma direita vesga, que nunca assimilou a reflexão do economista Celso Furtado, sempre presente entre as mais diferenciadas discussões desenvolvimentista do país, onde os debates lúcidos estão alimentando, ainda que às altas horas da noite, as mentes inquietas dos pensantes: “o quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos, mas será que o triângulo é retângulo?”

No seio das famílias, então, a situação é de estupefação. De um lado, as famílias que ainda se preocupam com a aquisição de livros para os filhos adquirem textos ilusórios, ainda que bem editados, fomentando uma criticidades alienada, quase histérica, sem um mínimo de pensação favorável para iniciativas reconstrutoras diferenciadas da ineficiência existencial. Do outro, as famílias de baixa renda, ansiosas por assistencialismos estatais fomentadores de ilusão, são portadoras de celulares de informações catequizadoras do comodismo ou da ansiedade por riqueza e fama de supetão, pouco valendo a moral e os bons costumes, o salve-se-quem-puder televisivo sendo o anestésico principal diante das necessidades mais vitais. O ganho fácil superando em muitos pontos os frutos de iniciativas sementeiras de qualidade reprodutora crescente. O apenas TER sobrepujando em muitos níveis o SER, segundo análise famosa de Erich Fromm.

Outro dia, um pai de família funcionário público de escalão primário, me perguntava se valia a pena educar os filhos dando bons exemplos de dedicação e sacrifício em prol do futuro deles. Antes de oferecer resposta, indaguei do distinto se teria vontade de ler um livro de um vitorioso militante espírita que expunha didaticamente assuntos relacionados com a família nos seus múltiplos aspectos, nuanças, sutilezas, problemas, armadilhas e soluções. Um livro criteriosamente bem desenvolvido com sabedoria, favorecendo iniciativas na direção de um lar construído sob o signo da paz e da perseverança no amor a Deus, editado sob critérios não moralistas, tampouco fundamentalistas ou hipócritas.

Diante do compromisso assumido de ler, de fio a pavio, o livro sugerido, presenteei o irmão funcionário com o livro Vivências do Amor em Família, do Divaldo Pereira Franco, organizado por Luiz Fernando Lopez, Salvador BA, Leal, 2016, 576 páginas. O organizador é um recifense atualmente residindo em São Paulo, farmacêutico, professor universitário, Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, investigador nas áreas de ensino e pesquisa de Saúde Mental, Saúde da Família e Educação, sendo o tema da sexualidade humana objeto principal de seus estudos e trajetória profissional. Presente entregue, marcamos um reencontro três meses depois, num café popular do Mercado da Encruzilhada, situado no bairro de mesmo nome, na capita pernambucana.

O reencontro foi melhor que o esperado. Avistei o irmão funcionário sobraçando o livro presenteado com brilho incomum nos olhos. Todo rabiscado o livro, disse-me ele que estava integralmente diferente, sua família tendo participado de inúmeros saraus de leitura, onde debatidos foram as reflexões expostas pelo Divaldo Franco em diversos fatos lá citados, ensejando uma compreensão mais contemporânea de toda família, casal e três filhos adolescentes, com a presença de duas vizinhas interessadas.

O livro discutido busca sintetizar a longa caminhada de Divaldo Franco no campo do conhecimento espírita. Destina-se para todos aqueles crentes e não crentes que se sintam responsáveis pela condução de um núcleo familiar. Diz o coordenador Luiz Fernando Lopes que “o papel do lar no processo educacional foi demonstrado de forma inequívoca, proporcionando uma visão mais abrangente sobre as relações humanas na espiral da evolução. Neste cenário conceptual, o amor em família se legitima como um fator preponderante para o êxito de qualquer projeto reencarnatório.”

O trabalho coordenador pelo Lopes abarca 11 textos, onde em alguns preponderam também as reflexões seguras de Joanna de ngelis, mentora espiritual do médium baiano. São eles: 1. Pelos caminhos da família; 2. Família e reencarnação; 3. Família e obsessão; 4. Maternidade e amor; 5. Nos passos da criança e do jovem; 6. Pais e filhos: a delicada relação; 7. Conflitos familiares; 8. Educação e vida: os vícios e a autoconsciência; 9. A morte na família; 10. Vínculos familiares além do corpo; 11. Religião, espiritualidade no ambiente familiar.

Seguramente uma obra de fôlego, onde os onze temas são enfocados com sapiência, favorecendo a emersão de uma ampliada enxergância nos participantes de uma problemática familiar nos contextos sociais e espirituais de um mundo de aceleradas reconfigurações cósmicas.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social