1308 – NOTAS JUNINAS


1. Aproveitando alguns dias de folga para pôr em dia as minhas atividades lúdicas, uma já vista sessão de cinema me deixou com os pés mais no chão. O filme O Espelho Tem Duas Faces, uma comédia-parábola de finíssimo trato, sem resvalar para carolices sentimentaloides, me fez consciente dos angustiantes momentos vivenciados por aqueles que buscam reencontrar-se após relacionamentos ultrapassados pelas diferenciadas evoluções históricas das partes.
O filme, dirigido e também interpretado por Barbara Streisand, explicita um conflito moderno, aparentemente insolúvel entre a paixão e a amizade, a primeira comportando umas boas e quentes sessões horizontais, a segunda apenas se satisfazendo com amplexos e cheiros platônicos, tudo o mais relacionado com a fricção corporal sendo motivo de teorizações mil, com quase inexistentes comprometimentos práticos.
Já observei, em amigos vários, os dois lados da moeda. De um lado, pessoas que só se preocupam apenas com aquilo, masculino ou feminino. Diante de uma mulher, alguns homens imaginam logo como excursionar pelo Triângulo das Bermudas, as ideias e os gostos e convergências somente merecendo destaque, quando acontece, após o cigarro, o banho e a conta. Por outro lado, tem mulher que só se interessa pelo acervo documental dos Países Baixos do sexo contrário, a corda do violino bem esticada e a bateria no ritmo frenético da Vai-Vai, escola de samba paulista, do Grupo Especial.
O verso da medalha também é deveras lamentável. Tem sujeito babaca que, desconhecendo geometria, fica um tempão discutindo se o Triângulo é isósceles, equilátero ou retângulo, olvidando-se da bissetriz que adentra pelo meio do mundo, até a exaustão feliz das partes envolvidas. Por outro lado, também muito tristemente, tem madame que se avorisam – tornam-se patologicamente avós – logo após os quarenta, deixando os consortes sem mel nem cabaço, o mais curto caminho para descompressoras raparigagens. Avós mentalmente autoclassificadas, algumas senhoras despojam-se dos seus tchans, relaxam marquizes e encruzilhadas, se empanturram de cremes hidratantes e próteses revificantes, apenas para se tornarem duplamente mães para sobrinhos, netos, afilhados e avizinhados, os meninos de rua merecendo apenas exclamações piedosas, algumas até fascistoides.
Há três tipos de seres humanos, diante das duas faces de um espelho: os autoconscientes, autônomos e seguros de seus próprios horizontes e limites; os mergulhados, inundados por suas emoções e incapazes de safar-se delas; e os resignados, os que aceitam passivamente viver como são, num laisser-faire suicida, num “como Deus quis”, como se Ele fosse o responsável pela incapacidade de “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
Lembrei-me de um ditado que diz “nem oito, nem oitenta”. Da minha parte, eu me contento em buscar viver na média. Quarenta e quatro tá na medida, com isso e aquilo dentro dos conformes emocionais e das disposições transitórias. Sem blá-blá-blá nem meio mas. Embora subsidiado com as fantasias que ajudam. Ainda que distanciadas dos ensaios do Segurando o Talo, bloco da querida Fundação Joaquim Nabuco.

2. Nunca me surpreenderão, na Igreja Católica, como nas demais denominações, as conjunturais escaramuças sobre temas os mais diversos. Somente através de amplos debates, os que se imaginam donos da verdade desaparecerão, favorecendo oxigenações contínuas e muito necessárias, se inspiradas nas palavras do Senhor.
Desde os primórdios do Cristianismo, as discussões se tornaram rotineiras. No Livro Sagrado, por exemplo, os Atos dos Apóstolos nos mostram, capítulo 15, um debate acontecido na Antioquia, quando alguns desejavam circuncidar os pagãos convertidos, segundo as normas de Moisés, sob a alegação de que não poderiam ser salvos se assim não procedessem. A oposição vigorosa de Paulo e de Barnabé, no concílio de Jerusalém, anulou a ingênua proposição, para isso contribuindo o testemunho de Tiago, quando proclamou, alto e bom som, que não se acumulassem obstáculos diante dos pagãos que desejavam se voltar para Deus (At,15,19). Uma vitória do convencimento sobre a tola pretensão de alguns, desprovida de qualquer consistência teológica.
As discussões e análises, outrora, aconteciam nas ágoras, praças gregas onde eram difundidas as informações. Os espaços eram conquistados pelos que mais sabiam argumentar e convencer, valendo os dotes da oratória e a bagagem de conhecimentos. As ideias prosperavam, se consolidavam ou cediam lugar a novos posicionamentos, a partir de amplas discussões, cada um tendo o direito de se manifestar como bem entendia, aquilatadas as estratégias de convencimento e o poder de contra-argumentação dos demais.
Às vésperas de uma nova década do terceiro milênio, novas ágoras surgem no cenário mundial, aproveitando o imenso potencial comunicador da Internet. Com a evolução dos espaços cibernéticos, as várias tendências eclesiásticas despertaram para diferenciadas estratégias de conversão. No Brasil, equilibrando-se entre alas “conservadoras” e segmentos “progressistas”, a homepage da CNBB fornece ao público católico informações gerais sobre a entidade. Mas não é da CNBB, e sim da Missão Salesiana do Mato Grosso, o galardão da página que mais informações diárias contém, em português, sobre a Igreja no mundo. A CNBB também fica aquém da página Mundo Católico, idealizada e mantida por leigos, que possui a mais abrangente lista de endereços.
As ágoras do Terceiro Milênio estão despertando milhares para a conversão, a Palavra de Deus sendo amplamente vista e ouvida nos quatro cantos da Terra, levadas por inúmeras correntes teologais. Vale a pena conferir, por exemplo, o site da primeira Bíblia em português na Internet (http://www.cuc.edu/cgi-bin/biblia), ou o site da maior coleção de estudos bíblicos em português (http://www.cuc.edu/cgi-bin/bf.pl), páginas idealizadas por um brasileiro que reside nos Estados Unidos.
No Brasil, três páginas são muito visitadas: a da Arquidiocese de São Paulo, a da Arquidiocese do Rio de Janeiro e a recifense Igreja Nova (http://www.elogica.com.br/users/igrenova), estruturada em seis idiomas e idealizada por leigos da paróquia de Boa Viagem.
Um dia, Ele disse que “se o próprio sal perder o sabor com que se há de salgar?”. E eu continuo acreditando firmemente nas palavras do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

3. Nas férias, aproveitemos os momentos de descanso para ampliar uma enxergância na direção da Luz Eterna. E saibamos repetir o que psicografou Chico Xavier, contido no livro Educandário de Luz, sob título Missão do Templo Espírita: “Estudemos, sentindo, compreendendo, construindo e ajudando sempre. Auxiliemos o próximo, sustentando, ainda, todos aqueles que procuram auxiliar. Jesus chamou a equipe dos apóstolos que lhe asseguraram cobertura à obra redentora, não para incensar-se e nem para encerrá-los em torre de marfim, mas para erguê-los à condição de amigos fiéis, capazes de abençoar, confortar, instruir e servir ao povo que, em todas as latitudes da Terra, lhe constitui a amorosa família do coração”.

Festejos juninos bem arretados de ótimo para todos!!!