1306 – RESTAURANDO CAMINHADAS


Um amigo meu, nunca da-onça, companheiro de prancheta de uma profissional sediada no Rio de Janeiro, encantou-se com um texto por ela recentemente exposto, quando da apresentação de uma moderna terapia amplificadora da autoestima.
O escrito reflete uma meta-sonho, exposta por ser humano sintonizado com os arcabouços situacionais que viabilizam caminhares consequentes, menos materialistas, mais consentâneos com as múltiplas confianças depositadas nos ômegas de Teilhard du Chardin. Seguramente escrito por alguém que bem conhece o estilo literário de Jorge Luís Borges, um dos notáveis intérpretes da alma latino-americana, o texto revela grandezas, agigantando uma parceria assumidamente sincera.
A espinha dorsal do que foi apresentado merece ser aqui reproduzido, sem acréscimos nem interpretações, a autora se dirigindo ao ente muito amado, no Dia dos Namorados:
“Eu gostaria muito que, no nosso diuturno ambiente de convívio, os meus projetos fossem a concretização dos teus sonhos. Neles, tentaria criar um ambiente harmônico, tranquilo e com um tempero de muita paz. Combinaria o tecido das cortinas com a luz do céu. A cor das paredes seria a mesma do teu estado de espírito. A colcha de nossa cama, sem dúvida alguma, a refletir a imensidão do teu prazer.
Nos diversos cômodos da casa colocaria objetos que mais nitidamente te revelassem. Na toalha da mesa eu espelharia teus sentimentos mais profundos, juntamente com os teus momentos mais calmos, sem jamais procurar desmerecer, pelos quatro cantos das peças, os teus instantes mais tormentosos.
No nosso banheiro, eu combinaria as toalhas de corpo e de mão com a tua sensualidade, como que mesclando tua indomada ousadia com teus períodos de restauradora castidade.
Os nossos porta-retratos refletiriam teus momentos mais significativos, sempre acompanhados dos teus demônios e dos teus anjos da guarda. E em cada canto de nossa casa depositaria um punhado de muito bom humor, para que a alegria nunca te abandonasse, sem esquecer uma pitada de nostalgia, vacina eficaz contra sonhos exagerados.
Eu queria muito ver-te entrando em nossa casa intensamente vivo, com integral capacidade de chorar e rir, a sensibilidade jamais amesquinhada pelos punhais do cotidiano insalubre. E com uma vontade danada de mudar sempre para melhor, a esperança sendo o estandarte maior de nossa estrada.
Eu muito apreciaria poder olhar o mundo através dos teus olhos, jamais me relegando a segundo plano, agradecendo a Deus pela tua existência. Na certeza da plena e imorredoura fusão do côncavo e do convexo. Os meus dias sendo os teus dias, o meu viver sendo pedaço do teu caminhar. As minhas entranhas jamais desmerecendo o que foi por ti depositado. No meu dia, sou tua, sempre ampliando-te através do meu Amor ”.
Antes que alguma mente bundana se explicite latrineiramente, informo que a autora do texto acima é profissional conhecida pela sua luta a favor da igualdade dos direitos de homens e mulheres. Radicalmente a favor de todos, sem perder a ternura jamais.
Acima das suas qualidades, a autora é ainda a co-autora da caminhada do seu amado, tornando-se magnífica por saber edificar um outro pedaço seu. Um pedaço que nela necessita se complementar, por não saber ser apenas simplesmente ele.
Aos que cursam ou já se graduaram em Economia, uma recomendação que muito relembra o pensar do saudoso economista – “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; mas será que o triângulo é retângulo?”: a leitura de Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo, de Kate Raworth, RJ, Zahar, 2019, 368 p. Segundo The Guardian, “brilhante e revolucionário, acessível a qualquer pessoa. Um livro que vai mudar o mundo”. Onde se pede encarecidamente aos acadêmicos de Economia ou recém graduados em Ciências Econômicas a leitura bastante reflexiva da Introdução Quem quer ser economista?, onde a própria autora apresenta as mudanças que nos farão mudar os modos de ser economista século XXI, deletando as velhas ideias que nos aprisionaram, favorecendo o direito de todas as crianças do planeta comer três vezes por dia, sem o risco da fome, num mundo atual brutalmente desigual, onde o grupo 1% mais rico detém mais riqueza que todos os outros 99% juntos (dados de 2008). E onde os desafios do crescimento demográfico (quase 10 bilhões em 2050) tornam as perspectivas atuais devastadoras, a exigir novos agires estratégicos de desenvolvimento socioeconômico, bem mais solidariamente social. Sem mais a mentalidade capitalista econômica enraizada nos manuais dos anos 1950.
PS. Para as Marias de todos os tempos ! Sissa de porta-bandeira !!