1313 – QUEM FOI O HOMÃO DA GALILEIA?
Desde sempre, inúmeros cristãos e não-cristãos buscam resposta para quem foi Jesus de Nazaré. Para uns, ele foi o Messias, para outros um profeta, milhares o consideram um deus, outros tantos o consideram um gênio, inúmeros o classificam como santo e um sem-número aceitam-no como sábio, além dos que o menosprezam. E uma questão sempre permanece: diante de tantas opções, além das discordâncias, quem foi realmente o filho de Maria e José, que viveu em Israel no século I, primo de João Batista e que foi crucificado num madeiro como judeu subversivo?
No ano passado, setembro, um livro me chamou atenção: Quem foi Jesus? – uma análise histórica e ecumênica, André Marinho, Bragança Paulista/SP, Instituto Lachâtre, 2018, 312 p. O autor é brasileiro, nascido em 1982, filósofo, escritor e ator, tendo sido orientando de Hans Küng, um dos maiores teólogos o século XX. Dedicou anos de estudo às religiões, especialmente ao cristianismo (sua teologia e história) e ao espiritismo (sua doutrina e história). Segundo testemunho dele: “Foi o espiritismo, organizado por Allan Kardec, que me apresentou Jesus. Desde então, me impressionei com o ser humano Jesus e busquei conhecê-lo melhor.” E complementou: “Sempre tratei a religião com liberdade, sem medo de confrontá-la com os demais saberes. Cada vez mais defendo a importância do diálogo das religiões, com a academia, com a filosofia e com as ciências naturais e humanas.”
Uma leitura sedutora, o livro proporciona uma visão ecumênica, o texto não pretendendo vincular Jesus a uma verdade dogmática e ortodoxa, possibilitando ao leitor, religioso ou não, uma resposta convincente sobre o Homão da Galileia, não sendo um livro de catequese, sob hipótese alguma. Sempre balizando suas páginas sob a recomendação apostólica: “Que o Deus da paz esteja com todos vós”. (Rm 15,33). E o autor ainda esclarece: “Existe um autêntico Jesus histórico, nascido na Palestina, judeu, o mais influente líder de impacto religioso no mundo e, também, o que mais precocemente morreu. O livro dedica-se a esse Jesus, um ser determinado e real.” E justifica a elaboração do seu estudo: “Desaprender certas visões já consolidadas, para formarmos uma inteligência mais flexível e multifacetada, faz parte do processo de aquisição de cultura, gerando associações mais originais. A opção ou o apego pelo previsível e pelo conservadorismo dogmático é uma das tendências humanas que sempre denota indigência cultural e inteligência frágil.”
No texto construído durante mais de uma década, André Marinho faz uma análise criteriosa de Jesus sobre as seguintes vertentes:
Jesus – sem qualquer ilação com igrejas, tradição ortodoxa, autoridades eclesiásticas, história do cristianismo, mitos, dogmas, comunicações reveladas, nem mesmo com a Bíblia. Sua existência só podendo ser interpretada, por cristãos ou não cristãos, a partir de pesquisa crítica séria e altamente responsável, fornecedora de informações capazes de originar fundamentais interpretações sobre sua personalidade, re-descobrindo-se sua história e suas dimensões temporais e extratemporais.
Análise – nem os absolutismos presunçosos, tampouco as relativizações pseudoecumênicas, são favoráveis à abordagem utilizada, todas elas passíveis de questionamentos.
Intrarreligiosa – uma abordagem a mais abrangente possível, num franco diálogo com as demais formas de conhecimento, religiosos ou não. Sem nunca tratar as diferenças como “inimigas”, “infiéis” e ”hereges”. Sempre respeitando as peculiaridades de cada vertente.
Crítica – Perceber sempre que cada época tem sua leitura, embora Jesus esteja no agora, como também estava no outrora e estará no além.
Extrarreligiosa – Entender que Jesus é um grande personagem histórico, referência da sociedade ocidental há quase dois milênios, sendo um elo importante na história, dentro e fora do cristianismo.
Ecumênica – Um livro religioso e não-religioso. Religioso porque revela informações sobre a estrutura básica de uma das maiores religiosas do mundo. E não-religioso, pois não tem a intenção de converter ninguém ao cristianismo, nem demonstrar ser o cristianismo a melhor religião do mundo, como persistem alguns mais fundamentalistas.
Na confecção de seu estudo, Marinho buscou oferecer “uma nova demanda global, a exigir dimensões pós-colonialistas e pós-imperialistas, pós-capitalistas e pós patriarcais, um mundo pós moderno”. Favorecendo uma compreensão do Jesus de Nazaré sempre mote para novas pesquisas e interpretações.
A leitura do livro Quem foi Jesus? seguramente proporcionará, através de análise histórica e ecumênica, um novo olhar sobre o maior revolucionário da história mundial. Uma leitura fascinante para gregos e troianos de cabeça aberta.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social