1307 – ECONOMIA – O QUE DESAPRENDER E REAPRENDER
Para quem aspira ver concretizada uma solidariedade universal mais compatível com a dignidade humana, recomendo com entusiasmo um livro por mim citado dias atrás, através do seguinte parágrafo: “Aos que cursam ou já se graduaram em Economia, uma recomendação que muito relembra o pensar do saudoso economista Celso Furtado – “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; mas será que o triângulo é retângulo?”: a leitura de Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo, de Kate Raworth, RJ, Zahar, 2019, 368 p. Segundo The Guardian, “brilhante e revolucionário, acessível a qualquer pessoa. Um livro que vai mudar o mundo”. Onde se pede encarecidamente aos acadêmicos de Economia ou recém graduados em Ciências Econômicas a leitura bastante reflexiva da Introdução Quem quer ser economista?, onde a própria autora apresenta as mudanças que nos farão mudar os modos de ser economista século XXI, deletando as velhas ideias que nos aprisionaram, favorecendo o direito de todas as crianças do planeta comer três vezes por dia, sem o risco da fome, num mundo atual brutalmente desigual, onde o grupo 1% mais rico detém mais riqueza que todos os outros 99% juntos (dados de 2008). E onde os desafios do crescimento demográfico (quase 10 bilhões em 2050) tornam as perspectivas atuais devastadoras, a exigir novos agires estratégicos de desenvolvimento socioeconômico bem mais solidariamente sociais. Sem mais a mentalidade capitalista econômica individualista, hedonista por derradeiro, nos manuais dos anos 1950.”
Mais que nunca, o mundo civilizado dos negócios necessita recordar diariamente a reflexão do economista Celso Furtado, um nordestino pra lá de arretado de ótimo: um apelo feito por Furtado às novas gerações de economistas, quando novos cenários mundiais pós-Segunda Guerra Mundial estão a fazer emergir novas formas de pensar e agir na área da Educação Econômica, onde diversas escolas de pensamento se manifestam com intensidade nunca vista, como a da complexidade, a ecológica, a feminista, a institucional e a comportamental, com suas mil e uma ideias, ainda que muito imbricadas, todas elas, em suas próprias publicações, conferências e nichos. Quando já urge um avanço integrado de todas elas no enfrentamento dos formidáveis desafios globais, abjurando-se as metáforas e pontos cegos de passados hoje considerados obsoletos. A conjuntura exige, a la Alvin Toffler, um desaprender para reaprender novas concepções de desenvolvimento social, favorecendo a emersão de contemporâneas estruturas econômicas e sociais.
A autora é professora e pesquisadora da Universidade de Oxford e é considerada, segundo The Guardian, o John Maynard Keynes do século XXI, ao reformular a economia, nos permitindo mudar nossa visão de quem somos, onde estamos e o que queremos. O Forbes, outro instituição econômica de renome consagrado, ressalta que “o livro é um texto fascinante aviso a economistas e empresários: deem um passo atrás e analisem nossa economia”.
O trabalho da Kate Raworth, segundo ela própria declara, é o de, ainda no presente século, criar economias que promovam prosperidade humana numa teia de vida florescente, de maneira que possibilite uma prosperidade em equilíbrio dentro de um espaço seguro e justo.
Seria considerado pioneiramente oportuna a junção de universidades (departamentos de economia e sociologia), empresários, dirigentes públicos e formadores de opinião, na promoção de eventos catapultadores que se iniciassem reavivando as etapas contidas no livro seminal Etapas do desenvolvimento econômico, do economista americano Walt W. Rostow, editado em 1960, onde se explicitavam as famosas cinco etapas: 1. A sociedade tradicional; 2. As precondições para a decolagem; 3. A decolagem; 4. O voo para a maturidade; 5. A era do consumo de massa. Onde a curva do S seria amplamente analisada através dos ingredientes que a fizeram cair no esquecimento, anestesiada pela ilusão de um crescimento econômico infinito sem um mínimo de solidariedade humana.
É chegada a hora de se pensar mais ousadamente, sem sectarismos ideológicos de princípios que já não mais se sustentam. Todos percebendo que, assim não procedendo, naufragaremos no frigir dos ovos, posto que “jacaré que muito dorme vira bolsa de madame”.