1294 – KARDEC EM DUAS VERTENTES
1. Creio que poucos seguidores da Doutrina Espírita leram o explicitado no Evangelho segundo o espiritismo, capítulo VI, item 5, psicografado em 1860, em Paris. Transcrevo-o, na tradução do notável brasileiro J. Herculano Pires: “Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar aos incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina; e, como um segador, liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis!” E conclui: “Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana; e eis que, de além-túmulo, que acreditáveis vazio, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece, Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade!”
Quando me iniciei no estudo da Doutrina Espírita, por orientação do irmão querido Bruno Tavares, principiei uma série de leituras pronta pelos escritos do Codificador Allan Kardec. E na medida que o tempo passava, mais necessidade eu sentia de me aprofundar na Doutrina, lamentando meus parcos neurônios e percebendo que muitos ainda subestimam a necessidade de instruir-se, optando por uma superficialidade desvinculada das recomendações do notável lionês. Sempre continuarei pesquisando novas bibliografias que facilitem o meu aprendizado e as orientações apreendidas de outros irmãos talentosos.
Assim sendo, outro dia me deparei com um livro excepcionalmente didático, de autoria de Christiano Torchi, assessor jurídico do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, também voluntário da FEMS – Federação Espírita de Mato Grosso do Sul, além de docente no Centro Espírita Discípulos de Jesus, monitorando ESDE – Estudo Sistemático da Doutrina Espírita. O livro, Espiritismo passo a passo com Kardec, Brasília, FEB, 2016 (4ª.edição), 479 p., obteve grande aceitação, mesmo sendo um livro de estudos, consultas e pesquisas, conquistando a simpatia dos iniciantes, que o estão vendo como alicerce primeiro para o Pentateuco.
Na quarta capa do livro acima, um testemunho sobre o trabalho do Torchi: “Fiel aos princípios do Pentateuco – O Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o inferno, e A gênese -, ele se refere também às obras complementares, mediúnicas ou não, enriquecendo o pensamento religioso, principalmente quando recorre a André Luiz e Emmanuel, entre outros Espíritos de escol, e a pensadores encarnados, brasileiros e estrangeiros, no afã de informar com responsabilidade e clareza.”
O livro tem duas características: não tem intenções de proporcionar novidades, tampouco impor pontos de vista a quem quer que seja. Segundo o autor, o texto é um esforço de reflexão, daí nada devendo ser cegamente aceito, tornando-se indispensável a utilização de acurado senso crítico, tudo questionando, nada deixando de ser apurado, sempre em busca da Verdade, dada a falibilidade de todos, inclusive do próprio autor.
2. Para se ter uma noção mais depurada sob contexto da época, da revolução causada por Allan Kardec, no palco das revoluções políticas, sociais, culturais e científicas que se processavam no século XIX, proporcionando a mais importante revolução religiosa dos tempos modernos, é bastante significativa a leitura de Allan Kardec e sua época sob o ângulo humanista, de Jean Prieur (1914-2016), Bragança Paulista – SP, Lachâtre, 2015, 368 p. Uma biografia de Kardec contextualizada, onde o Codificador da Doutrina Espírita assim se manifestava diante dos fenômenos emergentes da época: “O espiritismo teve seu ponto de partida no fenômeno vulgar das mesas girantes. Mas como esses fatos falam mais aos olhos que à inteligência, eles despertam mais curiosidade do que sentimento. Uma vez satisfeita a curiosidade, fica-se menos interessado porque não são compreendidos, diferentemente de quando a teoria veio explicar a causa.”
A importância de Kardec se reflete posteriormente na sua inclusão no Grande Dicionário, onde Pierre Larousse reproduzia o pensar acima, com uma complementação: “Quando o Sr. Rivail ouviu falar de mesas gritantes, das supostas manifestações de espíritos batedores e de médiuns, ele pensou ter descoberto uma nova ciência e contribuiu para propagar na França essa funesta epidemia de supranaturalismo que fez tantos estragos durante uma década nas mentes das pessoas na América e na Europa.” Posicionamento alterado no próprio Larousse anos depois.
O livro do Jean Prieur está repleto de sedutoras constatações. Uma delas: a longa estadia de Kardec num país protestante teve uma gigantesca vantagem, a de proporcionar um bom conhecimento da Bíblia, pois naquela época, na França, até o início do século XX, era preciso uma autorização especial do confessor para ler o Antigo Testamento, posto que à época e segundo normas vaticanas não era leitura para qualquer um.
Dentre as iniciativas promissoras contidas no livro, Prieur narra o lançamento da Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, em 1858, 1° de janeiro, sonho acalentado por Kardec, o de ter um meio de comunicação mensal com os adeptos da Doutrina. E fundou ele ainda a SPES – Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, instituição devidamente autorizada pelo prefeito de polícia em 13 de abril, obedecendo parecer favorável do Senhor Ministro do Interior e da Segurança Geral. Que ouviu o seguinte testemunho de Napoleão III: “Tive a oportunidade de ler seus escritos com a imperatriz. É um homem sério, um cidadão estimado: podeis dar-lhe a permissão que solicita.”
Allan Kardec desencarnou na manhã de 31 de março de 1869, entre 11 horas e meio-dia. As descrições contidas nas páginas últimas do livro são emocionantes, historicamente reais. E Jean Prieur, ao seu todo, ressalta um Allan Kardec batalhador, plenamente comprometido com o Evangelho do Senhor Jesus, sempre pelejando por mais instruções para todos aqueles que desejam possuir a fraternidade universal como meta ultima de um processo civilizatório direcionado para a Luz Infinita.
POR QUÊ? O QUE NOS TORNA CURIOSOS
Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 252 p.
E buscaram responder algumas perguntas existentes no livro, esclarecendo as razões pelas quais a curiosidade é o ingrediente principal da criatividade em todos os ramos de vida, além de principal agente motivacional:
– As crianças são mais curiosas que os adultos?
– A curiosidade é um produto direto da seleção natural?
– Por que algumas questões aparentemente triviais nos deixam curiosos?
– Por que nos esforçamos tanto para decifrar os sussurros de uma conversa na mesa ao lado de um restaurante?
– Como a nossa mente escolhe os objetos de nossa curiosidade?
A leitura deste livro irresistível e muito divertido, muito poderá ampliar os hábitos de leitura e pesquisa de jovens e adultos que tremem diante de qualquer obstáculo cognitivo encontrado, acovardando-se e pondo tudo nas mãos do Criador, ampliando ignorâncias e complexos, provocando ingenuidades dos mais diferentes níveis, imaginando-se ainda os últimos da espécie.
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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social